O
ministro da Educação ainda não se demitiu?
JOÃO MIGUEL TAVARES
29/10/2016 – 00:36
Ou
Tiago Brandão Rodrigues desmente de forma muito convincente o seu
anterior secretário de Estado da Juventude e do Desporto ou o seu
único caminho é a demissão.
Deixemos por um
momento de lado o colapso moral da classe política portuguesa e dos
seus tristes jotinhas, essa subespécie que enche gabinetes
ministeriais após ter-se arrastado por universidades, com um empenho
associativo inversamente proporcional à sua aplicação académica.
A facilidade com que se continua a transitar da colagem de cartazes
para o tacho da assessoria mereceria um texto só por si, pois
demonstra bem que a cultura jobs for the boys está muito longe de
ter esmorecido. Só nesta semana foram duas demissões. Depois de Rui
Roque, adjunto para os Assuntos Regionais do primeiro-ministro, foi
agora a vez de Nuno Félix, chefe de gabinete do secretário de
Estado da Juventude e do Desporto, duas demissões por terem invocado
(está em Diário da República) uma licenciatura que nunca tiveram.
No que diz respeito à produção de aldrabões académicos, Portugal
pode começar a apresentar-se como país exportador.
Mas
independentemente de o governo estar a necessitar de uma profunda
auditoria às habilitações dos seus membros de gabinete, vale a
pena concentrarmo-nos naquilo que por esta altura já deveria ser
óbvio para todos: ou Tiago Brandão Rodrigues desmente de forma
muito convincente o seu anterior secretário de Estado da Juventude e
do Desporto, João Wengorovius Meneses, ou o seu único caminho é a
demissão. Wengorovius Meneses, que bateu com a porta do ministério
em Abril, garantiu ao Observador que Brandão Rodrigues sabia
perfeitamente que Nuno Félix tinha mentido nas suas habilitações,
e que essa havia sido uma das razões para a sua demissão. O
ministério da Educação negou que o ministro tivesse conhecimento
de qualquer irregularidade – só que, como explicação, é curto.
Dizer que há aqui
apenas a palavra de um ministro contra a palavra de um ex-secretário
de Estado não convence ninguém que tenha lido com alguma atenção
a investigação do Observador. Por uma razão simples: a demissão
de Wengorovius Meneses foi muito badalada, e já em Abril ele havia
afirmado publicamente que saía “em profundo desacordo” com o
ministro da Educação no “modo de estar no exercício de cargos
públicos”. De resto, recusou-se a adiantar mais por respeito à
“dignidade do Estado” e à “estabilidade política”. Agora, o
ex-secretário do Estado vem confirmar histórias inacreditáveis
sobre Nuno Félix – hesito sobre qual será a minha favorita, se o
facto de ele ter um motorista para o ir buscar e levar todos os dias
a São Martinho do Porto (108 quilómetros de Lisboa, 432 quilómetros
diários para o pobre motorista), se o facto de manter, em
acumulação, o trabalho na secretaria de Estado do Desporto com o
cargo de olheiro (juro) do Colónia FC –, mas vem dizer mais:
Wengorovius afirma preto no branco que o ministro o impediu de
exonerar Nuno Félix, nome que lhe havia sido imposto por Brandão
Rodrigues aquando da aceitação do cargo e que era um homem da sua
confiança directa, tendo transmitindo, segundo o Observador, “essa
ordem por e-mail”.
Ora, se há mails,
há provas. Um dos dois está a mentir. Portanto, a bem da
salubridade da República, espero que esse mail seja publicamente
revelado se Tiago Brandão Rodrigues continuar a garantir que não
tinha qualquer consciência das irregularidades de Nuno Félix. Se se
provar que tinha, o caminho só pode ser um: apresentar a sua
demissão do cargo de ministro da Educação, que não é com certeza
o lugar mais adequado do país para andar a brincar às
licenciaturas.
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