"Referindo-se ao espaço ocupado pela Sá da Costa, lê-se no manifesto que é um "lugar cobiçado demais, pelos negócios do dinheiro graúdo" que impossibilita que alguém ou uma entidade, interessados nos "valores imateriais", a possam resgatar da "ditadura financeira rapace e usurária".
"No manifesto, os livreiros afirmam que o fecho da Sá da Costa é um "sinal dos tempos -- bem paradigmáticos desta apagada e vil tristeza em que o país, e nós com ele, nos encontramos mergulhados -- a zona do Chiado, a sua histórica envolvência, tem sido palco de uma razia, de devastação".
Trabalhadores da Sá da Costa responsabilizam "ditadura financeira" pelo fecho da livraria.Os trabalhadores da Livraria Sá da Costa, em Lisboa, que encerra as portas por decisão judicial, apontam o dedo aos negócios imobiliários e ao "absoluto vazio gerado pela ditadura financeira", no manifesto que será apresentado hoje pelas 22:00.
O "Manifesto contra o desastroso encerramento das livrarias da Cidade de Lisboa no centenário da Livraria Sá da Costa" é assinado pelos cinco livreiros da Sá da Costa, e é publicado pela Letra Livre, que inclui, na edição, o discurso proferido por Augusto Sá da Costa, no dia 10 de junho de 1943, quando foi inaugurada a livraria no atual espaço na rua Garrett, na esquina com a rua Serpa Pinto, trinta anos depois da sua fundação, no atual largo Dr. António de Sousa Macedo, ao Poço dos Negros.
20.07.2013/ Lusa 18:43 in Sic Notícias online
Os livreiros chamam à atenção para a "destruição dos espaços culturais emblemáticos, por fatal 'mudança de ramo', vítimas da especulação dos arrendamentos, expulsas pela investida tornada 'natural' das lojas e luxo, [que] encerram portas num abrir-e-fechar de olhos".
Neste contexto citam as livrarias Portugal, Guimarães, Barateira e Camões, todas na área da Baixa-Chiado-Misericórdia/Trindade, e as que "estão em vésperas de fechar", como a Olisipo e Arte e Letras, no largo Trindade Coelho, junto a São Roque, "se não mesmo a provecta Livraria Lello", na rua do Carmo.
Referindo-se ao espaço ocupado pela Sá da Costa, lê-se no manifesto que é um "lugar cobiçado demais, pelos negócios do dinheiro graúdo" que impossibilita que alguém ou uma entidade, interessados nos "valores imateriais", a possam resgatar da "ditadura financeira rapace e usurária".
Os cinco livreiros que assinam o manifesto apontam também o dedo à "própria coprporação de editores e livreiros [que] não só encolhe os ombros, como parece rejubilar quando um 'concorrente' se vê forçado a fechar a porta".
"Resultado: ninguém levanta um fósforo do chão", escrevem, acrescentando, "a solidariedade esvai-se das práticas sociais, ficando a palavrinha reduzida ao seu uso demagógico".
No manifesto, os livreiros afirmam que o fecho da Sá da Costa é um "sinal dos tempos -- bem paradigmáticos desta apagada e vil tristeza em que o país, e nós com ele, nos encontramos mergulhados -- a zona do Chiado, a sua histórica envolvência, tem sido palco de uma razia, de devastação".
Os livreiros dão ainda conta dos apoios que têm recebido, de compradores ou não, sublinham, e da luta de "mais de setecentos dias, desde que os responsáveis financeiros e administrativos viraram costas" à livraria que fecha portas um mês após a celebração dos seus 100 anos (foi fundada a 10 de junho de 1913), 70 dos quais no Chiado, e que tem "contribuído para que a Cidade seja mais do que um conjunto de prédios, ruas e cadáveres adiados".
O Manifesto é assinado por Noémia Batalha, Susana Pires, Pedro Oliveira, Salomé Gonçalves e António Esteves, que o terminam com um "até sempre".
A Livraria Sá da Costa foi declarada insolvente pelo Tribunal de Comércio de Lisboa, esta semana, e cumpre hoje o derradeiro dia de funcionamento, encerrando as portas às 21:00.
A Sá da Costa existe desde 1913, ligada à editora com o mesmo nome, responsável pela publicação de textos clássicos da Literatura Portuguesa e Ocidental, de autores como Camões, Sá de Miranda, António Verney, João de Barros, Diogo Couto, Padre António Vieira, Cavaleiro de Oliveira, D. Francisco Manuel de Melo, Almeida Garrett, Homero e Virgílio, ou de autores do século XX como António Sérgio, Vitorino Magalhães Godinho, Orlando Ribeiro e Hernâni Cidade.
Em 2010, a livraria foi posta à venda, sem sucesso, no Portal das Finanças, e, em 2011, o tribunal decretou a venda judicial, que não chegou a concretizar-se.
A liquidação total da Sá da Costa ficou decidida na assembleia de credores da passada segunda-feira, com o "chumbo" do plano de viabilização da empresa, apresentado no início de julho.
Lusa
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