Merkel
endurece aviso a Londres perante perspectiva de "hard Brexit"
ANA FONSECA PEREIRA
06/10/2016 – 20:28
Um
dia depois de um discurso muito duro de Theresa May sobre imigração,
chanceler alemã avisa que só tem acesso ao mercado único quem
"aceita completamente" liberdade de circulação.
A chanceler alemã
voltou nesta quinta-feira a avisar o Reino Unido de que só aceitando
a liberdade de circulação de pessoas poderá ter acesso ao mercado
único quando formalizar a sua saída da União Europeia.
A posição de
Merkel não é nova – é, aliás, a posição oficial das
instituições dos restantes Estados-membros –, mas ganha maior
relevância por ter sido reafirmada um dia depois de a
primeira-ministra britânica, Theresa May, ter encerrado a convenção
do Partido Conservador com um discurso muito duro sobre imigração.
“Eu sei que muita gente não gostará de ouvir isto, mas para quem
está desempregado ou recebe um salário baixo por causa da imigração
não qualificada, a vida não parece justa”, afirmou a líder
conservadora, fazendo tábua rasa dos estudos económicos de que a
imigração tem, no mínimo, efeitos nulos sobre o desemprego ou os
salários.
“Não vamos deixar
a UE para desistir novamente de controlar a imigração”,
acrescentou, dando a entender que, quando em Março invocar o artigo
50 do Tratado de Lisboa, dando início às negociações com a UE,
optará por aquilo que é já designado como “hard Brexit” –
deixando a União sem um acordo que lhe garanta o acesso livre ou
preferencial ao mercado único europeu.
“As negociações
não serão fáceis”, admitiu nesta quinta-feira Merkel, num
discurso perante a confederação da indústria alemã em que pediu o
apoio dos empresários a uma defesa intransigente das regras
europeias. “Se não dissermos que o acesso ao mercado único está
ligado à aceitação completa da liberdade de movimento [de
pessoas], então toda a gente na Europa vai começar a fazer aquilo
que quer”, disse a chanceler, num tom menos conciliador do que o
adoptou após o referendo britânico de 23 de Junho.
“O total acesso ao
mercado único só pode acontecer mediante o reconhecimento das
quatro liberdades” [pessoas, mercadorias, serviços e capital],
insistiu, perante o aplauso dos industriais presentes – uma
reacção, escreve o jornal britânico Guardian, “levanta uma nova
interrogação no argumento dos políticos pró-Brexit britânicos de
que os empresários alemães vão pressionar inevitavelmente o seu
Governo para preservar as suas relações comerciais com o Reino
Unido e resistir à imposição de tarifas”.
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