Assembleia
Municipal de Lisboa recusa apreciar vendas de património
“Quanto
mais tempo a câmara demorar a responder, mais atrasadas ficam as
propostas”, avisa Helena Roseta
Inês Boaventura /
27-4-2016 / PÚBLICO
No final de Janeiro
de 2016 a câmara deveria ter apresentado o Regulamento do Património
e o plano de alienação de activos. “O prazo passou e eu fiz saber
à câmara que não agendaria uma série de propostas que já deram
entrada, nomeadamente hastas públicas”, afirmou Helena Roseta
A decisão é
assumida pela presidente da Assembleia Municipal de Lisboa e já foi
comunicada ao presidente da Câmara de Lisboa e ao vereador do
Património: a assembleia não discutirá propostas que visem a
alienação de terrenos e edifícios da autarquia enquanto não for
divulgado o “calendário da aprovação” do Regulamento do
Património e não for apresentada “a estratégia de gestão
patrimonial” do município.
A assembleia
municipal não tem facilitado a vida a Medina
Essas duas medidas
constavam de uma recomendação que foi apresentada por Helena
Roseta, presidente da assembleia municipal, em Outubro de 2015 e que
foi aprovada por maioria. No documento apontava-se o final do mês de
Janeiro de 2016 como o prazo para a apresentação da “previsão e
calendário de elaboração, debate público e apreciação” do
Regulamento do Património (cuja versão em vigor data de 1968) e do
“plano de alienação de activos não estratégicos” referido
pela câmara no seu orçamento para este ano.
“Esses prazos já
decorreram e eu fiz saber à câmara, ao senhor presidente e ao
senhor vereador do Património, que não agendaria uma série de
propostas que já deram entrada, nomeadamente hastas públicas”,
afirmou ontem Helena Roseta, numa reunião da assembleia municipal.
“Quanto mais tempo
a câmara demorar a responder à nossa recomendação, mais atrasadas
ficam as propostas que já deram entrada e que não irei agendar
enquanto a câmara não cumprir a recomendação”, avisou ainda a
autarca dos Cidadãos por Lisboa, eleita na lista do Partido
Socialista.
Em Outubro passado,
quando da discussão dessa recomendação, o PSD tinha proposto que a
câmara não alienasse qualquer património municipal ou adquirisse
novos activos até que a reformulação do Regulamento do Património
fosse discutida e aprovada pela assembleia. Na altura, essa ideia foi
rejeitada pelo PS, Cidadãos Por Lisboa, PCP, PEV e Parque das Nações
por Nós.
Ontem, e apesar da
decisão assumida publicamente pela presidente da assembleia
municipal, este órgão autárquico apreciou (e aprovou) duas
propostas relativas ao património do município: a desafectação do
domínio público para o domínio privado do município de três
parcelas de terreno em Carnide e o lançamento de uma hasta pública
para a constituição de um direito de superfície sobre um terreno
no Parque das Nações para a construção de um parque de
estacionamento subterrâneo.
Segundo Helena
Roseta, a decisão de agendar essas propostas foi discutida em
conferência de representantes, o órgão consultivo no qual têm
assento a mesa da assembleia, representantes de todas as forças
políticas e um vereador da câmara.
Essa explicação
não satisfez o social- democrata Victor Gonçalves, que se insurgiu
contra o facto de as duas propostas já referidas terem sido
apreciadas. “Nós ainda estamos à espera do Regulamento do
Património. Foi prometido à assembleia que esse relatório estaria
pronto até 31 de Dezembro e já estamos em fins de Abril”, começou
por afirmar o deputado.
“É inadmissível
que não se tente forçar o mais possível que esse regulamento seja
presente à assembleia. E uma forma eficaz de forçar que isso
aconteça é não admitir que seja alguma coisa aprovada”, continua
Victor Gonçalves, acrescentando que “quanto mais facilitarmos a
vida à câmara, mais tarde teremos o regulamento”.
Em resposta, o
vereador do Património informou que em Maio vão ser discutidos em
reunião camarária “o projecto de estratégia de gestão
sustentável do património municipal” e o “projecto de
Regulamento do Património”. Segundo Manuel Salgado, ambos os
documentos estão já concluídos.
Mas a realização
de hastas públicas para a alienação de terrenos e edifícios do
município não é a única matéria em que o trabalho desenvolvido
na assembleia municipal tem complicado a vida do executivo presidido
por Fernando Medina. Outro exemplo disso é o caso da torre de
Picoas, que se arrasta há vários meses e que muita tinta tem feito
correr.
A discussão do tema
estava agendada para ontem, mas acabou por ser adiada depois de o
Bloco de Esquerda ter apresentado um requerimento no qual pede que
ela seja suspensa até que o Ministério Público se pronuncie sobre
o assunto. O partido quer igualmente que se solicite um parecer à
procuradorageral da República no sentido de se perceber quais seriam
as consequências que teria, “na apreciação e na própria
caracterização do ilícito penal em causa”, o avanço deste
processo na assembleia municipal.
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