Todos
iguais
26 DE FEVEREIRO DE
2017
António Barreto
Já se percebeu:
cada vez que um escândalo, processo, aldrabice ou caso de
favoritismo está a ser investigado, logo outro surge, equivalente,
com visados de outros grupos económicos, partidos ou governos... Às
vezes há pontos de contacto. Noutras não. Agora, são os offshores
que retiram casos das primeiras páginas. Mas, previsivelmente, vão
bater às mesmas portas de sempre... Caixa, PT, BES...
Um processo aqui, um
caso de corrupção ali, uns empréstimos sem retorno, uns favores a
amigos, uns assaltos a empresas, algumas manipulações do mercado,
umas transferências para offshores, muita mentira e uma prodigiosa
incompetência fizeram da "jóia da coroa" o que ela parece
hoje e que faz com que os políticos tenham receio do pântano.
Fica-se cada vez mais com a impressão de que o caso da Caixa é o
caso do regime: tudo anda ligado, da política à banca, da PT aos
telemóveis, das águas aos petróleos, da electricidade à celulose,
do BES ao Banif, do BPN ao BCP... Podem fazer-se todos os inquéritos
imagináveis, ficará sempre algo de fora, aparecerá sempre, à
última hora, novo facto inesperado que permita negociação futura e
ocultação passada. Debaixo de cada pedra há lacrau ou veneno. E
muitos parecem interessados em esconder e esquecer. Mas acrescentam
sempre qualquer coisa.
A algazarra com a
Caixa não deixa ninguém tranquilo. O esteio, o alicerce do sistema
bancário português não é mais do que uma organização de
mistérios e trapalhadas, sob influência directa dos governos, dos
ministros e dos partidos. Serviu para obras públicas, parcerias
duvidosas, empréstimos especulativos, favores aos amigos, negócios
estranhos, demagogia política e empregos de conforto. Há alarido
porque todos têm medo, de um partido, do outro e de outro ainda.
Muitos receiam que se fale ou que se descubra. A barafunda actual é
tanta, que se pode imaginar que nunca se saberá o que se deve saber,
nunca se castigará quem o deve ser. Dirigentes do PS, do PSD e do
CDS tiveram responsabilidades na necessidade de quatro ou cinco mil
milhões, a recapitalização. Os governos de Sócrates, Passos
Coelho e Costa têm todos responsabilidades no desastre e nas
imparidades (eufemismo para designar, entre outras habilidades,
trafulhices e favores).
"Eles são
todos iguais!" é uma das mais detestáveis e inúteis frases
que se ouve frequentemente por aí. Geralmente sobre a política.
Frase e pensamento, ou falta dele, sem seriedade nem inteligência.
Ideia sem verdade. Ideia errada e enganadora. Mas não se resiste.
Não só se ouve cada vez mais, hoje, em tempos de crise, como já
quase não há argumentos para contrariar.
"Eles" são
diferentes. Defendem políticas diferentes. Estão ao serviço de
interesses e ideias diferentes. Pertencem a classes sociais e a
grupos diferentes. Têm programas e doutrinas diferentes. Há os
honestos e os bandidos. Os sérios e os aldrabões. Os rigorosos e os
demagogos. Os honrados e os corruptos. Os íntegros e os
oportunistas. Os democratas e os déspotas. Mas deve reconhecer-se
que "eles" fazem um esforço por se parecer cada vez mais.
O que tem péssimos resultados: não nos ajuda a perceber. Sabemos
ainda que há bandidos à esquerda e à direita. Honestos também. O
que também não ajuda a compreender.
É fina a fronteira
entre um caso de política e um caso de polícia. É curta a
distância que vai da incompetência à corrupção. Da demagogia à
venalidade, o tempo e o espaço são reduzidos. Se a democracia
portuguesa não consegue apurar responsabilidades, julgar culpados,
castigar "nepotes" e afilhados e refazer um banco seguro e
honesto, se a democracia portuguesa tal não conseguir, condena-se a
si própria. O processo da Caixa corre o risco de vir a ser o
processo do regime
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