Antigo director da Tesouro: Maria Luís Albuquerque soube dos
“swaps” no dia em que chegou ao Governo
23 Julho 2013, 13:11 por Diogo Cavaleiro |
diogocavaleiro@negocios.pt
Antigo director da DGTF afirma ter tido uma reunião com
Maria Luís Albuquerque no dia em que esta tomou posse como secretária de
Estado. No dia seguinte, Pedro Felício garante ter enviado um e-mail onde
constavam as perdas potenciais com contratos “swap” na ordem dos 1,4 mil
milhões de euros.
Os contratos “swap” assinados por empresas públicas com a
banca foram um tema da reunião entre o antigo director-geral do Tesouro e
Finanças, Pedro Felício, e Maria Luís Albuquerque, na tarde de 28 de Junho de
2011. Nessa manhã, a governante havia tomado posse como secretária de Estado do
Tesouro e Finanças. A garantia foi dada ao Parlamento por Pedro Felício.
O então director-geral da DGTF garante que os instrumentos
de gestão de risco financeiro “surgiram nessa conversa” a 28 de Junho de 2011, a par de outros temas
como as medidas que tinham sido acordadas com a troika e as necessidades de
financiamento do sector empresarial do Estado. No dia seguinte, o tema voltava
a ser alvo de conversa entre os dois.
“No dia 29 de Junho, mandei um e-mail à secretária de
Estado”, contou Pedro Felício na comissão parlamentar de inquérito aos
contratos celebrados pelas empresas públicas, que, no final do ano passado,
chegaram a representar perdas potenciais de 3 mil milhões de euros.
No referido e-mail, constava, segundo Felício, informação
solicitada na sequência da reunião do dia anterior, na qual se destacava o
“ponto de situação do ‘mark-to-market’ [valor justo] dos ‘swap’”. O valor justo
indica quais os ganhos ou perdas que determinado contrato representa se for
cancelado de imediato.
Nessa altura, estavam assinaladas as perdas associadas a
contratos de gestão do risco financeiro de quatro grandes empresas (que não
foram especificadas), que se situavam, segundo o antigo responsável pelo
Tesouro, na ordem dos 1,4 mil milhões de euros. De acordo com Pedro Felício,
Maria Luís Albuquerque teve, então, uma “primeira informação” sobre o valor dos
contratos “swap” na carteira de dívida das empresas públicas a 29 de Junho de
2011, um dia depois de chegar ao Governo. Os “swap” e as necessidades de
financiamento do sector empresarial do Estado eram, à data, os grandes temas da
DGTF.
Pedro Felício esteve à frente deste organismo que representa
o Estado enquanto accionista das empresas públicas entre 10 de Maio de 2010 e
15 de Agosto de 2011. Antes de abandonar aquelas funções, a 19 de Julho de
2011, foi enviada uma informação detalhada sobre os contratos “swap” e, a 26 de
Julho, terá sido enviada a primeira versão dessa informação em forma de
relatório do sector empresarial do Estado relativo a 2010 (disponibilizado
publicamente). Foi a primeira vez que, em documentos públicos, aparecia
“devidamente espelhada” a situação com os derivados financeiros. A 3 de Agosto,
a secretária de Estado alertou para o facto de faltar um dos contratos, o que
foi depois corrigido. Na altura, as perdas potenciais situavam-se em 1,6 mil
milhões de euros.
Trocas de acusações sobre trocas de informações
A audição de Pedro Felício, que nunca integrou o Governo,
vem trazer mais confusão para uma comissão parlamentar onde têm sido algumas as
informações contraditórias. Maria Luís Albuquerque tem defendido que, da parte
do anterior Executivo, não recebeu quaisquer informações sobre os “swaps” –
embora Vítor Gaspar tenha admitido que o tema foi aflorado numa reunião com
Teixeira dos Santos, sem grandes detalhes.
No início deste mês, o Ministério das Finanças, ainda sob
responsabilidade de Gaspar, esclareceu que “a informação disponível aquando da
tomada de posse do actual Executivo dava alguma indicação quanto à dimensão dos
riscos orçamentais, mas nada acrescentava sobre as características dos
contratos e, sobretudo, não apontava para nenhuma solução”.
O actual Executivo tem sido criticado pelos deputados da
oposição, e por membros do anterior Governo como Fernando Teixeira dos Santos,
pelo facto de, só mais de um ano depois de ter tomado posse, em Novembro de
2012, é que começou a negociar para cancelar os instrumentos de gestão do risco
financeiro onerosos para as contas das empresas públicas.
Contudo, o Governo de Passos Coelho defende que a ausência
de dados claros sobre os “swap” quando assumiu funções justifica o período
desde a tomada de posse e o início das negociações com os bancos. Pedro Felício
garantiu esta terça-feira que Maria Luís Albuquerque sabia do valor das perdas
com estes instrumentos, pelo menos, um dia depois de tomar posse. No entanto,
não haveria nessa altura um grande grau de detalhe das contratações feitas, já
que Felício disse que não tinha a mesma pormenorização que foi depois feita
pelo IGCP (organismo estatal que ficou responsável por gerir o problema dos
"swap").
As perdas potenciais associadas a contratos de cobertura de
risco ascendiam, no final do ano passado, a 3 mil milhões de euros. O Estado
esteve a negociar com os bancos o cancelamento desses contratos, tendo conseguido
baixar as perdas potenciais para cerca de 1,5 mil milhões de euros. Para isso,
pagou aos bancos cerca de mil milhões de euros, tendo conseguido um desconto de
500 milhões face às referidas perdas de 1,5 mil milhões de euros. Os restantes
1,5 mil milhões de euros estão associados a contratos subscritos por empresas
públicas com o Santander Totta, que o Estado colocou em tribunal para eliminar
os "swaps" e que, por sua vez, também está nos tribunais britânicos
para decretar a validade dos contratos que vendeu às empresas públicas
nacionais.
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