Swaps levam Albuquerque e Gaspar ao Parlamento
Partidos da maioria recuaram e deram luz verde à audição da ministra das Finanças. Actual e ex-governante vão hoje à AR
Foi uma questão de dias. A maioria PSD/CDS-PP chumbou
na semana passada um requerimento para a ministra das Finanças, Maria Luís
Albuquerque, ser ouvida no Parlamento sobre os contratos swap. Mas,
ontem, na reunião de coordenadores da comissão de inquérito a estes contratos
subscritos por empresas públicas, foi dado seguimento aos novos requerimentos
"com carácter de urgência" apresentados pelo PS, Bloco de Esquerda e PCP.
A audição da ministra das Finanças em sede de comissão parlamentar de
inquérito acontece hoje à tarde, a seguir à reunião plenária onde é votada a
moção de confiança ao Governo. Horas antes, da parte da manhã, é ouvido Vítor
Gaspar, que agora volta ao Parlamento já na qualidade de ex-ministro das
Finanças.Os bloquistas já tinham apresentado um requerimento a pedir o regresso de Maria Luís Albuquerque à comissão de inquérito (onde foi ouvida a 25 de Junho, quando era secretária de Estado do Tesouro), mas o pedido foi rejeitado pelos deputados da maioria, que agora recuaram e deram aval aos novos pedidos. A governante será assim ouvida uma segunda vez na comissão de inquérito, onde a oposição quer ver esclarecido o seu conhecimento do dossier dos contratos de cobertura de risco de crédito quando assumiu o cargo de secretária de Estado.
Albuquerque tem sido acusada em bloco pela oposição de faltar à verdade no Parlamento, onde garantiu não ter recebido em 2011 documentação sobre o caso por parte do seu antecessor, Carlos Costa Pina, secretário de Estado do Tesouro do Governo de José Sócrates. A pressão subiu de tom depois de vir a público que a governante recebeu informação sobre esta matéria em Junho de 2011 indicando uma perda potencial de 1500 milhões de euros de várias empresas públicas.
À parte o coro de críticas e as acusações de falta de condições para continuar como ministra, a governante viu no domingo o primeiro-ministro reiterar-lhe a confiança política.
Maria Luís Albuquerque: a má moeda
Daniel Oliveira
8:00 Segunda feira, 29 de julho de 2013 in Expresso online
Não preciso de repetir o que já quase todos mostraram: que
Maria Luís Albuquerque mentiu repetidamente, perante o Parlamento e os
portugueses. As suas mentiras não são comparáveis às de quem, como Sócrates e
Passos Coelho, fez promessas que não cumpriu. São mentiras sobre matéria de
facto e sobre acontecimentos passados. E têm uma agravante: a sua mentira
incriminava quem, afinal, estava a ser rigoroso no relato dos factos que
estavam em causa.
Não foi a primeira vez que Maria Luís Albuquerque tentou
queimar outros para se salvar. Quando era secretária de Estado, conduziu o
processo de decapitação de colegas de governo que fizeram contratos swap em
tudo semelhantes aos que ela própria celebrou na Refer. Conclusão: Maria Luís
Albuquerque sofre de graves falhas de carácter. E era por isso ser evidente que
a escolha do seu nome para ministra-chave deste governo deixou muita gente
alarmada. No entanto, a ministra das Finanças sabe que nada lhe acontecerá.
Assim como Rui Machete sabia que a sua passagem pela SLN não o impediria de
regressar à vida política. Porque a sucessão de pequenos e grandes escândalos
criou um clima de impunidade e anestesiou os portugueses.
Uma vez Cavaco aplicou a lei Gresham, que nos diz que a má
moeda expulsa a boa moeda, à política. Para quem deu poder a homens como Dias
Loureiro, Duarte Lima ou Oliveira Costa faltava-lhe autoridade. Mas não deixa
de ser verdade. Pessoas como Maria Luís Albuquerque, que mentem sem qualquer
consequência, que tratam de purgas no governo para salvarem a sua própria pele
e que não olham a meios para subirem na política, afastam os poucos que ainda
acreditam no serviço público e na luta pelas suas convicções. Ainda mais,
quando os honestos são, à mais insignificante e natural falha humana, postos no
mesmo patamar de gente sem princípios.
Quem é a pessoa que se tenha em boa conta que quer ser
tratada, pela generalidade da população, como um suspeito natural de
desonestidade? Quem quer perder carreiras e privacidade para, no fim, ser
enfiado no mesmo saco que Maria Luís Albuquerque, na assunção preguiçosa de que
"eles são todos iguais"? Quem se quer fazer esta escolha num País que
elege, reelege e torna a eleger Isaltino Morais? Ou quem tem convicções tão
fortes que está disposto a sacrificar quase tudo em nome de causas maiores (são
sempre poucos) ou aqueles que, de facto, não têm um bom nome a defender.
A saída do parlamento de pessoas como Honório Novo, Ana
Drago ou, há uns anos, Diogo Feio (que foi para a Europa), é especialmente
grave num momento em que a política vive uma "crise de vocações". Não
posso deixar de admirar a resistência dos que, tendo talento e dignidade, se
mantiveram tanto tempo no ativo. E tenho pena que partam. E é também por isso
que me incomodam as generalizações sobre os políticos, como se fosse tudo
"farinha do mesmo saco". Esse é o discurso que medíocres e desonestos
mais apreciam. Que permite à nova ministra das Finanças mentir como mentiu sem
temer pelo seu lugar. Afinal de contas, ela é, diz o povo, apenas mais uma
igual a todos os outros.
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