Muita
solidariedade e uma “mão-cheia de nada” para os taxistas
MARIA JOÃO LOPES ,
MARIANA OLIVEIRA e SOFIA RODRIGUES 29/04/2016 - PÚBLICO
Anunciados
como os maiores protestos de sempre no sector, as marchas lentas
desta sexta-feira de taxistas contra a Uber não surtiram o efeito
desejado pelas associações. Houve menos carros que o esperado. E,
até ver, a Uber vai continuar a operar como até aqui.
As associações de
taxistas esperavam o maior protesto de sempre, mas a dimensão das
três marchas lentas realizadas nesta sexta-feira em Lisboa, no Porto
e em Faro ficou aquém das expectativas. E, como muitas vezes, nestas
ocasiões há números muito diferentes na soma dos balanços
realizados pela PSP e pelos organizadores: menos de dois mil táxis
em todo o país na versão dos primeiros, mais de cinco mil viaturas
na dos segundos.
A ordem de
desmobilização foi dada perto da hora do jantar, com o presidente
da Antral, Florêncio Almeida, a dizer-se medianamente satisfeito no
final da reunião com o secretário de Estado Adjunto e do Ambiente,
José Mendes, que basicamente concretizou uma iniciativa anunciada há
dias pelo ministro do Ambiente, Matos Fernandes: criar um grupo de
trabalho para analisar os transportes urbanos e melhorar a mobilidade
nas cidades.
Da reunião saíram
datas — Junho para o início dos trabalhos e final de Julho para a
apresentação de resultados preliminares — e uma nova reunião,
agendada para o próximo dia 6, mas nada de substancialmente novo. As
duas organizadoras dos protestos, a Antral e Federação Portuguesa
do Táxi (FPT), preferiram destacar que “a Uber não vai fazer
parte do grupo de trabalho”, uma hipótese que o Governo garante
nunca ter estado em cima da mesa.
E, assim, os
taxistas aceitaram voltar à mesa das negociações com o Governo
depois de se terem recusado há cerca de mês e meio a discutir um
pacote de 17 milhões de euros com incentivos financeiros para o
sector, considerando que o Executivo estava a comprá-los para
aceitarem a regulamentação da Uber, uma plataforma tecnológica que
liga clientes a condutores de automóveis que transportam
passageiros.
Na ordem dos
resultados, Florêncio Almeida põe as promessas do grupo parlamentar
do PS à frente das garantias do Governo. O dirigente realça que os
deputados do PS assumiram o compromisso de ouvir todas as entidades
que foram notificadas pelo tribunal para suspenderam a actividade da
aplicação tecnológica da Uber e perceber por que é que a
multinacional ainda consegue operar em Portugal.
No balanço do
protesto, Carlos Ramos, presidente da FPT, preferiu destacar as
garantias dadas pelo secretário de Estado, que prometeu que qualquer
operadora que venha a ser aceite no transporte de passageiros vai ter
que cumprir as mesmas exigências que os taxistas. E, com isto,
quer-se dizer que vão ter que ter motoristas e viaturas certificados
(o que exige a realização de exames médicos e de conhecimento),
com contratos de trabalho e a descontar para a Segurança Social.
Durante o dia, os
dirigentes da Antral e da FPT foram recebidos por três presidentes
de câmaras — Lisboa, Porto e Faro —, pelos grupos parlamentares,
pela chefe de gabinete do presidente da Assembleia da República,
pelos presidente e vice-presidente da comissão de Economia e, por
fim, pelo secretário de Estado Adjunto do Ambiente. Fizeram finca-pé
na Assembleia da República e não arredavam pé enquanto não
chegassem à fala com a tutela.
E os encontros no
Parlamento não correram como esperado pelos representantes das duas
associações. "Da minha parte, tenho que vos dizer que levo as
minhas mãos vazias, zero, nada", disse Florêncio Almeida
dirigindo-se aos taxistas. "Trouxemos uma mão cheia de nada",
acrescentou Carlos Ramos.
Em Lisboa e no
Porto, o trânsito ressentiu-se. Os carros que participaram na marcha
lenta dos taxistas começaram a concentrar-se por volta das 8h, em
Lisboa no Parque das Nações, e no Porto na rotunda do Castelo do
Queijo, atravessando depois as cidades até à Assembleia da
República e à Avenida dos Aliados. As palavras de ordem foram as
mesmas. “Uber ilegal é crime nacional” foi a frase mais ouvida.
Foi esta, aliás, a inscrição na faixa que colocaram frente à
escadaria da Assembleia da República, vedada por grades e vigiada
por agentes.
Em Lisboa, a PSP não
avançou com dados concretos, mas ao fim do dia falava em "algumas
centenas” de carros, que não chegavam “ao milhar". No
Porto, o comissário que comandou o policiamento musculado do
protesto contabilizava 400 táxis, enquanto em Faro se estimavam 120
viaturas a protestar. Números muito diferentes dos 3700 que Carlos
Ramos contabilizava em Lisboa e dos 1200 no Porto. Em Faro, o
dirigente admitia que o protesto ficara aquém das expectativas, que
apontavam para 500 viaturas. “Estiveram pouco mais de 200 táxis”,
contabilizava o presidente da FPT.
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