segunda-feira, 8 de julho de 2013
A lobotomia ou o 25 de Novembro de Portas .
A lobotomia ou o 25 de Novembro de Portas
Paulo Gaião
11:26 Segunda feira, 8 de julho de 2013 in Expresso online
No filme Voando sobre um Ninho de Cucos a obsessiva enfermeira Ratched condena McMurphy a uma lobotomia.
Foi isso que aconteceu agora a Portas.
Primeiro fizeram-lhe a lobotomia. Depois puseram-lhe o pin de vice-primeiro-ministro e deram-lhe as funções principais no governo.
Salazar, depois de cair da cadeira e ser operado, também continuou a receber ministros e a dirigir o país...
É Portas quem trata de tudo.
Da economía de crescimento onde não há nada para crescer.
Das relações com a troika porque quem manda é esta e o interlocutor até convém estar lobotomizado para não se aperceber de nada.
Da reforma do Estado que é impossível de fazer hoje com o país exausto e em recessão, tendo-se perdido a oportunidade de a fazer há dois anos, no início do memorando.
O sistema do grande hospital não permite caminhos divergentes e rupturas .
Portas regressa agora bem comportado ao governo, sem os impulsos de ontem. Carta de demissão? Que foi isso? Demissão irrevogável? Nunca ouvi falar. Maria Luis Albuquerque? Depois da lobotomia, Portas é capaz de lhe servir o café e arrumar o gabinete todos os días.... com o uniforme de vice-primeiro-ministro.
Angela Merkel e Mario Draghi, os Grandes Arquitectos, ditaram a sentença.
Cavaco dirigiu a cirurgia na mesa das operações.
Passos manejou, a medo, para não matar Portas e fazer dele só um vegetal.
Os banqueiros anestesiaram-no com telefonemas.
Tentáculos do PSD em muitas redes encheram os balcões do anfiteatro onde a lobotomia estava a ter lugar.
Hoje percebe-se bem a importância do papel dos comentadores de antena do regime, mesmo que eles pareçam próximos do lobotomizado, como Alberto Lobo Xavier e Bagão Félix.
A sua missão é sempre preservar a harmonia do "status quo".
É o poder a sério que conta e Portas, apesar de uma vida inteira a tentar fazer do CDS um grande partido, com militantes, quadros dirigentes, dois dígitos, intrigas, jogos palacianos em barda, o rodopio constante e até a mordedura em si próprio para tentar conquistar pelo menos uma parcela desse poder a sério acaba triturado implacavelmente pela máquina avassaladora que PSD e PS dominam há 40 anos.
Portas também não pode contar com os portugueses para afrontar o sistema perverso do hospital.
Tudo é um drama para quem se tem salvo das grandes provações da história, uma guerra mundial no seu territorio, a fome em massa, as vagas de refugiados.
Quando há um crise, os portugueses gritam porque têm medo das rupturas, das soluções fora da caixa, de Angela Merkel, até das eleições e de existir simplesmente, como diz o filósofo José Gil.
Foi medo que Portas também teve. Talvez se preparasse para o golpe final ao PSD mas renunciou.
Aconteceu hoje a Portas, o que aconteceu a Cunhal no 25 de Novembro. Também teve medo, também recuou, também foi lobotomizado e também ficou a servir cafés ao regime até ao fim dos seus dias.
Sentimentos compreensíveis de ambos perante o desequilíbrio de forças e o poder colossal do sistema.
Há os mesmos partidos que governam o país desde o 25 de Abril, e espantosamente, após dois anos de derrocada desde 2011, não surgiu um único partido novo para votar em eleições antecipadas.
Nem palhaços temos. Nem direito ao nosso Beppe Grillo.
Dão-nos vegetais.
Há um conforto para Portas: a religião.
Ontem beijou a mão ao novo patriaca de Lisboa, D. Manuel Clemente, no Mosteiro dos Jerónimos.
Passos Coelho foi aplaudido pelos crentes e escuteiros e levou um beijinho da devota Maria de Jesus Barroso
No fundo, Passos salvou Portugal de uma guerra política.
Há 60 anos também agradecemos não ter participado na II Guerra com a construção do Cristo-Rei.
Temos iphones e mini-ipads mas o fundo da imagem é o mesmo do salazarismo
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