terça-feira, 16 de julho de 2013

Senador que chamou orangotango a ministra não se demite.Cecile Kyenge reagiu com inteligência. “Não dou importância pessoal às palavras de Calderoli, mas elas entristecem-me pela imagem que dão da Itália”. “Creio que todas as forças políticas devem reflectir sobre o uso que fazem da comunicação”


Senador que chamou orangotango a ministra não se demite

Liga anuncia manifestação "contra a imigração clandestina" e diz que desculpas são suficientes
O primeiro-ministro, Enrico Letta, denunciou uma "página vergonhosa da história" de Itália e exigiu a Roberto Calderoli que "feche o mais depressa possível esta página para não se entrar numa lógica de confronto total". O Presidente da República, Giorgio Napolitano, descreveu como "bárbara" a declaração racista do líder da Liga Norte e vice-presidente do Senado, que comparou Cecile Kyenge, a primeira negra ministra do país, a um orangotango.
As críticas continuam a acumular-se, assim como os apelos à demissão. Reunida a direcção da Liga, o partido contra-atacou, defendendo que Calderoli já pediu desculpas e anunciando uma manifestação "contra a imigração clandestina" a 7 de Setembro, em Turim. "Calderoli não se demite", fez saber o partido. O próprio disse que falará hoje, no Senado.
Cecile Kyenge, ministra da Integração, defende que qualquer pessoa nascida em Itália tenha direito à cidadania. Italiana nascida na República Democrática do Congo, já foi alvo de provocações mais ou menos explícitas. Mas as palavras de Calderoli ultrapassaram o imaginável.
"Gosto de animais - ursos e lobos, como todos sabem - mas quando vejo imagens de Kyenge não consigo pensar noutra coisa, ainda que não esteja a dizer que ela é, nas semelhanças com um orangotango", disse sábado, numa reunião partidária. O êxito de Cecile Kyenge, acrescentou, encoraja os "imigrantes ilegais" a irem para Itália e ela devia ser ministra "no seu país".
Logo no domingo, Letta divulgou um comunicado em que disse que as palavras do senador são "inaceitáveis e ultrapassam todos os limites". O presidente do Senado, Pietro Grasso, exigiu desculpas. A líder da Câmara dos Deputados, Laura Boldrini, solidarizou-se com a ministra e condenou as "palavras vulgares e indignas de instituições".
Cecile Kyenge reagiu com inteligência. "Não dou importância pessoal às palavras de Calderoli, mas entristecem-me pela imagem que dão de Itália". "Creio que todas as forças políticas devem reflectir sobre o uso que fazem da comunicação."
Face às críticas generalizadas, Calderoli acabou por fazer uma declaração em que procurou justificar o insulto com a disputa política. "A minha intenção não era ofender e se a ministra Kyenge se ofendeu, peço desculpa, mas o meu comentário foi feito num mais vasto discurso político que criticou a ministra e as suas políticas", disse. Só mais tarde telefonou a Cecile Kyenge. "Acabei de falar com a ministra Kyenge e apresentei as minhas desculpas", afirmou ao fim da tarde de domingo à Ansa.
Calderoli é conhecido pelo estilo provocador e racista. Em 2006, deixou o Governo de Silvio Berlusconi depois de vestir uma T-shirt anti-Islão sobre Maomé. Nesse ano, depois de Itália ter vencido França na final do Mundial de futebol, afirmou que o adversário perdeu por ter jogadores "negros, muçulmanos e comunistas". com Sofia Lorena

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