quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Pilaretes são a resposta inevitável à falta de civismo dos automobilistas, diz Medina




Pilaretes são a resposta inevitável à falta de civismo dos automobilistas, diz Medina
POR O CORVO • 23 FEVEREIRO, 2017 •

“É impossível termos soluções adequadas, quando estamos confrontados com baixos níveis de civismo. A colocação de pilaretes junto a passadeiras é intencional e tem acontecido em várias zonas da cidade, infelizmente, devido à falta de civismo dos automobilistas”. Fernando Medina (PS) está incomodado com o facto de muitos condutores aproveitarem o rebaixamento dos passeios, em muitas obras de requalificação do espaço público da capital, para repetirem o velho hábito de estacionarem em áreas pedonais. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) confessa-se “perplexo” com o que, nos últimos tempos, tem observado em diversos locais sujeitos a intervenções de reabilitação. Acha, por isso, que a colocação de pilaretes é a única forma de proteger quem circula a pé.

“O que se constatou foi que o rebaixamento de passadeiras e a retirada de pilaretes foi utilizado por muitos, com total falta de civismo para com os outros, para passar a usar os passeios como parque de estacionamento. Assisti a isto em várias zonas da cidade, à medida que as obras ficavam concluídas. É o caso da Miguel Torga, em Campo de Ourique, das Avenidas Novas, na Rua Viriato ou na Rua Andrade Corvo. E fiquei perplexo”, afirmou Medina, na última sessão pública do executivo camarário, realizada na tarde desta quarta-feira (22 de fevereiro). O presidente da autarquia respondia a uma interpelação sobre o tema, feita pelo vereador Carlos Moura (PCP), a propósito de uma recente obra de reabilitação do espaço público em Campolide – executada no âmbito do programa municipal Uma Praça em Cada Bairro -, em relação à qual o eleito comunista censurava a colocação de pilaretes junto a passadeiras.

Concedendo razão a Carlos Moura, o chefe do executivo camarário admitiu mesmo que a aplicação de tal peça de mobiliário urbano “reduz algum do impacto da solução original” subjacente ao projecto urbanístico de cada intervenção. “Confesso que não conseguimos fazer melhor, porque a alternativa ao pilarete é ter lá um automóvel em cima do passeio. Não conheço nenhuma grande capital europeia que tenha o número de pilaretes que tem Lisboa. E isto só resulta da falta de respeito pelo espaço público dos automobilistas. Enquanto não houver uma mudança cultural, não se vai mudar isto. Não é possível imaginar que, para cada automobilista, há um polícia”, afirmou o presidente da câmara.

Fernando Medina vê, por causa disso, os pequenos postes metálicos como um mal menor, tendo em conta o objectivo mais importante de libertação do espaço público para o usufruto das pessoas. “O número de pilaretes na cidade está na directa proporção daquilo que ainda temos de caminhar do ponto de vista do civismo na cidade de Lisboa. Não há qualquer fiscalização que substitua o comportamento cívico”, afirmou o autarca, já depois de informar os presentes na reunião de que está a estudar, em conjunto com o vereador Manuel Salgado, a possibilidade de colocação de pilaretes – alguns deles rebatíveis – na recém-inaugurada intervenção do espaço público do Eixo Central. “Na renovada Avenida da República, há várias situações de estacionamento abusivo em zonas de cargas e descargas e em zonas onde é proibido”, disse.

O presidente da câmara confidenciou que ainda acalenta a possibilidade de não vir a recorrer ao referido dispositivo, mas denotou algum cepticismo quanto a tal possibilidade. “Estamos a tentar, com policiamento e consciencialização, ser bem sucedidos. Vamos consegui-lo? Não sei. Gostava muito que sim, para invertermos o que estamos a ter”, afirmou, lamentando que também no Largo do Corpo Santo, cuja recente reabilitação aguarda a inauguração, já se esteja a padecer do mesmo mal. “As pessoas estacionam em zonas pedonais, para irem aos bares”, queixa-se. “Quem me dera não ser necessário recorrer aos pilaretes em cada rua. Deixávamos de ter um cenário atroz e ainda deixávamos de gastar tanto dinheiro”, diz Medina.

Na intervenção inicial, que motivara a longa justificação da opção pelo pilarete por parte do presidente da CML, o vereador Carlos Moura apontou os defeitos da empreitada em Campolide nessa matéria. O eleito comunista recorreu mesmo a uma apresentação fotográfica para denunciar que “em todas as passadeiras que foram rebaixadas se encontram situações de pilaretes colocados nos seus eixos e muito próximos entre si, perdendo-se assim todas as vantagens para a circulação e mobilidade dos deficientes e das pessoas mais idosas”. Carlos Moura fez notar ainda que aquelas eram áreas “onde nunca se registou a subida de carros para cima dos passeios, pelo que é altamente questionável a necessidade destes pilaretes”.


Texto: Samuel Alemão

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