Turismo
e petróleo não fazem parte da mesma equação
Por
maiores que sejam os silêncios e as omissões, a opção de
viabilizar as perfurações na costa vicentina é um retrocesso para
o desenvolvimento local e para o sentido político da governação
nacional.
9 de Fevereiro de
2017, 6:21
As opções
políticas devem ser fundamentadas e ser inteligíveis pelos
cidadãos. A governação deve ser coerente com os compromissos
políticos assumidos em matéria de grandes opções estratégicas
nos programas eleitorais e de governo. Não faz sentido entronizar o
turismo como vocação, colocá-lo como motor do crescimento
económico e, ao mesmo tempo, ser complacente ou autorizar
iniciativas incompatíveis com a sustentabilidade, a preservação
ambiental e a valorização do território e da orla costeira.
Há uma
incompatibilidade evidente entre o esforço local de valorização do
território e de afirmação do turismo de natureza, em complemento
ao tradicional sol e praia, e a viabilização do primeiro furo em
águas profundas, na bacia do Alentejo, ao largo de Aljezur e de
todas as áreas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa
Vicentina.
Há uma incoerência
entre o investimento do Estado e das autarquias nos programas Polis
ou as limitações impostas aos pescadores e aos mariscadores e a
decisão de viabilizar a prospeção de petróleo num mar que
queremos valorizar como pilar da nossa economia com equilíbrio e
sustentabilidade.
Não cola com o
preconizado investimento em energias limpas da Agenda para a Década
ou com a adesão ao Ano Internacional do Turismo Sustentável para o
Desenvolvimento, iniciativa da Assembleia Geral das Nações Unidas e
da Organização Mundial do Turismo, a eventual concretização da
ameaça que impende sobre o Algarve e parte da costa alentejana.
ão colhem os
argumentos de que no passado se fez muita coisa ou que se deixou de
fazer. Estamos a falar do presente e do futuro. De um presente em que
o turismo é uma alavanca fundamental para a economia do país, em
que o Algarve e o Alentejo têm um papel importante na afirmação de
Portugal como destino turístico. E de um futuro que se constrói com
estratégias locais para as alterações climáticas, como fazemos em
Loulé, com a requalificação e a preservação do território e com
a sustentabilidade das opções políticas.
Quando se fala tanto
de participação como um elemento fundamental para a dinamização
da democracia representativa, não se pode desconsiderar a
mobilização das 43 mil pessoas que participaram na audição
pública sobre esta questão, a posição das autarquias locais e o
amplo consenso social e político gerado na oposição às
perfurações, que a recente posição da AMAL-Comunidade
Intermunicipal do Algarve reforçou.
Como autarcas,
próximos das populações e dos territórios, temos bem a perceção
de que nunca é tarde para fazer o que é certo. Seja corrigir algum
erro ou a orientação de uma medida de política, seja superar uma
injustiça ou desigualdade.
Portugal está a dar
cartas no turismo e quer continuar a crescer. Portugal está a dar
cartas nas energias renováveis e nas opções sustentáveis que
geram respostas limpas e sustentáveis para as necessidades da
economia e das comunidades. Portugal está a marcar uma posição de
liderança nas novas tecnologias, na inovação e na indústria 4.0.
Num momento em que
são evidentes as marcas de uma atitude com os olhos postos no
futuro, qual a razão para perturbar o esforço de afirmação do
turismo com uma opção política por uma fonte de combustível
fóssil?
Por maiores que
sejam os silêncios e as omissões, a opção de viabilizar as
perfurações na costa vicentina é um retrocesso para o
desenvolvimento local e para o sentido político da governação
nacional. Por muitas voltas que se procurem dar, turismo e petróleo
não fazem parte da mesma equação.
Continuaremos firmes
na concretização de uma estratégia de desenvolvimento local e
regional, assente num turismo sustentável para o desenvolvimento, em
que a preservação do mar, da orla costeira, da superfície
terrestre e da natureza são parte integrantes da oferta turística
do Algarve e da costa vicentina.
É esse o imperativo
da construção de soluções sustentáveis: não decidir em função
de opções retrógradas, sem futuro.
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