Lisboa
vai ganhar sete mil lugares de estacionamento até final de 2017
INÊS BOAVENTURA
26/10/2016 – 01:01
No
debate sobre o estado da cidade, na Assembleia Municipal de Lisboa,
Fernando Medina desdobrou-se em anúncios e a oposição respondeu
com críticas. A mobilidade (ou a falta dela), a habitação e a
higiene foram algumas das áreas debaixo de fogo
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os gostos
Reabertura do Teatro
Capitólio, inauguração da Biblioteca de Marvila, início das
demolições nos terrenos onde vai nascer a nova Feira Popular de
Lisboa e criação de milhares de lugares de estacionamento na
cidade. O presidente da Câmara de Lisboa aproveitou a sua
intervenção inicial no debate sobre o estado da cidade, que se
realizou esta terça-feira na Assembleia Municipal de Lisboa, para
fazer um vasto conjunto de anúncios.
Ao longo de um
discurso de mais de 50 minutos, Fernando Medina fez saber que a
cidade vai disponibilizar, até final de 2017, sete mil novos lugares
de estacionamento. Segundo explicou, os beneficiários primeiros
serão os residentes, que a troco de “avenças reduzidas” poderão
deixar os seus carros em parques instalados temporariamente em
espaços que “hoje não estão utilizados”. Já os
“frequentadores de transportes públicos” terão acesso a parques
“próximos de estações de metro e de grandes vias”, através da
compra de bilhetes com um custo “simbólico”. Segundo foi
transmitido ao PÚBLICO pela câmara, esses últimos parques
localizam-se em Carnide/Pontinha, Pedrouços, Ameixoeira, estádio do
Sporting e estádio do Benfica e totalizam perto de quatro mil
lugares.
Fernando Medina
disse ainda que que “a primeira pedra da nova casa da Feira
Popular”, em Carnide, vai ser lançada no dia 3 de Novembro.
Segundo explicou, essa é a data em que terão início “as
demolições das construções que ali se encontram”, operação a
que se seguirá a “construção de novas acessibilidades ao
espaço”.
Ainda no próximo
mês, será inaugurada a Biblioteca de Marvila. Também o Teatro
Capitólio, no Parque Mayer, terá a sua “primeira abertura”, no
âmbito do Festival Mexefest. Depois disso, explicou o autarca, a
ideia é que o espaço tenha “utilização como espaço de
cultura”, com ênfase na “cultura popular”. O PÚBLICO apurou
que a intenção da câmara é abrir um concurso público para a
concessão da exploração deste equipamento.
Lisboa, estaleiro de
obras
Para lá da
intervenção “repleta de anúncios, alguns até repetidos” de
Fernando Medina, o líder da bancada do PSD na Assembleia Municipal
centrou o seu discurso numa pergunta : “Está Lisboa melhor ou
pior?”. Como já seria de esperar, o veredicto de Sérgio Azevedo
foi negativo, tendo o deputado apontado como uma das áreas críticas
a da mobilidade. Neste domínio, o eleito social-democrata criticou
as obras, em “excesso” e feitas em simultâneo, que “entupiram
a cidade nos últimos meses, tornando a circulação automóvel por
vezes impossível”.
Já Vasco Santos, do
MPT, falou numa cidade transformada num “autêntico estaleiro de
obras”, “pensadas com base no calendário eleitoral e não no
bem-estar” das pessoas. Também Miguel Santos, do PAN, considerou
que o centro de Lisboa é hoje “um estaleiro” e criticou que os
muitos projectos em execução não tenham sido objecto de uma
apresentação conjunta aos cidadãos.
Por sua vez, Natacha
Amaro, do PCP, considerou que as obras em curso “esventram a cidade
e tornam-na quase intransitável”, falando ainda em “imobilidade
total” e numa “situação caótica” nas ruas. “É
incompreensível a overdose de obras”, afirmou depois o centrista
Diogo Moura, considerando que ela “está a infernizar a vida dos
lisboetas”.
Sobre este assunto,
Fernando Medina pouco mais disse do que informar que as obras no Eixo
Central e na frente ribeirinha estão “dentro dos calendários
previstos”, devendo as primeiras chegar ao fim “no início de
2017” e as segundas “entre o primeiro e o segundo trimestre”
desse ano. A isso o deputado socialista Hugo Lobo acrescentou que as
obras em curso eram “necessárias” e vão-se traduzir numa
“melhoria assinalável da qualidade de vida” dos lisboetas.
Promessa falhada na
habitação
Também na área da
habitação se ouviram críticas várias à actuação do executivo,
nomeadamente à demora na concretização do Programa Renda
Acessível. Sérgio Azevedo sublinhou que ele “está inteiramente
dependente da vontade” dos investidores privados, enquanto o
bloquista Ricardo Robles sublinhou o reconhecimento de Fernando
Medina de que até ao fim deste mandato haverá “zero casas
entregues”.
Para o líder da
bancada do BE, do qual se tem falado como potencial candidato à
Câmara de Lisboa nas autárquicas de 2017, o actual executivo
“falhou” naquele que devia ser visto como um dos “pilares
fundamentais” da governação: o da habitação. Ricardo Robles
entende que este “é um direito cada vez menos garantido na
cidade”, acrescentando que “o que era urgente há um ano
tornou-se uma emergência”.
“Esta cidade não
é para velhos, nem para novos, é para investidores”, acusou,
apelidando o Programa de Renda Acessível de “política da promessa
falhada”. Quanto ao Programa Renda Convencionada, o deputado
considerou que com ele se está “a tentar apagar um incêndio
florestal com uma chávena de água”.
Já Fernando Medina
apelou a que houvesse “realismo” na discussão e frisou que “não
é fisicamente possível” concluir até ao fim do próximo ano a
construção de habitações ao abrigo de um programa no qual se
começou a trabalhar em meados de 2015. O autarca fez ainda saber que
até ao fim deste ano será entregue “a milésima chave de
habitação municipal” do mandato.
Higiene urbana com
problemas
Outro dos temas
discutido neste debate sobre o estado da cidade (e que ao longo dos
últimos meses tem sido profusamente abordado em vários dos fóruns
na Internet centrados em Lisboa) foi o da higiene urbana. Magalhães
Pereira, do PSD, não hesitou em falar numa cidade “suja”, onde a
recolha de lixo é feita “de forma tardia e descoordenada com as
vivências da cidade”, o que traz “situações de pestilência”
e “focos de insalubridade”.
“A sujidade
continua a ser uma das principais críticas de quem nos visita”,
afirmou por sua vez Diogo Moura, do CDS. Luís Newton, eleito do PSD
que preside à Junta de Freguesia da Estrela, também condenou os
problemas na higiene urbana, considerando que este é “mais um
sinal da desorganização e falta de planeamento que reina na cidade”
e apelando a uma descentralização de competências nas freguesias.
Também nesta área
Fernando Medina deixou uma novidade: a de que uma parte das verbas da
Taxa Municipal Turística vai ser consagrada à “aquisição de
meios adicionais para o reforço da limpeza”. Segundo disse, os
beneficiários dessas verbas serão “as juntas de freguesia com
maior intensidade turística”.
De acordo com
informações a que o PÚBLICO teve acesso, aquilo que foi decidido
pelo Comité de Investimentos do Fundo de Desenvolvimento Turístico
de Lisboa é que a esse fim será destinada uma verba de 900 mil
euros, “até 2019”. A intenção é lançar “um programa de
financiamento de soluções de melhoria da limpeza urbana, com
incidência nas zonas de maior utilização turística”, atendendo
a que “um dos pontos sensíveis relativos ao grau de satisfação
dos turistas diz respeito à limpeza urbana”.
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