terça-feira, 9 de julho de 2013

Dias Negros ... na Imprensa Generalista.

Dias negros


08 Julho 2013, 00:01 por Eduardo Cintra Torres
ect@netcabo.pt

Os jornais e as revistas estão mais magros. A publicidade na imprensa decresce todos os anos. Os anunciantes, que vão aproveitando os preços de saldos das televisões, concentrando o investimento em publicidade nos ecrãs, também diminuíram drasticamente os anúncios televisivos nos primeiros meses do ano. O mesmo na rádio.
Os jornais e as revistas estão mais magros. A publicidade na imprensa decresce todos os anos. Os anunciantes, que vão aproveitando os preços de saldos das televisões, concentrando o investimento em publicidade nos ecrãs, também diminuíram drasticamente os anúncios televisivos nos primeiros meses do ano. O mesmo na rádio.
O modelo de negócios da imprensa generalista foi criado há quase dois séculos: o preço dos jornais baixou quando a publicidade se institucionalizou. Todos tinham a ganhar: os leitores, que não só recebiam informação jornalística, como informação comercial por baixo custo; as empresas jornalísticas a expansão do negócio; o jornalismo pôde adquirir a máxima independência possível; os anunciantes dispuseram de um veículo credível estável para a promoção dos seus serviços e produtos.
Hoje, se a imprensa mundial sofre com as profundas mutações do digital e do consumo mediático, os jornais portugueses são triplamente castigados, pois também sofrem com a crise económica num país tradicionalmente de pouca leitura - e sofrem a partir de agora mais ainda com as consequências da crise política aberta por Paulo Portas. Portugal poderá ter em breve de se vergar a um segundo resgate, mas para a imprensa não haverá segundo resgate. A sobrevivência de alguns títulos é já hoje incompreensível se não por jogadas de bastidores que nada têm a ver com a sua real economia. Há poucas semanas, um editorial do Público insurgia-se contra a possibilidade de um banco intervencionado pelo Estado estar a "ponderar" perdoar uma dívida brutal do grupo Controlinveste, que tem vivido ligado à máquina bancária sem conseguir que alguém lhe deite a mão: um "perdão" da gestão irresponsável, ou das gestões irresponsáveis, quer dessa empresa de comunicação falida, quer dos bancos que oxigenam negócios falidos enquanto não perdoam aos pobres que lhe devam um euro.
Ao mesmo tempo, vai-se operando uma poderosa alteração no espaço público: as redes sociais, como o Facebook, deixaram de o ser apenas, para se tornarem órgãos de informação - não de jornalismo, mas de informação, sendo neles que centenas de milhares ou milhões de pessoas procuram informações, artigos, podcasts e vídeos dos media jornalísticos. Parte da publicidade desviou-se para aí, embora sem os efeitos esperados: a publicidade no Facebook é horrível, os anúncios são básicos, feios, infantilizados, intrusivos ou, pior, mascarados de mensagens enviadas por "amigos". Feitos pelos próprios utilizadores, os conteúdos das redes sociais não contam como trabalho, não se pondo a hipótese de este ser pago, mas ao escrevermos os nossos desabafos, frioleiras ou coisas mais sérias no Facebook estamos a "trabalhar" para os proprietários do Facebook facturarem a anunciantes convencidos de que prestamos atenção aos seus anúncios, reais ou dissimulados.
Com negócios de televisões, rádios e jornais "a mais" para um país em crise profunda, compreende-se o nervosismo das redacções, mas não o dramatismo melodramático que atingiu o jornalismo português, uma atitude suicidiária que contribuiu menos para a informação do que para a exacerbação das emoções no espaço público. Vejam-se as consequências no Facebook: há mais pontos de exclamação do que palavras. Sem querer ser injusto com o esforço titânicos do bom jornalismo que se pratica com grande dificuldade e muito trabalho em alguns media, considero que os media portugueses têm também ajudado a cavar a cova onde se estão a enterrar, ao contribuírem para a emocionalização do espaço público. Portugal tem um problema até hoje insolúvel: não nos comportamos como uma sociedade, mas como uma comunidade. Tudo é vivido intensamente, com pontos de exclamação, teorias da conspiração ouvidas à porta de cada vizinha ou nas notícias, gritos de escândalos por cada palavra que se ouve ou se vê. Hoje só consigo ver dias negros

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