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Soluções
de estacionamento no Eixo Central não serenam moradores
INÊS BOAVENTURA
11/04/2016 - PÚBLICO
A
Câmara de Lisboa anunciou que vão ser disponibilizadas 165 avenças
em parques subterrâneos e prometeu reservar 68% dos lugares à
superfície na Av. da República para residentes.
Por 25 euros por
mês, os moradores na zona do Eixo Central, cuja obra de
requalificação deverá começar em Abril, vão pode deixar o seu
carro num parque de estacionamento subterrâneo privado. Segundo o
vereador do Urbanismo da Câmara de Lisboa, foi já fechado um acordo
para a disponibilização de 165 lugares.
O anúncio foi feito
esta segunda-feira numa sessão pública de esclarecimento sobre a
obra, que decorreu no Mercado 31 de Janeiro e que juntou cerca de 200
pessoas. O objectivo da sessão, convocada pela autarquia, era
debater “as questões do planeamento e faseamento da obra, do
estacionamento e dos condicionamentos de trânsito”.
Tal como aconteceu
em Outubro, num plenário sobre o mesmo tema convocado por duas
associações de moradores, os ânimos exaltaram-se. E não foi
preciso esperar muito: cerca de cinco minutos depois de a sessão ter
começado já se ouviam gritos e palavras de protesto da assistência,
que obrigaram o director do departamento de projectos de espaço
público a interromper a sua intervenção.
“Ou arranjam
outras instalações ou vamos embora”, gritou um dos presentes,
queixando-se do facto de não conseguir ver a apresentação que
estava a ser projectada. “Estamos aqui a perder o nosso tempo. Isto
assim não é nada”, atirou outro, enquanto um terceiro criticou o
facto de não terem sido previamente disponibilizadas as imagens que
estavam a ser exibidas.
Face aos protestos,
feitos de forma exaltada e cortando a palavra dos oradores, o
vereador do Urbanismo, do Espaço Público e das Obras Municipais
chegou mesmo a sugerir que a sessão fosse interrompida e remarcada
para um local onde todos conseguissem ver a projecção. Algo que só
não aconteceu porque a mesa junto à qual estavam sentados os
presidentes das juntas de freguesia de Arroios e das Avenidas Novas
foi rearrumada para que sobre ela fosse colocada a tela de projecção.
Situação
resolvida, a sessão prosseguiu, mas durante as horas que se seguiram
abundaram as críticas ao executivo camarário e ao projecto para o
Eixo Central, boa parte delas num tom agressivo e pouco cordato.
Como tem acontecido
sempre que é discutida a requalificação do Eixo Central, entre o
Marquês de Pombal e o Campo Pequeno, o estacionamento voltou a ser
uma das questões mais polémicas. Segundo dados anteriormente
divulgados pela câmara, com esta obra os lugares à superfície caem
de 619 para 319.
A esse nível, o
vereador Manuel Salgado anunciou esta segunda-feira que o município
chegou a acordo com operadores privados para que sejam reservados 165
lugares para moradores nos seus parques: “100 no parque do Campo
Pequeno, 50 no Picoas Plaza e 15 na Duque d’Ávila”.
Segundo o autarca, a
utilização mensal desses parques, por 24 horas por dia, terá um
custo de 25 euros. “Obviamente é uma tarifa que não é a mesma
que se pagaria na via pública, mas também não é a do mercado”,
afirmou, acrescentando que estão ainda em curso “negociações com
outra entidade que gere vários parque na zona” para que seja
possível ir além dos 165 lugares agora anunciados.
Além disso, Manuel
Salgado fez saber que 68% dos lugares de estacionamento à superfície
na Avenida da República serão reservados para os moradores.
As explicações da
câmara não convenceram muitos daqueles que assistiam à sessão.
“Onde é que eu ponho os miúdos pequenos enquanto vou estacionar o
carro? Deixo a minha mãe de 87 anos sozinha à porta?”, perguntou
um dos membros da assistência.
“Eu julgava que
iam fazer um parque por baixo, obviamente grátis para os moradores”,
reagiu outro, manifestando-se contra a opção de se criarem duas
ciclovias, por estas irem alegadamente traduzir-se na perda de
lugares de estacionamento.
Já o presidente da
Associação de Moradores das Avenidas Novas, José Soares, e o
vereador do CDS na Câmara de Lisboa, João Gonçalves Pereira,
consideraram excessivo o preço que vão ter as avenças para
residentes, quando comparadas com o valor do dístico anual da
Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa.
Também na
assistência estava o presidente do Automóvel Club de Portugal, que
considerou que este “é um projecto de conflitos”. “Contra quem
passa no Eixo Central, contra os carros e contra os moradores”,
afirmou Carlos Barbosa, que acusou a câmara de querer com esta obra
“embelezar mas sobretudo retirar carros da cidade”.
“As pessoas estão
aqui porque vão ser altamente prejudicadas por este projecto”,
disse o também deputado do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa,
que apelou ao “bom senso” do executivo presidido por Fernando
Medina.
Para outra moradora
da zona, avançar com este projecto significa “maltratar” os que
vivem nesta zona de Lisboa, e transformar a sua vida num “inferno”.
“Por favor não façam isto”, gritou a dada altura outro
munícipe, enquanto outro membro da assistência defendeu que seria
melhor “poupar” os 7,5 milhões de euros que vai custar esta
intervenção.
Pelo meio, o
vereador Manuel Salgado foi tentando passar a mensagem de que este é
um projecto que vai contribuir para tornar a capital “mais
saudável”, “mais sustentável”. “É claro que não queremos
prejudicar ninguém”, afirmou também, garantindo que esta obra
“não é contra o estacionamento, é a favor das pessoas” e que
“tudo” o que for ainda possível “aperfeiçoar” será
aperfeiçoado.
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Peixeirada
no mercado. Câmara promete 165 lugares de estacionamento aos
moradores das Avenidas Novas
Mais
uma reunião em Lisboa que durou mais de três horas, mais uma
reunião em que os moradores contestaram fortemente as intenções da
autarquia. A obra nas Avenidas Novas começa nas próximas semanas.
11/4/2016, João
Pedro Pincha / OBSERVADOR
Se não é recorde,
andará lá perto. Ainda não tinham decorrido nem dez minutos de
sessão pública de esclarecimento sobre as obras do eixo Marquês de
Pombal – Entrecampos e já havia pessoas da assistência a
protestar. A sessão promovida pela Câmara Municipal de Lisboa no
mercado 31 de Janeiro atraiu cerca de 200 moradores das Avenidas
Novas e muitos deles queixaram-se logo a início que não conseguiam
ver o PowerPoint que o vereador do Urbanismo trouxe para explicar os
trabalhos. Os ânimos exaltaram-se a tal ponto que Manuel Salgado
esteve para pôr termo ao debate ainda antes de ter começado. “A
reunião fica por aqui. Vamos marcar uma nova reunião.”
Convencido a ficar,
mas ainda sobre forte contestação popular, o vereador acabou por
anunciar uma das novidades da noite. A câmara “conseguiu já
fechar um acordo” com uma das empresas que gere parques de
estacionamento nesta zona, disse Manuel Salgado. Ao todo, a autarquia
assegura 165 lugares nestes parques aos moradores, 24 horas por dia,
por 25 euros/mês. O estacionamento é uma das principais
preocupações dos habitantes das avenidas Fontes Pereira de Melo e
da República, que devem entrar em obras no fim deste mês ou no
início do próximo — e cujo projeto prevê uma redução
significativa de lugares.
Os presentes no 31
de Janeiro não ficaram convencidos com a novidade do vereador,
alegando que o preço é incomportável (atualmente pagam 12 euros
por ano pelo dístico de residente) e que os parques propostos pela
câmara não servem. O acordo anunciado por Salgado contempla cem
lugares no parque do Campo Pequeno, 50 no Picoas Plaza e 15 num
parque da Duque de Ávila. E o preço proposto é “incomparavelmente
mais baixo do que qualquer uma das tarifas que se praticam” hoje em
dia, argumentou o vereador. “Julgava que iam fazer um parque que
seria grátis para os moradores”, disse um munícipe, admitindo que
já tem “cabelos brancos” com este tipo de projetos.
“Onde é que eu
ponho os miúdos pequenos para ir estacionar o carro? Deixo a minha
mãe doente, de 87 anos, à porta de casa enquanto vou procurar um
lugar?”, questionou outro morador. E Carlos Barbosa, presidente do
Automóvel Club de Portugal, acusou a câmara de apenas ter feito
este projeto “para tirar carros da cidade” e para “criar
conflitos”, tanto com os automóveis como com os moradores.
Nas poucas
intervenções que fez, Manuel Salgado lembrou sempre que este
projeto já foi discutido várias vezes. “Estas reuniões com os
moradores já começaram em 4 de dezembro de 2014”, disse o
vereador, recordando em particular um debate ainda mais aceso do que
este, em outubro do ano passado, em que se comprometeu com algumas
alterações ao projeto. Acusado de não ter feito “uma vírgula”
de mudanças pelo vereador do CDS, João Gonçalves Pereira, o
responsável pelo Urbanismo da câmara apresentou mais uma novidade.
Depois das obras, na Avenida da República, 68% dos 271 lugares de
estacionamento será exclusiva para moradores.
“Tudo o que
pudermos aperfeiçoar, aperfeiçoaremos”
Mesmo entre os
munícipes que destoaram da maioria e elogiaram o projeto, houve
dúvidas e preocupações com o estacionamento. Uma moradora, que à
semelhança dos restantes não se identificou, sublinhou que a ideia
da câmara — de aumentar as zonas pedonais e plantar mais árvores
ao longo das duas avenidas — vai trazer “melhorias para quem mora
aqui”, mas disse a Salgado que “tudo aquilo que está planeado
não se coaduna com o volume de tráfego em Lisboa”.
“O que pretendemos
é ordenar todo este espaço”, disse o vereador, para quem as obras
vão criar uma cidade “mais saudável” e “mais sustentável”.
Mas para o presidente da Associação de Moradores das Avenidas
Novas, José Soares, “este projeto não é suficiente” e carece
de mais debate. “Estão a confrontar-nos com uma solução final”,
gritou um dos presentes. Logo outro sugeriu “democracia popular”
e propôs um “voto de braço no ar”. Só que, com a empreitada já
lançada e adjudicada, muitos moradores acreditam que já não é
possível fazer qualquer alteração ao projeto. “Tudo o que
pudermos aperfeiçoar, aperfeiçoaremos”, disse apenas Salgado.
Orçados em sete
milhões de euros, os trabalhos têm a duração prevista de nove
meses. “Pensamos que até ao final de 2016 a obra esteja
concluída”, afirmou Manuel Salgado.
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