AT Kearney prevê que, em 2048, o novo terminal gere 35 milhões de euros para o PIB e 340 postos de trabalho directos |
Consultora defende Trafaria, mas só com aposta nas ligações rodoviárias.
Estudo da AT Kearney encomendado pelo Governo alerta para esgotamento do
actual porto de Lisboa entre 2023 e 2026 e garante viabilidade económica da
transferência dos contentores para a margem sul do Tejo
O relatório refere, tal como o executivo tinha já anunciado no início do ano, que o novo terminal da Trafaria (a concessionar a privados) tenha capacidade efectiva para receber 2,1 milhões de TEU quando se chegar à fase final do projecto. O arranque da operação está previsto para 2019, com uma capacidade inicial para cerca de um milhão. Em Fevereiro, o Governo assumiu a intenção de lançar o concurso para seleccionar um investidor ainda este ano.
A AT Kearney baseia a análise numa previsão de crescimento exponencial da procura, que culminará na movimentação de 34 a 40 milhões de toneladas de mercadorias em contentores nos portos nacionais em 2048. A concretizar-se, o tráfego será três vezes maior do que o que se regista neste momento. A manter-se a quota de mercado actual, Lisboa terá uma fatia de 36% das toneladas movimentadas.
A consultora concluiu que, entre 2023 e 2026, "é previsível o esgotamento da capacidade actual" no porto da capital, já que se prevê que atinja entre 1,5 e 1,7 milhões de TEU até essa data. E o relatório alerta para o facto de poderem "antecipar-se problemas de capacidade mais imediatos", fazendo referência ao facto de o terminal de Alcântara estar já com 70% da capacidade ocupada.
Em termos de retorno, o relatório também alinha com as garantias do Governo, referindo que o projecto "deverá ser viável economicamente, quer para o concedente [o Estado], quer para o concessionário".
Só rodovia é competitiva
Num prazo de 30 anos, a AT Kearney prevê que os cofres públicos garantam uma contrapartida de 213 milhões de euros em valor actualizado líquido (VAL), já descontando os 74 milhões que se perderão com o desaparecimento dos terminais na margem norte. O relatório diz que, em 2048, a Trafaria poderá contribuir directamente para o produto interno bruto (PIB) com 35 milhões de euros e gerar 340 postos de trabalho directos. Acrescenta ainda que a inexistência desta infra-estrutura ou de capacidade em Lisboa "poderá onerar a economia regional em 50 a 80 milhões por ano".
No entanto, a consultora deixa alertas para o caso de a ideia do executivo, que tem sido muito contestada, avançar. Tendo em conta que cerca de 70% da carga movimentada em contentores no porto de Lisboa tem origem ou destino na margem norte do Tejo, o documento refere que o modo intermodal de e para a Trafaria "mais interessante para os agentes económicos" é a rodovia, "não se apresentando outras soluções economicamente competitivas".
A AT Kearney diz mesmo que, "a não serem criadas as acessibilidades rodoviárias", o projecto "perderá significativamente competitividade a favor de portos alternativos". No relatório escreve-se que o escoamento de contentores por rodovia seria feito através de uma nova ligação directa entre o novo terminal e o IC20, numa extensão de um quilómetro e com um custo de dois milhões de euros.
Até aqui, a alternativa mais falada, e que também consta do estudo, é a ferrovia, numa linha de oito quilómetros que ligará o terminal ao Poceirão (continuando para o Setil) e cujo investimento rondará os 160 milhões. Além do relatório da AT Kearney, os deputados da Comissão parlamentar de Economia e Obras Públicas receberam todos os estudos feitos nos últimos anos sobre esta matéria.
Ontem, cerca de uma centena de surfistas organizou-se num círculo no mar, na Costa da Caparica, como forma de protesto contra o que consideram "um crime ambiental" e uma "ameaça" para as praias da zona. Além das questões ambientais, a contestação tem surgido muito da margem sul do Tejo, com os autarcas a queixarem-se que a ideia do executivo contraria os planos aprovados para aquela zona. E há também muitas vozes críticas da ideia de um novo porto de águas profundas, por existir já em Sines uma infra-estrutura deste tipo.
O projecto foi anunciado em Fevereiro pelo Governo,
mas só em Junho ficou concluído o relatório encomendado à AT Kearney para
avaliar a viabilidade da transferência de contentores para a Trafaria. A
consultora defende a ideia do Governo, prevendo que o porto de Lisboa atinja o
esgotamento entre 2023 e 2026, mas só com investimento em ligações
rodoviárias.
O estudo recebido sexta-feira no Parlamento, a que o PÚBLICO teve acesso,
mostra que a capacidade dos três terminais de contentores que hoje existem na
margem norte do Tejo não será suficiente dentro de uma década, já que se prevê
que nessa altura o tráfego alcance 1,7 milhões de TEU (a medida padrão de um
contentor com seis metros).O relatório refere, tal como o executivo tinha já anunciado no início do ano, que o novo terminal da Trafaria (a concessionar a privados) tenha capacidade efectiva para receber 2,1 milhões de TEU quando se chegar à fase final do projecto. O arranque da operação está previsto para 2019, com uma capacidade inicial para cerca de um milhão. Em Fevereiro, o Governo assumiu a intenção de lançar o concurso para seleccionar um investidor ainda este ano.
A AT Kearney baseia a análise numa previsão de crescimento exponencial da procura, que culminará na movimentação de 34 a 40 milhões de toneladas de mercadorias em contentores nos portos nacionais em 2048. A concretizar-se, o tráfego será três vezes maior do que o que se regista neste momento. A manter-se a quota de mercado actual, Lisboa terá uma fatia de 36% das toneladas movimentadas.
A consultora concluiu que, entre 2023 e 2026, "é previsível o esgotamento da capacidade actual" no porto da capital, já que se prevê que atinja entre 1,5 e 1,7 milhões de TEU até essa data. E o relatório alerta para o facto de poderem "antecipar-se problemas de capacidade mais imediatos", fazendo referência ao facto de o terminal de Alcântara estar já com 70% da capacidade ocupada.
Em termos de retorno, o relatório também alinha com as garantias do Governo, referindo que o projecto "deverá ser viável economicamente, quer para o concedente [o Estado], quer para o concessionário".
Só rodovia é competitiva
Num prazo de 30 anos, a AT Kearney prevê que os cofres públicos garantam uma contrapartida de 213 milhões de euros em valor actualizado líquido (VAL), já descontando os 74 milhões que se perderão com o desaparecimento dos terminais na margem norte. O relatório diz que, em 2048, a Trafaria poderá contribuir directamente para o produto interno bruto (PIB) com 35 milhões de euros e gerar 340 postos de trabalho directos. Acrescenta ainda que a inexistência desta infra-estrutura ou de capacidade em Lisboa "poderá onerar a economia regional em 50 a 80 milhões por ano".
No entanto, a consultora deixa alertas para o caso de a ideia do executivo, que tem sido muito contestada, avançar. Tendo em conta que cerca de 70% da carga movimentada em contentores no porto de Lisboa tem origem ou destino na margem norte do Tejo, o documento refere que o modo intermodal de e para a Trafaria "mais interessante para os agentes económicos" é a rodovia, "não se apresentando outras soluções economicamente competitivas".
A AT Kearney diz mesmo que, "a não serem criadas as acessibilidades rodoviárias", o projecto "perderá significativamente competitividade a favor de portos alternativos". No relatório escreve-se que o escoamento de contentores por rodovia seria feito através de uma nova ligação directa entre o novo terminal e o IC20, numa extensão de um quilómetro e com um custo de dois milhões de euros.
Até aqui, a alternativa mais falada, e que também consta do estudo, é a ferrovia, numa linha de oito quilómetros que ligará o terminal ao Poceirão (continuando para o Setil) e cujo investimento rondará os 160 milhões. Além do relatório da AT Kearney, os deputados da Comissão parlamentar de Economia e Obras Públicas receberam todos os estudos feitos nos últimos anos sobre esta matéria.
Ontem, cerca de uma centena de surfistas organizou-se num círculo no mar, na Costa da Caparica, como forma de protesto contra o que consideram "um crime ambiental" e uma "ameaça" para as praias da zona. Além das questões ambientais, a contestação tem surgido muito da margem sul do Tejo, com os autarcas a queixarem-se que a ideia do executivo contraria os planos aprovados para aquela zona. E há também muitas vozes críticas da ideia de um novo porto de águas profundas, por existir já em Sines uma infra-estrutura deste tipo.
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