sexta-feira, 12 de julho de 2013

Calor coincidiu com excesso de três a quatro centenas de mortes este mês.

Em três décadas – de 1975 a 2005 - a temperatura na Península Ibérica aumentou a uma velocidade três vezes superior ao resto do planeta. O estudo refere um aumento de 0,5 graus por década.
Até ao final do actual século, a temperatura na Península Ibérica vai aumentar ainda mais: as previsões mais pessimistas apontam para mais seis graus no Verão e dois a três no Inverno.
Sul da Península Ibérica terá clima de deserto em 2100



Calor coincidiu com excesso de três a quatro centenas de mortes este mês

Por Mariana Oliveira
13/07/2013 in Público

Maioria das vítimas foram idosos. 60% das mortes notificadas às autoridades de saúde tinham 85 ou mais anos. A partir de amanhã, temperaturas voltam a subir mas não devem atingir os 40 graus
As temperaturas elevadas que afectaram Portugal coincidiram com uma mortalidade "acima do valor esperado" na primeira semana de Julho, que resultou num excesso entre três a quatro centenas de mortes. Os dados constam do Boletim de Vigilância Epidemiológica da Gripe do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA), que inclui a vigilância diária da mortalidade.
O director-geral da Saúde, Francisco George, confirma o aumento da mortalidade, mas diz que ainda não possui números concretos sobre este fenómeno. "Esses indicadores apontam para um excesso de mortalidade que sabemos hoje corresponde a idosos, principalmente pessoas com mais de 85 anos", afirma Francisco George. E acrescenta: "Os idosos devido à onda de calor descompensaram os seus problemas crónicos, o que precipita o final das suas vidas".
São situações que ocorrem em cenários de temperaturas extremas, sejam quentes ou frias. "Nas mortes que nos foram notificadas 60% correspondem a idosos com 85 e mais anos. Os restantes praticamente todos são pessoas com 75 ou mais anos", precisa o director-geral da Saúde. O médico adianta que o calor perturba o funcionamento do centro que regula a temperatura corporal e que isso gera uma descompensação nos idosos, que habitualmente sobrem de vários problemas crónicos.
Francisco George insiste que é preciso estudar melhor o fenómeno e que, por vezes, devido a esta situação no mês seguinte ao fenómeno metereológico extremo se regista uma baixa na mortalidade. "Em Portugal morrem cerca de 105 mil portugueses anualmente, mas a morte não é regular. No mês de Julho morrem normalmente entre 7000 a 8000 mil pessoas", contabiliza o director-geral da Sáude. O gráfico do boletim do INSA mostra que na 27.ª semana do ano, entre 1 e 7 de Julho morreram mais de 2300 pessoas, um valor acima do esperado para esta época do ano (o número habitual fica um pouco abaixo dos dois mil óbitos).
Já na semana anterior a mortalidade esteve acima do expectável, tendo-se registado quase 2000 óbitos (mais cerca de uma centena)
Na primeira sexta-feira de Julho, as autoridades ambientais e de saúde alertavam para "condições meteorológicas preocupantes" e apelaram aos cidadãos para que tomassem medidas de prevenção, de modo a evitar um excesso de mortalidade equivalente ao da onda de calor de 2003, quando se registaram 2100 mortes adicionais.
As temperaturas estiveram perto dos máximos históricos na generalidade do país, com várias localidades do país a atingirem temperaturas superiores aos 40 graus. As autoridades alertaram para a necessidade da população adoptar medidas de prevenção que passam por beber muita água mesmo sem ter sede e ficar em casa ou em recintos com zonas frescas, resguardadas do sol, mesmo durante a noite.
A partir de amanhã, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera prevê um aumento gradual das temperaturas que, contudo, não deverão atingir os máximos do início do mês. "A partir de domingo [amanhã] prevemos um aumento gradual das temperaturas, mas não para os valores acima dos 40 graus que tivemos na semana passada", afirma a meteorologista Paula Leitão. No fim-de-semana parte do país vai estar com o céu nublado e a as temperaturas máximas vão estar dependentes das nuvens se dissiparem ou não no período da manhã.
Estudos mostram que o calor foi o tipo de desastre natural mais mortífero em Portugal no último século. O Verão de 2003 foi o mais fatal: mais de 2100 mortes adicionais, segundo a Direcção-Geral de Saúde. Outros anos problemáticos foram 1981 (1900 mortes), 1991 (1000), 2005 (462) e 2006 (1259).


Portugal e Espanha sem água potável já em 2025


Portugal e Espanha serão os dois países europeus mais afectados pelo aquecimento global em 2025, ano em que não haverá água potável na Península Ibérica, segundo previsões das Nações Unidas. A escassez dos recursos hídricos, provocada pelo aumento da temperatura, resultado do aquecimento, afectará milhões.

Os sucessivos alertas das Nações Unidas apontam para a necessidade urgente de se duplicarem os esforços para aumentar a poupança de água, com risco de milhões de pessoas sofrerem com falta deste recurso. 'Se todos os países do Mundo deixassem de emitir gases com efeito de estufa, seriam necessários três séculos para a natureza recuperar dos danos sofridos', afirmou o meteorologista Anthímio de Azevedo, baseando-se nas conclusões do Painel Intergovernamental para Alterações Climáticas. O problema de falta de água em Portugal já é uma realidade (ver info): 'Não é algo que acontecerá num futuro longínquo. É daqui a 17 anos e afectará a maioria dos portugueses.'

A explicação, esclarece Anthímio de Azevedo, está no posicionamento do anticiclone dos Açores que tem vindo a mudar a sua localização. 'A tendência é ficar mais a Sudeste, num triângulo formado entre as ilhas Britânicas, Açores e Península Ibérica, bloqueando as superfícies frontais que trazem chuva para Portugal e Espanha', sustenta, acrescentando que o percurso dessas massas de ar será alterado: 'Os países mais afectados serão as ilhas Britânicas, que já estão a ser fustigadas com inundações, e os do Norte da Europa. Quando as massas de água chegarem à Península Ibérica, já vêm sem chuva.'

Na Madeira e no Algarve, já está em prática um mecanismo que poderá ser a solução para o problema da escassez de água potável. As centrais de dessalinização permitem transformar a água salgada do mar em água potável.

FILIPE DUARTE SANTOS, PROFESSOR CATEDRÁTICO: 'TEMOS POUCO TEMPO PARA MUDAR COMPORTAMENTOS'

Correio da Manhã – As previsões apontam 2025 como o ano em que Portugal e Espanha ficam sem água potável...

Filipe Duarte Santos – O problema da água é muito grave. Todos os modelos de alterações climáticas apontam problemas enormes para o Sul da Europa. A tendência para Portugal é a de que os períodos de seca sejam cada vez mais frequentes.

– O que pode ser feito para inverter essa tendência?
– Temos pouco tempo para mudar comportamentos. A população e os governantes têm de se consciencializar de que o Planeta está a mudar.


– O degelo, o aumento do nível médio do mar e a falta de água estão relacionados como?
– Caso derretam os campos de gelo acima do mar, como os glaciares da Gronelândia e das grandes montanhas, haverá graves danos. Calcula-se que, se todo esse gelo desaparecer, o nível do mar aumente cerca de sete metros. Esta subida da água salgada acabará por contaminar os depósitos de água doce, deixando de existir água potável.
Correio da Manhã


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