Grandes
obras vão reabilitar os desleixados espaços verdes da Avenida da
Liberdade
POR O CORVO • 27
OUTUBRO, 2016
O cenário actual
está longe de ser animador. Os espaços verdes da principal artéria
da capital encontram-se numa situação de evidente decadência, que
deverá ser revertida em breve. A Câmara Municipal de Lisboa (CML)
tem planeadas, para começar durante o mês de Novembro, grandes
obras de reabilitação daquelas áreas, e que deverão reverter o
estado de enorme carência em que se encontram. A intervenção terá
sido solicitada à câmara pela Junta de Freguesia de Santo António,
entidade responsável pela gestão dos referidos espaços, desde o
início de 2014, na sequência do processo de reforma administrativa
da cidade e da descentralização de competências do município. Mas
a junta tem demonstrado alguma dificuldade em assegurar a sua
manutenção, queixando-se de falta de meios técnicos, humanos e
financeiros para assegurar o seu bom estado. Tanto que há quem peça
o regresso à tutela camarária.
As obras que agora
se anunciam são consideradas “estruturais”, prevendo a
recuperação quase integral dos espaços. Deverão envolver a
mobilização total de terras em muitas áreas, bem como a renovação
de canalizações, sistema de rega e drenagem das zonas ajardinadas e
arbustivas, bem como a impermeabilização de alguns dos lagos agora
degradados. Mas envolverá também intervenção sobre o arvoredo, a
qual deverá incluir o corte de diversas palmeiras que não
sobreviveram à praga do escaravelho vermelho. Depois de realizada a
intervenção, a área deverá continuar a manter-se sob a alçada
dos serviços da Junta de Freguesia de Santo António. “Acabámos
de comprar uma nova máquina de varredura, que nos custou 70 mil
euros e vem substituir a outra, que não tinha tanta capacidade”,
explica ao Corvo Vasco Morgado (PSD), o presidente da junta.
Os trabalhos de
regeneração dos espaços verdes da avenida surgem numa altura em
que cresce o volume da contestação à alegada incapacidade
operacional da autarquia da freguesia de Santo António. Ainda esta
semana, foi lançada, pela Plataforma em Defesa das Árvores, uma
petição “pela atribuição à Avenida da Liberdade da condição
de conjunto arbóreo estruturante do Corredor Verde de Lisboa e seu
retorno à tutela da CML”. Nela, denuncia-se a “evidente
inexistência de manutenção do coberto arbóreo” por parte da
junta, exemplificando-se com “as dezenas de árvores juvenis mortas
por falta de rega” ou as caldeiras por preencher. Tal situação,
acusa a petição, “coloca em risco as invulgares colecções
botânicas” da avenida.
O texto denuncia
ainda “a destruição completa de todas as placas ajardinadas, o
abandono de fontes e lagos, a insuficiente varredura e pior recolha
de lixo”, além da “inexistência de informação técnica e
histórica no local”. Por causa disso, e devido ao que os
peticionários dizem ser a falta de um “plano de intervenção
urgente por parte da actual tutela e, portanto, uma comprovada
incapacidade da mesma em gerir, manter e valorizar um dos espaços
verdes mais representativos de Lisboa”, pede-se a atribuição do
estatuto de estruturante a toda a Avenida da Liberdade,
“reintegrando-a como peça fundamental do Corredor Verde idealizado
por Gonçalo Ribeiro Telles”. E, em consequência, “o retorno
imediato para a Câmara Municipal de Lisboa da gestão e manutenção
do conjunto arbóreo, espaço público, espaços verdes e mobiliário
urbano da Avenida da Liberdade”.
Vasco Morgado
reconhece as dificuldades, mas defende-se das acusações, que estão
longe de ser novas. “Com as competências, também vieram as
complicações. Manter aquele espaços requer meios, pois, por
exemplo, todos os dias, caem 35 metros cúbicos de folhas. Razão
pela qual tivemos que adquirir a nova máquina”. Mas, de acordo com
o autarca, há outras causas para o mau estado dos jardins da
avenida: “Existe a dificuldade em manter os relvados saudáveis nas
áreas que sofrem de sombreamento de grandes árvores; há o facto de
o fluxo rodoviário na avenida ter aumentado, nos últimos tempos, em
consequência das muitas obras em curso; e há também a pressão
turística e a falta de civismo de muitas das pessoas que frequentam
os quiosques ali existentes e que pisam os canteiros”.
Texto: Samuel
Alemão
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