Sintra vai ser cenário de uma das mais renhidas disputas
eleitorais nas eleições de 29 de Setembro
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Candidato a Sintra abre sede em loja de ex-autarca afastado
pelos tribunais.
Por José António Cerejo
26/07/2013 in Público
Marco Almeida diz que alugou loja ao antigo presidente da
câmara João Justino apenas no quadro de uma "relação comercial"
O vice-presidente da Câmara de Sintra, Marco Almeida, eleito
pelo PSD nos três últimos mandatos e actual candidato independente à liderança
da autarquia, instalou a sua sede de campanha num espaço pertencente ao
empresário João Justino no centro da vila - facto que originou um comunicado do
Bloco de Esquerda (BE) em que se diz que "não há almoços grátis".
O BE, que ontem tornou pública a propriedade do imóvel,
lembrou que Justino, um dos maiores industriais do concelho, tem protagonizado
vários episódios de violação do Plano Director Municipal (PDM) e salientou que
Marco Almeida nunca anunciou o apoio político do empresário, ao contrário do
que fez em relação a outras personalidades.
Contactado pelo PÚBLICO, Marco Almeida - que na semana
passada surgiu numa sondagem do JN em primeiro lugar na corrida à câmara, à
frente do candidato do PS (Basílio Horta) e do do PSD (Pedro Pinto) - afirmou
que a sede "foi alugada" no âmbito de uma "relação
comercial" e que o contrato será celebrado brevemente. O candidato
garantiu que a preocupação do movimento que o apoia consistiu apenas em
encontrar "as melhores localizações", com "mais visibilidade e
valor eleitoral", tanto em Sintra, como em Massamá, Pêro Pinheiro e Casal
de Cambra. O movimento, salientou, concorre também à assembleia municipal, com
António Capucho como cabeça de lista, e a todas as freguesias, onde conta com o
apoio de grande parte dos actuais presidentes de junta, incluindo uma do PS.
Quanto ao valor da renda a pagar pela sede de Sintra, Marco
Almeida escusou-se a responder, afirmando que ele constará, tal como todas as
despesas de campanha, no orçamento a apresentar ao Tribunal Constitucional
(Entidade das Contas) no dia 6 de Agosto. "O contrato com o comendador
Justino só ainda não foi celebrado porque as dificuldades colocadas à
organização das candidaturas independentes são tantas que só há duas semanas é
que conseguimos abrir uma conta bancária em nome do movimento", justificou.
Questionado sobre se João Justino era um apoiante da sua lista, Marco Almeida
limitou-se a declarar que ele "nunca esteve em nenhuma iniciativa da
candidatura". Sobre o facto de o empresário ser parte em litígios
judiciais com a câmara por violações do PDM, o vice-presidente da autarquia
disse apenas que "essas questões são da Justiça" e "não têm a
ver com o espaço alugado" pelo movimento. Marco Almeida adiantou que se
trata de uma loja que dá para a Rua Heliodoro Salgado e que "o senhor
comendador permitiu a utilização da fachada da moradia" situada por trás.
Justino foi eleito presidente da Câmara de Sintra pelo PSD
em 1989 e foi o primeiro autarca a ser destituído pelos tribunais, em 1992, por
violação da lei. O empresário, agora com 82 anos, mantem há mais de uma década
vários litígios com a autarquia, por violação do PDM em obras da sua
responsabilidade. O mais grave deles remonta a 2001 e prende-se com a
construção de uma enorme moradia, em Colares, que quase triplicou a área que
tinha sido autorizada pelo município e pelo Parque Natural de Sintra-Cascais. O
incumprimento do projecto levou a que o Ministério do Ambiente ordenasse a
demolição das construções ilegais, em 2003 e 2006, mas, até hoje, o empresário
tem conseguido evitá-la mediante a interposição de sucessivas acções judiciais,
ainda por resolver.
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