O regime está doente.
23/07/13 00:35 | António Costa in Diário económico online
O ‘novo’ Governo, este, de coligação reforçada que promete
um novo ciclo, virado para a economia, com o ‘apoio’ de Cavaco Silva, tem ainda
muito por fazer do lado da despesa pública.
A separação de poderes em Portugal está pelas ruas da
amargura, os tribunais, alguns, têm a ambição de ser a oposição ao Governo que
a Oposição não consegue ser e, tendo em conta o que está para vir, a crise
política pode ser o menor dos nossos problemas.
Depois da ressaca do acordo de fracasso nacional patrocinado
pelo Presidente da República, os portugueses vão regressar à vida normal, ao
acordo com a ‘troika' que não desapareceu por milagre e que continua a impor
medidas de austeridade, por mais que os discursos políticos sejam dominados
pelo crescimento. E o ‘novo' Governo, este, de coligação reforçada que promete
um novo ciclo, virado para a economia, com o ‘apoio' de Cavaco Silva, tem ainda
muito por fazer do lado da despesa pública. É precisamente por isso que as mais
recentes decisões dos tribunais fazem-nos temer o pior. Por várias razões.
Ontem, o Jornal de Negócios revelou que o Tribunal
Administrativo e Fiscal (TAF) de Beja aceitou a providência cautelar interposta
pelo município de Ferreira de Alentejo contra a Estradas de Portugal (EP),
Ministério da Economia, Ministério da Agricultura, por causa de uma suspensão
de obras na auto-estrada Sines-Beja. Até aqui, nada a opor, não fosse o caso de
o tribunal, numa decisão inédita, ter decidido aplicar uma multa diária aos
responsáveis políticos dos ministérios, Álvaro Santos Pereira e Assunção Cristas,
e também ao presidente da EP, António Ramalho.
Haverá seguramente argumentos jurídicos para suportar esta
decisão daquele tribunal de Beja - porque numa sala em que estão dois
advogados, é possível garantir três opiniões - mas o que está implícito neste
caso é mais fundo, e mais grave. É mesmo uma resposta do poder judicial a um
poder político com o qual não concorda e que quer meter na linha.
Este é mais um caso, talvez extremo, de punição judicial por
decisão política, mas que se segue a outros, como o da Maternidade Alfredo da
Costa, para não falar das decisões dos juízes do Tribunal Constitucional que,
no meio desta crise, já parecem ter sido esquecidas.
Se este caminho vingar, vamos acabar por ter de recorrer a
outro Governo, porque não haverá ministro que esteja disponível para tomar uma
decisão, e não será presidencial, mas judicial, talvez emanado do Conselho
Superior de Magistratura. Para quem pensa nos riscos de o poder económico
controlar o poder político, é melhor pensar duas vezes, e nas consequências de
um poder político que teme o poder judicial pelos piores motivos.
A Direita sempre teve mais dificuldade em gerir as
corporações, e menos habilidade, mas quando esta questão se coloca no centro da
Democracia, dos pesos e contra-pesos, na separação de poderes legislativo e
executivo, por um lado, e judicial, por outro, o problema não é apenas da
Direita, é do Estado, porque é certo que o regime está muito doente.
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