Marcelo
justifica manutenção de Centeno com Bruxelas e lição de Vítor
Gaspar
No
aniversário da TVI, Marcelo justificou nota sobre Centeno com a
“estabilização financeira” e com a lição de 2013, quando
Vítor Gaspar se demitiu. E reconheceu ter ficado surpreendido com a
resistência da “geringonça”.
Leonete Botelho
LEONETE BOTELHO 20
de Fevereiro de 2017, 21:46
Foi a pensar no
calendário que se aproxima em matéria de estabilização
financeira, sobretudo a decisão de Bruxelas sobre a saída de
Portugal do procedimento por défice excessivo, que o Presidente da
República se “atravessou” pelo ministro das Finanças no caso da
Caixa Geral de Depósitos. Mas também por ter em mente o que
aconteceu em 2013, quando Vítor Gaspar se demitiu daquele cargo e a
crise política que se seguiu.
Isso mesmo
reconheceu Marcelo Rebelo de Sousa nesta segunda-feira, na TVI, onde
esteve como convidado especial em dia de aniversário, a fazer uma
espécie de balanço de um ano em Belém. O formato da conversa
passava pela avaliação de quatro comentadores da estação de
Queluz e pela resposta do chefe de Estado. O caso Centeno/CGD
atravessou toda a conversa.
"
Uma das linhas
críticas dos comentadores – José Miguel Júdice, Manuela Ferreira
Leite, Fernando Medina e Constança Cunha e Sá – à actuação
presidencial foi a da sobre-exposição, com Marcelo a reconhecer que
fala muito nos domínios que elegeu como fundamentais na sua acção:
estabilidade política, concertação social, cumprimento de
compromissos, trajectória do défice e consolidação do sistema
bancário. Nessas áreas, reconhece que intervém “para prevenir
conflitos e ajudar num determinado sentido”.
Por isso reconheceu
ter-se atravessado, por exemplo, na concertação social. Também se
atravessou por Mário Centeno? –, perguntou José Alberto Carvalho.
“Atravesso-me por aquilo que em cada momento me parece
fundamental”, respondeu o chefe de Estado, insistindo que “sobre
esse episódio o Presidente tomou uma decisão a pensar no interesse
nacional”.
Lembrou que, daqui a
um mês, o Eurostat vai avaliar as contas de Portugal e depois haverá
uma decisão da Comissão Europeia sobre a saída do Procedimento por
Défice Excessivo, ao mesmo tempo que está por cumprir a
recapitalização da CGD. “Há um conjunto de preocupações que o
Presidente tem”, “há muita coisa na cabeça quando se fala de
estabilização financeira”, afirmou.
Mas há mais: a
lição da demissão de Vítor Gaspar que Marcelo fez questão de
lembrar. “Em 2013, num contexto muito menos agitado, o ministro das
Finanças pediu a demissão” e isso desencadeou uma crise política
– lembrou –, pois isso “originou a demissão” do Governo do
líder do CDS, obrigou o Presidente Cavaco Silva a chamar a terreiro
o líder do maior partido da oposição e, por fim, levou a uma
remodelação governamental. Marcelo não disse, mas tudo isso
aconteceu num contexto de maioria absoluta no Parlamento, que hoje
não existe.
“Ninguém
esperaria ver o Presidente Cavaco ou Eanes a tirar selfies…”Vídeo
“Ninguém
esperaria ver o Presidente Cavaco ou Eanes a tirar selfies…”
O que garantiu foi
que, “no que toca ao Presidente, o assunto está encerrado”,
mesmo que os SMS entre Mário Centeno e António Domingues sejam
comprometedores para o ministro. “Há razões ponderosas para
aceitar a posição do primeiro-ministro” em defesa do titular das
Finanças, afirmou Marcelo, sublinhando que tal está dentro dos seus
poderes constitucionais.
Mas sabia de tudo
desde o princípio, perguntou Judite de Sousa. Marcelo recorda as
notas que escreveu em Junho e em Novembro, mas já não teve tempo
para falar do que aconteceu depois.
Antes, já tinha
tido tempo para reconhecer que ficou surpreendido com a resiliência
da “geringonça”: “Não pensei que conseguisse cumprir os
compromissos, que conseguisse manter a trajectória do défice e não
pensava que era tão resistente como se mostrou”.
Marcelo confessou
que, neste primeiro ano, teve “momentos muito complicados”, desde
o início do mandato: “Logo nos dois primeiros meses, a questão
era se dissolvia ou não o Parlamento, depois era a aprovação do
primeiro Orçamento, depois a do segundo Orçamento, depois a
concertação social… Aprendi a relativizar as questões”.
Sobre a proximidade
e os afectos, outra das notas sublinhadas pelos comentadores, Marcelo
reconheceu que esse aspecto da sua actuação “tem custos físicos
e psicológicos”. E contabilizou que, nos últimos três dias em
que andou pelo Norte, tirou mais de 1500 “selfies” e cumprimentou
“três a quatro mil pessoas”. E isso também cansa.
À chegada, Marcelo
Rebelo de Sousa foi questionado sobre o seu primeiro ano de mandato:
“Foi um ano longo, com muito trabalho e muitas preocupações mas
cumpriu a missão fundamental: pacificar, cicatrizar feridas, menor
conflitualidade social, conseguir uma relação boa com parceiros
internacionais”. Saudades? “É mais fácil comentar que ser
Presidente”, e sim, “saudades do que é mais fácil”.
As
razões de Marcelo para segurar Centeno
20.02.2017
às 22h04
Marcelo
Rebelo de Sousa comparou a eventual demissão do ministro das
Finanças à crise de 2013 quando Vítor Gaspar deixou o Governo
O presidente da
República esclareceu esta segunda-feira ter querido evitar crise
política similar à de 2013, após demissão do então Ministro das
Finanças, referindo-se à polémica entre Mário Centeno e a
anterior administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
Numa visita às
instalações da aniversariante TVI, em Queluz de Baixo, Marcelo
Rebelo de Sousa afirmou que terá o mesmo comportamento de apoio ao
executivo, qualquer que ele seja, embora reconhecendo ter ficado
surpreendido pela resiliência dos atuais acordos bilaterais entre PS
e BE, PCP e "Os Verdes".
"Para o
Presidente, [o assunto] está fechado. Tomou uma decisão a pensar no
interesse nacional. Daqui a um mês temos a saída dos números do
Eurostat (gabinete estatístico da União Europeia) do ano anterior,
logo a seguir, uma decisão importante da Comissão Europeia sobre a
saída ou não do Processo por Défice Excessivo, que vai ao Conselho
[Europeu], entretanto a operação importante de recapitalização da
CGD (...) um conjunto de decisões fundamentais para a estabilidade
financeira no futuro próximo", justificou.
Rebelo de Sousa
respondia a avaliações do seu primeiro ano de mandato por parte de
comentadores como Manuela Ferreira Leite, ex-presidente do PSD,
Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o
advogado José Miguel Júdice e a jornalista Constança Cunha e Sá.
"Em 2013, num
contexto menos agitado, o Ministro das Finanças [Vítor Gaspar]
pediu a demissão. Isso provocou a demissão do líder do segundo
partido do Governo [Paulo Portas]. Uma tentativa do Presidente,
Cavaco Silva, de tentar chegar a acordo com o líder da oposição
[António José Seguro], que se frustrou. Um longo período de crise
na recomposição do Governo e o eco nos mercados financeiros",
descreveu.
Mais tarde,
novamente confrontado com o assunto, Rebelo de Sousa voltou a referir
"razões ponderosas de interesse nacional para ter aceite a
posição do primeiro-ministro [António Costa] em termos de
exercício de funções do Ministro das Finanças [Mário Centeno]",
mas admitiu que "ficou claro que não foi assim, assim e assim",
como o Presidente da República tinha dito que devia ser, apesar de a
sua posição ter ficado "clara".
"Apoio este
Governo como apoiarei qualquer Governo durante o meu mandato,
[aquele] que os portugueses venham a eleger nas próximas
legislativas. É um dever constitucional do Presidente da República
criar todas as condições para o Governo poder realizar as suas
metas", garantiu, confrontado com alegada proximidade do
executivo socialista.
Para o chefe de
Estado, as únicas condições que impõe são as prioridades que o
próprio apresentou na campanha eleitoral: "estabilidade
política", "consolidação do sistema financeiro",
"compromissos internacionais", nomeadamente o défice
público, e a "concertação social".
"Hoje, o
Governo é presidido por António Costa. Amanhã é presidido por ele
ou Passos Coelho, qualquer primeiro-ministro, é meu dever fazer o
mesmo que faço agora", vincou.
Ainda na inauguração
do novo estúdio e grafismo da TVI, por ocasião do 24.º aniversário
da estação televisiva de Queluz de Baixo, Rebelo de Sousa afirmou
que, quando iniciou o mandato, nos primeiros meses, "a dúvida
era 'dissolve, não dissolve o parlamento, se passa ou não o
Orçamento do Estado", relativamente à nova solução política,
a denominada "geringonça".
"Fiquei
surpreendido. Quando entrei, não pensei que conseguisse cumprir os
compromissos internacionais, que cumprisse a trajetória do défice
e, também, francamente lhe digo, que não pensei que fosse tão
resistente como se mostrou ao longo deste ano", declarou.
Sem comentários:
Enviar um comentário