Entre outros muito
importantes destaques neste importante documento de referência,
este:
"São 90 as
lojas de “souvenirs made in China/Asia” - 11% no total de 788 de
comércios e restauração-cafetaria (sem hotelaria), um numero
assinalável em tão pouco
tempo – 10 vezes
mais em 6 anos - a marcar negativamente a imagem da Baixa: com uma
exposição idêntica em todas estas lojas, em placards
sobrecarregados de artigos idênticos, sem elaboração nem primor,
nada tendo a ver com a apresentação comercial lisboeta."
Qual é o mistério
da capacidade de investimento destas lojas asiáticas?
Que vantagens
fiscais e isenções de leis de trabalho usufruem estas lojas ? O que
lhes permite e torna possível pagar rendas de 4.000 e 5.000 euros
sem pestanejar ?
Que política fiscal
para os negócios há no país, que favorecem uns e asfixiam outros?
Cada vez que a
questão da invasão saturante das lojas asiáticas e a questão da
qualidade dos seus produtos é levantada, de imediato neutraliza-se
de forma inibidora o ritmo e a natural capacidade de discernimento do
evidente, com o argumento da etnicidade."
OVOODOCORVO
Mudanças
na Baixa de Lisboa tornaram-na estranha aos 'seus'
23 fev 2017 · 19:49
A
Baixa de Lisboa tornou-se numa zona “estranha aos nacionais”,
devido à perda de moradores e de espaços de comércio local, afirma
o sociólogo e economista Guilherme Pereira, autor do estudo
“Mudanças e globalização na Baixa pombalina”.
“Se tínhamos uma
Baixa desertificada e envelhecida, agora temos uma Baixa estranha aos
nacionais, em perda de moradores, de comércios locais, virada para
os de fora, em que as ofertas e as ementas são para turistas, em que
perdemos as lojas que nos atendiam - contei 117 encerradas nestes
últimos anos”, declarou à Lusa o sociólogo e economista.
No âmbito do estudo
“Mudanças e globalização na Baixa pombalina”, que faz uma
comparação entre a atualidade – dados de 2016 e do início de
2017 – e um levantamento realizado entre 2008 e 2012, Guilherme
Pereira verificou que das 900 lojas hoje observadas (junho e julho
2016), 50% já existiam entre 2010 e 2012, 45% são novas e as
restantes 5% não foi possível apurar a data de abertura.
“As ruas do Ouro,
Augusta e da Prata foi onde encerraram mais estabelecimentos – 43
dos 105 encerrados entre 2010 e 2016 e as novas lojas surgiram
predominantemente nestas mesmas ruas - Augusta, do Ouro e da Prata –,
bem como nas da Madalena e Fanqueiros, o que no conjunto totaliza 51%
das novas atividades abertas”, apurou o sociólogo e economista,
através do estudo publicado este mês.
A maior parte das
novas lojas da Baixa estão instaladas em prédios não reabilitados,
enquanto “os edifícios renovados, na maioria das vezes por
demolição integral do interior, são configurados e abertos para
hotéis e não tanto para habitação nem comércio”, revelou o
estudo.
De acordo com
Guilherme Pereira, a ideia da realização do estudo surgiu em 2008
quando se pronunciava uma renovação da Baixa e estava em curso uma
candidatura da Baixa e Chiado a património da Unesco, pelo que a
atualização dos dados entre 2016 e o início de 2017 foi “um
balanço das mudanças entretanto operadas, muito maiores do que se
supunha à partida”.
“A observação
quotidiana, de passagem, desperta a análise mais atenta e aí surgem
revelações, que não se esperavam”, afirmou o autor do estudo,
referindo o “enorme número de lojas de ‘souvenirs low-cost’,
que se multiplicaram por 10 em seis anos, enquanto as de artesanato
nacional se reduziram e as de artesanato de outros países quase
desapareceram”.
Questionado sobre os
principais problemas existentes atualmente na Baixa pombalina, o
sociólogo e economista apontou “a reabilitação para uso e
mercados externos, o despejo de comércios – mesmo se viáveis e em
pleno funcionamento –, a saída de moradores por alta de rendas ou
por não renovação de contratos de arrendamento, a subida de rendas
e dos preços de venda para bolsas estrangeiras e não para o mercado
local”.
Neste sentido,
Guilherme Pereira alertou que a Baixa pombalina está a tornar-se
numa “zona alheia à cidade, à semelhança de outros bairros de
Lisboa”.
Como recomendações
para os problemas apurados no estudo, o sociólogo e economista
propõe a reforma da lei do arrendamento, a definição de cotas de
áreas de construção permitidas e licenciadas para comércio,
serviços, hotelaria e habitação, o condicionamento do alojamento
local, a classificação de lojas com história, a aprovação de
projetos de reabilitação urbana que salvaguardem uma parte de área
residencial, de comércios e de serviços a preços e rendas
condicentes com a economia e a população local, assim como a
garantia e fiscalização da construção antissísmica.
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