quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Governo rejeita rever o Acordo Ortográfico / A nova ortografia vai nua? Vistam-na, depressa! /Proposta de alteração ao Acordo Ortográfico - comentário Miguel Sousa Ta...



Proposta de alteração ao Acordo Ortográfico - comentário Miguel Sousa Tavares - SIC



Governo rejeita rever o Acordo Ortográfico
Ministro dos Negócios Estrangeiros recusou-se comentar a proposta da Academia de Ciências sobre o acordo

07 DE FEVEREIRO DE 2017
20:05
Lusa/DN

O ministro dos Negócios Estrangeiros português afastou hoje a possibilidade de revisão do Acordo Ortográfico, referindo que está em vigor em Portugal e que falta ser aplicado pelos países onde a ratificação ainda está em curso.

"O momento em que estamos do processo de implementação do Acordo Ortográfico é este momento: para países como Portugal, Brasil e outros, está em vigor; noutros países que o aprovaram, o processo de ratificação ainda está em curso", disse hoje Augusto Santos Silva, à margem da apresentação da plataforma "Português Mais Perto".

O chefe da diplomacia portuguesa referia-se a Angola e Moçambique, que ainda não ratificaram o acordo ortográfico, em vigor em Portugal, Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

"A nossa posição é que devemos aguardar serenamente para que o processo de ratificação seja concluído para que o acordo possa entrar em vigor em todos os países que o assinaram e o aprovaram", afirmou o ministro, quando questionado sobre a revisão do acordo ortográfico de 1990 (AO90), proposta pela Academia de Ciências de Lisboa (ACL).

Interrogado se o Governo aceitará as "sugestões de aperfeiçoamento" do acordo, Santos Silva respondeu: "Não tenho mais nada a dizer".

"O Acordo Ortográfico está em vigor em Portugal, é um acordo internacional que obriga o Estado português", referiu o ministro, acrescentando que "evidentemente que nada está isento nem de crítica nem de possibilidade de melhoria".


A Academia de Ciências de Lisboa aprovou um documento com "Sugestões para o aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa" de 1990, propondo o regresso de consoantes mudas, do acento gráfico, em alguns vocábulos, do circunflexo, noutros, assim como do hífen.


A nova ortografia vai nua? Vistam-na, depressa!
Depois de a Academia vir a terreiro dizer “o rei vai nu” já não é possível fingir que nada se passa.

NUNO PACHECO
8 de Fevereiro de 2017, 6:10

Provavelmente nenhum outro país, como Portugal, é tão cioso de querelas ortográficas. As línguas com maior difusão no planeta lidam com o tema de forma simples: aceitam as suas diversidades e seguem adiante. Isso sucede com o Inglês, o Francês ou o Espanhol, sendo que, no caso dos dois últimos, as respectivas academias não se coíbem de propor alterações, mas meramente indicativas.

Os acordos ortográficos são, também, uma originalidade nossa. Depois da revolucionária reforma de 1911, feita a pretexto de “simplificar” a escrita e o ensino, veio o AO de 1945 e, por fim, o AO de 1990 (ressuscitado em 2006 para ser depois imposto em 2011). Pelo meio, houve várias alterações e mexidas de pormenor e tentativas abortadas de fazer outros acordos, alguns até bastante radicais (o de 1986, por exemplo, abolia quase todos os acentos e criava palavras absolutamente ininteligíveis).

Chegámos a 2017 com um quadro muito pouco animador: um comprovado caos na escrita (há cada vez mais exemplos, estão online, e todos os dias são coligidos mais) e as mesmas críticas de sempre, dia a dia ampliadas pela absoluta inércia dos poderes decisórios. A diferença é que, além de vários grupos de cidadãos não terem desmobilizado, a Academia das Ciências de Lisboa veio enfim apontar uma série de erros evidentes e propor a sua correcção. Porquê? Porque a Academia está a refazer o seu Dicionário (até finais de 2018) e quer usar nele uma ortografia digna desse nome. Por isso veio propor um conjunto de “aperfeiçoamentos” que põem em causa muitas opções consagradas no AO.

Claro que, a isto, o ministro Augusto Santos Silva já veio dizer “não”, embora acrescente que “nada está isento nem de crítica nem de possibilidade de melhoria”. Ou seja: está mal, mal continuará. Que as crianças aprendam erros, problema delas. Que pais e professores sejam obrigados a ensiná-los, pouco importa. Isto é uma posição insustentável e mostra como o PS, que revê e reverte tudo e mais alguma coisa, só não revoga aquilo que manifestamente não entende: e isso chama-se ortografia.

O problema é que, depois de a Academia vir a terreiro dizer “o rei vai nu” já não é possível fingir que nada se passa. Políticos e partidos não podem furtar-se à responsabilidade. É preciso agir, de forma consciente (e, como diz a Academia, com bases científicas), abandonando de vez a inércia. A nova ortografia vai nua? Vistam-na, depressa! Ou dispam-na de vez. Mas façam algo digno, por favor.


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