quarta-feira, 10 de julho de 2013

O silêncio é irrevogável?

“Os problemas técnicos, afinal, eram um disfarce para uma decisão política. Uma vez mais, Portas mostrou que para ele a palavra vale pouco. E entretanto o país não esquecerá o que se passou há uma semana. Tal como certas frases, há silêncios que são irrevogáveis.”



O silêncio é irrevogável?


Portas recusou falar da crise. E, sobre o caso Morales, acabou por dar o dito por não dito
Editorial / Público


Uma semana após ter comunicado ao país a sua decisão "irrevogável" de abandonar o Governo, Paulo Portas finalmente falou. Na qualidade de líder do CDS-PP, à saída de uma audiência com o Presidente da República, em Belém. E enquanto (ainda) ministro dos Negócios Estrangeiros, numa comissão parlamentar onde foi esclarecer os deputados sobre o caso do avião do Presidente colombiano, Evo Morales, que o Governo português não deixou aterrar em Lisboa. "Portas quebra o silêncio", lia-se nos oráculos de algumas televisões. Na verdade, Paulo Portas não quebrou o silêncio. Falou para as câmaras como se nada se tivesse passado. E, sobretudo, como se não devesse aos portugueses uma explicação sobre o volte-face da semana passada, em que passou de ministro irrevogavelmente demissionário a vice-primeiro-ministro como uma paleta de poderes amplamente reforçada. Alguns dirão que não tem sentido abusar de uma palavra a mais e que o momento é de olhar para a frente. Não é assim tão simples. Sem uma explicação, ou sem uma contrição pública, ninguém dará um cêntimo pela palavra do novo coordenador das políticas económicas. Instado a pronunciar-se sobre a crise, preferiu nada dizer. E convidado a pronunciar-se sobre o caso Morales no Parlamento, voltou a não contribuir para a sua credibilidade. Incapaz de explicar quais os problemas técnicos que tinham levado Lisboa a proibir o avião presidencial boliviano de aterrar, acabou por dizer que não queria que Portugal fosse notícia por causa do espião Edward Snowden, que se dizia estar a bordo da aeronave boliviana.Os problemas técnicos, afinal, eram um disfarce para uma decisão política. Uma vez mais, Portas mostrou que para ele a palavra vale pouco. E entretanto o país não esquecerá o que se passou há uma semana. Tal como certas frases, há silêncios que são irrevogáveis.

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