Salgado
admite “contradição” na venda de Palácio Braancamp mas rejeita
responsabilidades
”As
deliberações desta câmara são para seguir tal como está nos seus
textos deliberativos”, frisa Carlos Moura, do PCP
Inês Boaventura /
29-4-2016 / PÚBLICO
O vereador do
Urbanismo de Lisboa reconhece que existe “uma contradição”
entre a deliberação camarária que autorizou a alienação do
Palácio Braancamp e “as peças da hasta pública que foram
publicitadas”. Ainda assim, Manuel Salgado rejeita
responsabilidades na matéria.
Como o PÚBLICO
noticiou, o palácio no Bairro Alto foi vendido pela autarquia em
2009, por 2,4 milhões de euros. O problema é que na deliberação
n.º 150/2009 se dizia que o edifício era “destinado,
exclusivamente, ao uso de unidade hoteleira”, enquanto nas
condições gerais e especiais da hasta pública (aprovadas em
simultâneo com a proposta) se dizia apenas que, havendo “igualdade
de valores”, seria dada preferência ao candidato que desenvolvesse
“actividade no ramo hoteleiro”. Mas a câmara acabou por
autorizar que ali fosse feita uma creche.
Na reunião
camarária que se realizou quarta-feira, Manuel Salgado admitiu que
existe uma “incongruência”, “uma contradição entre as peças
da hasta pública, a partir das quais os particulares formaram a sua
vontade de contratar, e a parte deliberativa da Proposta n.º
150/2009”. Ainda assim, o vereador defendeu que “o que vincula os
particulares não é a proposta de câmara, mas sim as peças
escritas e desenhadas da hasta pública”, pelo que “não é
possível dizer que a alienação do Palácio Braancamp foi feita
exclusivamente para a construção de um hotel”.
O autarca alegou
ainda que à data do anúncio da hasta pública “o Departamento do
Património estava integrado na Direcção Municipal de Finanças”.
“E eu não tinha qualquer responsabilidade na matéria”,
concluiu.
Os argumentos do
vereador, que na declaração que fez classificou a notícia do
PÚBLICO como “objectivamente falsa e caluniosa”, não
convenceram, no entanto, o PCP. “O que votamos é aquilo que está
nas deliberações. Não são anexos, não são estudos”, frisou o
vereador Carlos Moura, acrescentando que Manuel Salgado “deveria
ser o primeiro a dizer que é condenável que não se tenham seguido
deliberações da câmara”. “As deliberações desta câmara são
para seguir tal como está nos seus textos deliberativos”, concluiu
o autarca.
O mesmo foi
defendido pelo vereador centrista João Gonçalves Pereira, que
deixou no ar uma pergunta: quantas terão sido as deliberações da
câmara que, tal como aconteceu com a alienação do Palácio
Braancamp, não foram cumpridas?
Na notícia do
PÚBLICO falava-se também no caso de um outro edifício, na Travessa
do Conde de Soure, contíguo ao palácio. Esse edifício foi alienado
pelo município em 2014 no âmbito do programa Reabilita Primeiro
Paga Depois, que como se lê no site da câmara “consiste na venda
de edifícios municipais devolutos, com obrigação de realização
de obras de reabilitação pelo adquirente, permitindo-se a este
diferir o pagamento do preço até ao termo do prazo contratual”.
Acontece que no ano seguinte à venda foi autorizada a demolição do
imóvel.
Sobre isto, Manuel
Salgado alegou que “no período que mediou entre a elaboração dos
elementos para a hasta pública e a sua realização verificouse
acentuada degradação do imóvel, confirmada em Junho de 2014 por
vistoria dos serviços, que alertaram para o risco de derrocada do
edifício”. De acordo com o vereador, a “ficha urbanística”
que previa a reabilitação do imóvel foi feita em Junho de 2013, um
ano antes da tal vistoria.
Mais uma vez, João
Gonçalves Pereira e Carlos Moura manifestaram dúvidas relativamente
às explicações dadas por Salgado, questionando como é possível
que o edifício tenha sido integrado no programa Reabilita Primeiro
Paga Depois e que o seu estado de degradação se tenha acentuado
tanto em tão pouco tempo.
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