NYTimes
responde a Trump com vídeo sobre "verdades difíceis" no
intervalo dos Óscares
O jornal , que esta semana
foi excluído de uma conferência de imprensa na Casa Branca, vai
transmitir um vídeo este domingo à noite onde defende que a verdade
"é mais importante agora do que alguma vez foi".
PÚBLICO e LUSA 25
de Fevereiro de 2017, 23:16
O jornal
norte-americano New York Times (NYTimes) vai responder com um anúncio
televisivo sobre "verdades difíceis" ao facto de ter sido
proibido de entrar numa conferência de imprensa na Casa Branca,
juntamente com quase uma dezena de meios de comunicação social,
norte-americanos e estrangeiros, como é o caso dos britânicos BBC e
The Guardian.
O anúncio vai ser
divulgado durante os intervalos da emissão televisiva da gala dos
Óscares, que decorre este domingo (madrugada de segunda-feira em
Portugal).
O NYTimes, assim
como o jornal Guardian, o site Politico, a cadeia de televisão CNN e
outros meios de comunicação, foram impedidos de entrar na
conferência de imprensa informal, depois de o responsável pela
imprensa da administração do Presidente Donald Trump ter
restringido o número de jornalistas que podiam estar presentes.
No anúncio de 30
segundos, chamado "A verdade é difícil", ouvem-se e
lêem-se frases com as várias afirmações difíceis de conciliar,
como "a verdade é que os 'factos alternativos' são mentiras"
e "a verdade é que as alterações climáticas são um
embuste".
A conclusão do New
York Times é que "a verdade é difícil, é difícil de
encontrar, é difícil de conhecer", mas "é mais
importante agora do que alguma vez foi".
Além da televisão,
outras versões do anúncio vão ser afixadas nas ruas de várias
cidades norte-americanas e aparecerão nas edições online e
impressa do jornal deste fim-de-semana.
Trata-se da primeira
vez em sete anos que o New York Times transmite um anúncio
publicitário na televisão, de acordo com a CNN. David Rubin, gestor
de marca da empresa, afirma que a missão do vídeo é entrar no
"debate nacional que está a acontecer neste momento sobre
'factos' e a verdade" e o que é que estes significam nos dias
de hoje. "Estávamos à procura de um momento mediático de
impacto, e este pareceu-nos um bom momento para as pessoas
responderem e reagirem ao vídeo", considera.
Uma das
apresentadoras da cerimónia dos Óscares será a actriz Meryl
Streep, que criticou o Presidente norte-americano num discurso na
cerimónia dos Globos de Ouro, levando a uma resposta irada de Donald
Trump contra a "actriz sobrevalorizada" numa série de
mensagens no Twitter.
Entre os excluídos
da conferência de imprensa informal na sexta-feira estão também
The Hill, BuzzFeed, The Daily Mail, New York Daily News e a cadeia de
televisão britânica BBC. Por outro lado, foram autorizados a entrar
meios como ABC, CBS, NBC, Fox, Reuters, Bloomberg e McClatchy, bem
como o site Breitbart, que era dirigido pelo actual e principal
estratega da Casa Branca, Steve Bannon.
Jornalistas de pelo
menos oito órgãos impedidos de entrar na Casa Branca
A agência
Associated Press e a revista Time foram autorizadas a entrar, mas
decidiram boicotar o briefing informal em solidariedade com os media
excluídos.
Na sexta-feira,
Donald Trump voltou a atacar a imprensa, criticando o uso de fontes
anónimas em notícias sobre alegados contactos entre conselheiros
presidenciais e agentes secretos russos. Estas notícias foram
aprofundadas precisamente pela CNN e o New York Times, dois dos
excluídos da conferência informal pela assessoria da Casa Branca.
Imprensa,
um inimigo conveniente para Trump?
Administração
impede acesso a briefing de jornalistas de alguns meios de
comunicação depois de Presidente discursar contra jornalistas
Maria João
Guimarães
MARIA JOÃO
GUIMARÃES 25 de Fevereiro de 2017, 20:28
A animosidade entre
a Administração de Donald Trump e a imprensa atingiu um novo
patamar, com o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, a impedir o
acesso de alguns media a um briefing e o Presidente a dizer num
discurso que os jornalistas eram “inimigos do povo” – “apenas
os desonestos”, especificou.
“Nunca aconteceu
nada semelhante na Casa Branca na nossa longa história de cobrir
várias administrações de vários partidos”, reagiu o director do
New York Times, Dean Baquet. O jornalista do New York Times foi,
junto com o Buzzfeed, a CNN, o Los Angeles Times, Politico, BBC,
Guardian e Huffington Post, impedido de ter acesso ao briefing –
que na agenda do porta-voz tinha sido alterado de um briefing diário
normal, para as câmaras, para uma sessão sem câmaras. Os
jornalistas da Associated Press e da Time foram convidados a entrar
mas recusaram, em solidariedade com os que não puderam entrar.
O briefing
realizou-se para jornalistas da ABC, CBS, Wall Street Journal,
Bloomberg, e dos conservadores Fox News e Washington Times, One
America News e o site Breitbart (que é basicamente uma plataforma da
direita radical e racista).
A ocasião não era
muito importante – o Washington Post, por exemplo, nem tinha
deslocado um jornalista – mas o sinal foi forte.
“É um caminho não
democrático que a Administração está a seguir”, disse Marty
Baron, director do Washington Post.
Marca de
autoritarismo
O próprio Sean
Spicer declarou numa entrevista ao Politico, em Dezembro, antes de
assumir o cargo de porta-voz da Casa Branca, que a prática de o
empresário cortar acesso a alguns meios de comunicação não iria
ser nunca seguida quando este tomasse posse como Presidente: “Temos
respeito pela imprensa quando se trata de Governo, não se pode banir
uma entidade de ter acesso”, disse. “Acho que é isso que define
uma democracia por oposição a uma ditadura”.
O episódio da
selecção de quem podia assistir ao briefing sucedeu-se a um
discurso de Donald Trump na Conferência de Acção Política
Conservadora (CPAC, na sigla em inglês), perto de Washington, esta
semana, em que este fez um rol de acusações aos media, desde "não
dizerem a verdade" a "não representar o povo". "E
vamos fazer algo quanto a isso", prometeu.
Já depois, no
Twitter, Trump continuou o seu discurso contra os media que são “um
perigo para o país”, destacando o New York Times e a CNN.
Trump continua a
usar o termo “notícias falsas” para media credíveis como o New
York Times e a CNN. O seu conselheiro Steve Bannon (que ganhou
importância no site Breitbart) também disse na conferência que os
conservadores se devem preparar para uma “luta” sem fim com os
media. Numa entrevista ao New York Times em Janeiro, Bannon disse que
os media eram "o partido da oposição" e que "deviam
calar a boca".
A retórica tem
alarmado muitos. Porque, como disse o próprio Spicer em Dezembro, há
liberdades em relação à imprensa que distinguem regimes
democráticos de outros. Segundo, como aponta Lawrence Douglas,
professor de Direito e Pensamento Social na Faculdade de Amherst
(Massachusetts) num artigo no Guardian, transformar os adversários
em inimigos é uma característica de dirigentes autoritários: “Com
a oposição, é preciso lidar com ela e convencê-la; os inimigos
devem ser isolados e esmagados”, escreveu. Muitas vezes é um
pequeno passo até que os inimigos se transformem em criminosos,
concluiu.
Porquê agora?
Por que é que a
Administração escalou a sua “guerra” com os media justamente
agora?
A explicação mais
citada é ter acabado de rebentar um caso complicado: o das conversas
entre a Administração e o FBI por causa das fugas de informação
em relação à Rússia, com a Casa Branca a tentar ter vozes do FBI
a desmentir notícias sbre a questão. Como diz o diário britânico
The Guardian, “alguns repórteres veteranos notaram que a Casa
Branca conseguiu tirar o tópico” no topo das agendas noticiosas.
Entre os órgãos de
comunicação social afastados do briefing estavam justamente dois
dos media que noticiaram a questão e a aprofundaram: a CNN e o New
York Times.
Ironicamente, depois
de o Presidente ter passado parte do discurso a criticar o uso de
fontes anónimas por jornalistas e acusar os repótrteres de
inventarem fontes para fazer as acusações que querem, era a própria
Casa Branca que desmentia a notícia dos contactos com o FBI...
pedindo o anonimato.
Por outro lado, diz
um artigo no site Vox, há outras razões para criar um inimigo: os
democratas – em minoria em ambas as câmaras do Congresso – estão
demasiado fragilizados para serem um antagonista credível. E com o
seu primeiro grande discurso ao Congresso a aproximar-se e pouco mais
de um mês no cargo, o Presidente Trump não tem ainda nenhum
sucesso: a sua principal medida, a controversa ordem de impedir a
entrada a pessoas de uma lista de países, está suspensa enquanto é
analisada pelos tribunais.
Assim, nada como um
combate para revigorar apoios. E é no estilo de confronto que Trump
costuma estar no seu elemento.
FBI
apanhado no meio da guerra das "notícias falsas" de Trump
Casa
Branca quis usar a agência de segurança para desmentir notícias do
New York Times e da CNN sobre contactos com a Rússia. Face a uma
recusa, tornou-se um alvo da fúria do Presidente.
Clara Barata
CLARA BARATA 25 de
Fevereiro de 2017, 19:53
O FBI foi apanhado
no meio da guerra contra os media da Administração Trump, depois de
terem sido publicadas notícias dando conta de que a Casa Branca quis
usar a agência de segurança federal para desmentir informações de
jornais. No Twitter, o Presidente norte-americano acusou o FBI de ser
“incapaz de travar as fugas de informação que permeiam o nosso
Governo há muito tempo e põem em causa a segurança nacional”. E
terminou com uma ordem: “ACHEM-NOS JÁ”, aos autores das fugas.
Horas depois, os
jornalistas de vários órgãos de comunicação social foram
barrados da conferência de imprensa diária do porta-voz da Casa
Branca, Sean Spicer. Foi claro que estas declarações de Donald
Trump foram uma retaliação contra as notícias da CNN e do New York
Times, que começaram a ser publicadas no dia 14, dizendo que Reince
Preibus, o chefe de gabinete de Donald Trump, falou com o director e
o vice-director do FBI, James Comey e Andrew McCabe. Pediu-lhes ajuda
para desacreditar os relatos publicados na comunicação social
americana sobre contactos entre membros da equipa de Trump e russos
identificados como espiões durante a campanha para as presidenciais,
porque o FBI teria informações que permitiriam provar que as
notícias eram falsas.
Só que, diz o
Washington Post, nem Comey nem McCabe se queriam meter nesta guerra,
nem as informações que tinham desacreditavam propriamente as
notícias sobre os contactos da Administração com espiões russos.
Apenas não diriam de forma tão definitiva que os russos com que a
equipa Trump falou eram de certeza espiões de Moscovo.
Sean Spicer
confirmou os contactos da Casa Branca com o FBI. “Quando fomos
informados pelo FBI de que eram falsos os relatos sobre a Rússia,
queríamos dizer aos repórteres quem mais poderiam contactar para
corroborar esta versão”. Reince Priebus, no entanto, continuou a
dizer que “dirigentes de topo da comunidade de agências de
informação” lhe disseram que as notícias estavam erradas, e
classificou os artigos publicados como “lixo”.
Se este tipo de
contactos entre a Casa Branca e o FBI não é ilegal – como defende
Administração Trump –, pelo menos é raro. Há um regulamento que
interdita as comunicações entre a Casa Branca e o Departamento de
Justiça sobre investigações em curso, para limitar a possibilidade
de interferência política na justiça. Um encontro num aeroporto
entre Loretta Lynch, a attorney general de Barack Obama, e o
ex-Presidente Bill Clinton, durante a campanha eleitoral, foi
duramente criticado pelos republicanos, pela possibilidade de terem
falado dos emails de Hillary Clinton, então em investigação.
A líder da minoria
democrata na Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, aproveitou
para considerar o comportamento do chefe de gabinete da Casa Branca,
Reince Preibus, como “uma escandalosa violação da independência
do FBI”.
A relação de
Donald Trump com as agências de informação é no mínimo tensa,
para não dizer hostil, desde antes da tomada de posse. Este episódio
marca um ponto alto nessa atribulada relação, e reflecte a
crescente irritação com as fugas de informação. O Presidente já
disse, de forma pouco convincente, que “as fugas são reais, mas as
notícias [em que se baseiam] são falsas.”
Sem comentários:
Enviar um comentário