Até
à Feira da Ladra se foram buscar pedacinhos do pavilhão Carlos
Lopes
Cerca
de 300 peças do campeão olímpico vão estar em exposição
permanente. Um ano e 8 milhões de euros depois, pavilhão está
preparado para ser palco de eventos culturais, congressos e
exposições.
MARGARIDA DAVID
CARDOSO 18 de Fevereiro de 2017, 8:18
Foram pintadas as
paredes, reforçadas as fachadas, reunidos e restaurados os azulejos
— centenas deles encontrados na Feira da Ladra. Tudo devolvido ao
Pavilhão Carlos Lopes. 14 anos depois de ter sido dotado ao
abandono, o pavilhão reabre hoje após um ano de obras de
reabilitação que trouxeram de volta “a dignidade ao espaço”,
encerrado desde 2013 por falta de condições de segurança. Di-lo
Vítor Costa, director-geral da Associação de Turismo de Lisboa
(ATL), entidade encarregada da reabilitação.
As fachadas
mantêm-se brancas e amarelas. Dentro, todas as paredes são também
da cor da cal. Na quinta-feira, quando o PÚBLICO visitou o espaço,
colocavam-se as últimas peças de um enorme puzzle de azulejos em
tons de azul. Todos restaurados manualmente por artesãos de Viana do
Castelo. Os mesmos que refizeram os ornamentos das paredes e das
colunas do edifício.
Desde 2013, foram
estudados vários usos para o espaço. Esteve em cima da mesa a
criação de um museu do desporto ou centro de congressos. Nenhuma
avançou. Agora o Pavilhão Carlos Lopes é, no verdadeiro sentido da
palavra, um pavilhão multiusos: preparado para receber eventos
culturais e corporativos, congressos e exposições. Na agenda está
a próxima edição do festival gastronómico Peixe em Lisboa, nos
dias 30 de Março a 9 de Abril, e a Moda Lisboa, em Outubro.
Tem cinco foyers
(átrios juntos às escadas), um salão nobre e uma sala de eventos
com capacidade para dois mil lugares sentados. Esta última, a sala
principal do pavilhão, foi a mais intervencionada com vista à sua
modernização: desapareceram as antigas bancadas, assim como o piso.
“Estavam num estado muito avançado de degradação. Estava tudo
muito próximo de cair”, refere Vítor Costa. O tecto, até então
de amianto, foi substituído.
“Foram
introduzidas na sala condições de segurança, de acesso a
deficientes, ventilação e acústica. Hoje está preparada para
receber vários tipos de eventos”, prossegue o director-geral da
ATL. É nesta sala que tem lugar, este sábado, a cerimónia de
reabertura, com o primeiro-ministro, António Costa, e o presidente
da Câmara de Lisboa, Fernando Medina.
O que não quer
dizer que não haja espaço para o desporto: o pavilhão tem
balneários e cabines de árbitros prontos para voltar ao activo. O
espaço está ainda dotado com salas de apoio e espaço para
catering.
Também a melhoria
da acessibilidade foi uma das prioridades. O edifício tem novos
acessos e caminhos pedonais recuperados que o “aproximam do parque
e da Avenida.” Há escadas, incluindo rolantes, pela Avenida
Sidónio Pais, junto à estação de metro, e para o Parque Eduardo
VII. Desapareceu, ainda, o parque de estacionamento que separava o
pavilhão do parque.
Obra de 8 milhões
de euros
Desde este domingo
até 19 de Março, o pavilhão está de portas abertas aos
visitantes. Em exposição permanente estão cerca de 300 peças do
campeão olímpico que dá nome ao pavilhão, entre as quais os seus
troféus e medalhas. A entrada é livre.
A intenção da ATL
é depois “explorar comercialmente” as várias salas do pavilhão,
alugando-os para eventos. Já esta quinta-feira, os associados da
Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação
Turística e Eventos (Apecate) visitaram o espaço.
Ainda assim, o
director-geral da ATL afirma que o objectivo primeiro desta
requalificação foi a “preservação da memória histórica do
espaço”. Falamos de um pavilhão com a particularidade de ter
cruzado o Atlântico. Erguido no Brasil para a Grande Exposição
Internacional do Rio de Janeiro no início dos anos 20, foi
reconstruído mais tarde em Lisboa. Em Outubro de 1932 abria portas
como Palácio das Exposições, desta feita para a Grande Exposição
Industrial Portuguesa. Quinze anos depois foi adaptado para receber
eventos desportivos.
A ligação ao
desporto começou aí, com Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins
de 1947. Em 1984 mudava de nome, em homenagem ao campeão olímpico.
As obras custaram à
ATL perto de 8 milhões de euros — meio milhão a menos que o
previsto, salienta Vítor Costa. Mais de metade (56%) deste valor foi
financiado pelas contrapartidas iniciais do Casino de Lisboa. Já no
decreto-lei de 2003, que permitiu a instalação do casino em Lisboa,
se previa a entrega de 4,6 milhões de euros para as futuras obras do
Pavilhão Carlos Lopes. Estas verbas foram atribuídas à Turismo de
Portugal e alocadas para a obra de recuperação, 14 anos depois.
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