OFFSHORES
Portugueses
transferiram mais de 10.000 milhões para offshores entre 2010 e 2014
28-4-2016 /
OBSERVADOR
Portugueses
transferiram cerca de 10.200 milhões de euros para paraísos fiscais
entre 2010 e 2014, segundo dados do Fisco revelados pelo Público,
Particulares deram ordem de saída de 675,5 milhões.
Entre 2010 e 2014,
os contribuintes portugueses transferiram mais de 10 mil milhões de
euros para sociedades localizadas em zonas consideradas offshore. Os
dados da Autoridade Tributária e Aduaneira, divulgados esta
quinta-feira pelo jornal Público, mostram que nestes cinco anos as
transferências atingiram cerca de 10.200 mil milhões de euros. Só
no ano de 2011, quando Portugal pediu a ajuda internacional, saíram
mais de 4.000 milhões de euros para territórios classificados como
de tributação privilegiada.
O maior montante de
transferências foi feito por empresas, mais de 9.500 milhões de
euros. Os dados relativos a contribuintes singulares apontam para uma
saída de 675,5 milhões de euros. Segundo o jornal Público, estes
números foram recolhidos pelo Fisco a partir de informação
reportada pelos bancos, no quadro da declaração Modelo 38 que
obriga estas entidades e comunicarem à administração fiscal, por
via eletrónica, as transferências realizadas por ordem de pessoas
individuais e coletivas.
Estes montantes
correspondem às saídas declaradas, deixando de fora as
transferências que não realizadas à margem das regras. A
Administração Tributária realiza ações de controlo sobre estes
montantes, podendo vir a abrir investigações.
Estes dados são
conhecidos no quadro da polémica internacional sobre offshores
lançada pela investigação do Consórcio Internacional de
Jornalistas de Investigação conhecida como Panama Papers. Ontem, o
jornal Expresso adiantava que as entidades públicas portuguesas
tinham 167 milhões de dólares aplicados em offshores, com base em
contas feitas a partir de dados do Fundo Monetário Internacional. O
secretário de Estado do Tesouro e Finanças, Ricardo Mourinho Félix,
tinha afirmado no Parlamento desconhecer as aplicações de entidades
públicas em paraísos fiscais.
O Bloco de Esquerda
já exigiu ao governo que revele toda a informação sobre aplicações
do Estado em paraísos fiscais.
Bloco
exige ao Governo que revele contas offshore do Estado
27/4/2016,
OBSERVADOR
No dia em que
apresentou nove medidas com o objetivo de travar a fuga indevida de
capitais para regimes offshore, o Bloco exigiu ao Governo que
esclareça se existem ou não offshores no Estado.
O Bloco de Esquerda
apresentou, esta quarta-feira, um requerimento onde exige ao Governo
que esclareça se há ou não empresas ou sociedades do Estado a
realizarem operações através de contas offshore. Se existirem,
como desconfiam os bloquistas, o Governo deve tomar “as diligências
necessárias para que todas as operações sejam encerradas“.
Esta não é
primeira vez que o Bloco de Esquerda levanta o problema de existirem
contas offshore detidas por empresas do universo do Estado. Os
bloquistas lembram, inclusive, que já em 2008 o FMI deu conta da
existência de “151 milhões de euros aplicados em offshores” no
“perímetro do Estado português”. Ou mesmo que a Caixa Geral de
Depósitos, de acordo com o relatório e contas de 2014, detém
sucursais nas Ilhas Caimão e no offshore de Macau.
Nessa linha, o Bloco
pergunta agora ao Governo socialista se tem conhecimento da
existência desta realidade, se sabe que instituições ou empresas
detêm aplicações financeiras em regimes offshore e se tem
conhecimento dos montantes aplicados nestes regimes. “Não somos
voluntaristas. Não achamos simplesmente que podemos acabar com os
offshores. [Mas devemos exigir] regras de transparência e disciplina
ao nosso Estado. Não pode ser o Estado a promover a existência de
offshores“, afirmou Mariana Mortágua, no Parlamento.
Paralelamente, os
bloquistas decidiram apresentar nove medidas para “apertar a malha”
à fuga indevida de capitais para espaços com regimes tributários
mais favoráveis ou com regras de transparência “opacas”. A
começar pela Zona Franca da Madeira. Mesmo lembrando que a “Madeira
não é equiparável ao Panamá”, o Bloco de Esquerda quer
“condicionar os incentivos fiscais existentes no Regime aplicável
às entidades sedeadas na Zona Franca da Madeira” e limitá-los às
empresas que efetivamente criem “postos de trabalho estáveis e a
tempo inteiro”. Esses mesmos incentivos fiscais devem estar
restringidos à atividade empresarial, acabando, por isso, “com a
isenção de impostos na distribuição de rendimentos aos
acionistas”.
“O atual regime
continua a atrair empresas que apenas usam um qualquer código postal
madeirense para usufruir de benefícios fiscais e não empregam uma
única pessoa. É uma desculpa para dar borlas fiscais a empresas que
mais não fazem do abusar do regime fiscal da Madeira”, sublinhou
Mariana Mortágua.
Numa outra medida —
no total são sete projetos de lei, que se traduzem em nove medidas
concretas — os bloquistas exigem a “obrigatoriedade de registo e
comunicação ao Banco de Portugal dos beneficiários efetivos de
participações superiores a 2% em instituições financeiras a
operar em Portugal”. O objetivo é garantir que “não há
acionistas escondidos em instituições financeiras”, explicou
Mortágua.
O Bloco quer ainda
redefinir juridicamente o conceito de “beneficiário efetivo” e
“sociedade-mãe” para garantir que as empresas e sociedades que
efetivamente operam em Portugal paguem os seus impostos em Portugal e
não noutros países. A ideia é travar exemplos como a “Jerónimo
Martins, a Sonae e muitas empresas do PSI20” que, operando em
maioritariamente em Portugal, “têm sedes fiscais na Holanda para
pagarem menos impostos”.
O partido coordenado
por Catarina Martins pede também o fim dos “valores mobiliários
ao portador” para que seja possível descortinar quem, de facto, é
o dono do dinheiro que está a circular. Além disso, exigem a
aplicação de regras claras que impeçam as transações em dinheiro
de valores acima dos 10 mil euros, para permitir que seja possível
rastrear eletronicamente a origem e o destinatário final dos
pagamentos.
Em matéria de
fiscalização e acompanhamento de todas as operações realizadas
com offshores, o Bloco defende que as empresas que recorram a estes
regimes devem comunicar cada transferência ao Banco de Portugal e à
Autoridade Tributária. Mais: exigem a “proibição e quaisquer
operações com offshores não cooperantes”. Ou seja, qualquer
empresa ou sociedade passa a estar impedida de realizar operações
com regimes integrados na lista negra dos offshores.
A terminar, os
bloquistas querem ainda que o Governo transponha para a lei nacional
a diretiva já aprovada pelo Parlamento e pelo Conselho Europeu
“relativa à prevenção da utilização do sistema financeiro para
efeitos de branqueamento de capitais ou de financiamento do
terrorismo, no prazo de seis meses”.
Desafiada a
esclarecer se o Bloco tinha ou não concertado com o PS alguma destas
medidas, Mariana Mortágua lembrou que muitas destas propostas já
foram discutidas no Parlamento e que contaram com a aprovação (ou
abstenção) dos socialistas. Agora, não deverá ser diferente.
“Estamos seguros da abertura do PS para negociar e aprovar estas
medidas”, afirmou Mariana Mortágua, lembrando, ainda assim, que o
objetivo do Bloco “não é apresentar medidas fechadas. É iniciar
um debate a partir de um repto que existe na sociedade depois do
escândalo do Panamá”.
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