Funcionários das secretas vão ser obrigados a dizer se são
maçons.
Por Liliana Valente e Susete Francisco
publicado em 26 Jul 2013 in (jornal) i online
Projecto de lei do PSD e CDS impõe período de nojo até três
anos. Nova entidade vai tutelar matérias em segredo de Estado
Os partidos da maioria querem que os agentes das secretas
passem a fazer um registo de interesses no qual terão de revelar se pertencem à
Maçonaria. O projecto de lei entregue pelos dois partidos no parlamento
estabelece que no documento terá de constar a "filiação, participação ou
desempenho de quaisquer funções em quaisquer entidades de natureza
associativa". Uma definição que abarca as lojas maçónicas.
Teresa Leal Coelho, vice-presidente da bancada do PSD e uma
das autoras das propostas, assume que é essa a intenção da maioria. "Em
democracia não há nenhuma razão que justifique propósitos de natureza política
secretos", afirmou ao i.
A proposta do PSD e do CDS, ontem entregue na Assembleia da
República, surge depois das sucessivas polémicas que envolveram o ex-director
do SIED (Serviços de Informações Estratégicas de Defesa), Jorge Silva Carvalho,
algumas das quais envolvendo ligações à Maçonaria. Teresa Leal Coelho foi,
aliás, a autora de um relatório sobre as secretas que, numa versão preliminar,
chegou a apontar para "indícios e suspeitas do envolvimento" de Silva
Carvalho "com grupos de pressão pretensamente instalados na sociedade
portuguesa, nomeadamente a ramos da Maçonaria".
O projecto da maioria obriga a que os funcionários, agentes
e dirigentes das secretas façam um registo de interesses bastante alargado.
Além da participação em entidades de natureza associativa - o que também
inclui, por exemplo, filiação partidária - têm de ser declaradas "todas as
actividades públicas ou privadas, remuneradas ou não", desempenhadas pelo
agente "desde o início da sua vida profissional e cívica", incluindo
"actividades comerciais ou empresariais e o exercício de profissões
liberais". O desempenho de "quaisquer cargos sociais, ainda que a
título gratuito", a prestação de serviços remunerados de "qualquer
natureza" ou a participação no capital de sociedades - pelo próprio, o
cônjuge, unido de facto ou pelos filhos - são também de declaração obrigatória.
O registo de interesses será entregue ao secretário-geral
dos serviços de informações e constituirá matéria "classificada" -
leia-se sob sigilo. O incumprimento determina a "cessação da relação
jurídica de emprego". Mais: a impossibilidade de trabalhar na
administração pública durante cinco anos e uma sanção monetária que poderá
ascender ao total das remunerações "nos últimos cinco anos".
Outra novidade da proposta, em relação à actual lei, passa
pela definição de um "período de nojo" em que os "espiões"
podem ficar impedidos - por um período máximo de três anos - de passar para o
sector privado, em caso de "manifesta incompatibilidade com as finalidades
ou o funcionamento do Sistema de Informações ou com a segurança e interesse
nacionais". A proposta do PSD e do CDS estabelece que caberá ao
secretário--geral decidir, caso a caso. As situações de impedimento darão lugar
a uma remuneração aos agentes.
As alterações são de tal ordem que a proposta da maioria
atrasa seis meses a entrada em vigor destas disposições para os actuais membros
das secretas, um período durante o qual estes "podem solicitar a cessação
de funções". Se não optarem pela saída neste meio ano, terão dez dias para
apresentar também um registo de interesses.
Outra das mudanças passa pelo fim da criação automática de
um vínculo ao Estado ao fim de seis anos - outra polémica que envolveu Silva
Carvalho, que foi reintegrado nos quadros da presidência do Conselho de
Ministros.
Teresa Leal Coelho rejeita, no entanto, uma relação de
causa-efeito. "Não é por causa de um caso concreto que desencadeamos esta
alteração. Houve perturbações que criaram algum alarme social em relação aos
serviços de informação."
SEGREDO DE ESTADO TAMBÉM MUDA
Hoje, PSD e CDS entregam no parlamento
mais dois projectos de lei, agora sobre o segredo de Estado, que prevêem a
criação de uma entidade que ficará com a tutela das matérias classificadas. De
acordo com Teresa Leal Coelho, a intenção é pôr em prática um sistema
semelhante ao que existe nos EUA, onde é possível saber as áreas e o volume das
matérias em segredo de Estado (sem que se conheça o conteúdo)
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