Senador que chamou orangotango a ministra
não se demite
Liga anuncia manifestação "contra a imigração clandestina" e diz que
desculpas são suficientes
O primeiro-ministro, Enrico Letta, denunciou uma
"página vergonhosa da história" de Itália e exigiu a Roberto Calderoli que
"feche o mais depressa possível esta página para não se entrar numa lógica de
confronto total". O Presidente da República, Giorgio Napolitano, descreveu como
"bárbara" a declaração racista do líder da Liga Norte e vice-presidente do
Senado, que comparou Cecile Kyenge, a primeira negra ministra do país, a um
orangotango.
As críticas continuam a acumular-se, assim como os apelos à demissão. Reunida
a direcção da Liga, o partido contra-atacou, defendendo que Calderoli já pediu
desculpas e anunciando uma manifestação "contra a imigração clandestina" a 7 de
Setembro, em Turim. "Calderoli não se demite", fez saber o partido. O próprio
disse que falará hoje, no Senado.
Cecile Kyenge, ministra da Integração, defende que qualquer pessoa nascida em
Itália tenha direito à cidadania. Italiana nascida na República Democrática do
Congo, já foi alvo de provocações mais ou menos explícitas. Mas as palavras de
Calderoli ultrapassaram o imaginável.
"Gosto de animais - ursos e lobos, como todos sabem - mas quando vejo imagens
de Kyenge não consigo pensar noutra coisa, ainda que não esteja a dizer que ela
é, nas semelhanças com um orangotango", disse sábado, numa reunião partidária. O
êxito de Cecile Kyenge, acrescentou, encoraja os "imigrantes ilegais" a irem
para Itália e ela devia ser ministra "no seu país".
Logo no domingo, Letta divulgou um comunicado em que disse que as palavras do
senador são "inaceitáveis e ultrapassam todos os limites". O presidente do
Senado, Pietro Grasso, exigiu desculpas. A líder da Câmara dos Deputados, Laura
Boldrini, solidarizou-se com a ministra e condenou as "palavras vulgares e
indignas de instituições".
Cecile Kyenge reagiu com inteligência. "Não dou importância pessoal às
palavras de Calderoli, mas entristecem-me pela imagem que dão de Itália". "Creio
que todas as forças políticas devem reflectir sobre o uso que fazem da
comunicação."
Face às críticas generalizadas, Calderoli acabou por fazer uma declaração em
que procurou justificar o insulto com a disputa política. "A minha intenção não
era ofender e se a ministra Kyenge se ofendeu, peço desculpa, mas o meu
comentário foi feito num mais vasto discurso político que criticou a ministra e
as suas políticas", disse. Só mais tarde telefonou a Cecile Kyenge. "Acabei de
falar com a ministra Kyenge e apresentei as minhas desculpas", afirmou ao fim da
tarde de domingo à Ansa.
Calderoli é conhecido pelo estilo provocador e racista. Em 2006, deixou o
Governo de Silvio Berlusconi depois de vestir uma T-shirt anti-Islão
sobre Maomé. Nesse ano, depois de Itália ter vencido França na final do Mundial
de futebol, afirmou que o adversário perdeu por ter jogadores "negros,
muçulmanos e comunistas". com Sofia Lorena
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