Presidente
da Caixa acusa Passos Coelho de faltar à verdade
António
Domingues recusa ter tido acesso a informação privilegiada antes de
tomar posse como administrador da CGD
“Não
é verdade que tenha tido acesso a informação privilegiada”,
escreve António Domingues
António
Domingues responde a entrevista de Passos ao PÚBLICO
Sónia Sapage /
23-10-2016 / PÚBLICO
O presidente do
conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos, António
Domingues, reagiu ontem, em carta enviada ao PÚBLICO, à primeira
parte da entrevista de Pedro Passos Coelho, publicada na sexta-feira.
António Domingues desmente o líder do PSD, clarificando que nunca
teve acesso a informação privilegiada antes de ter tomado posse.
António Domingues
responde a entrevista de Passos ao PÚBLICO
“Não é verdade
que tenha tido acesso a qualquer informação privilegiada da CGD
para elaborar o plano estratégico que suportou as negociações do
Governo português com a Comissão Europeia e o Banco Central
Europeu”, escreve António Domingues. “Quem conhece o sector e
tem experiência adequada sabe que a informação pública disponível
era suficiente para a elaboração de tal plano.”
O presidente da
Caixa responde assim às declarações de Passos Coelho, que
criticava o Governo por se ter gerido o dossier da Caixa de forma
desastrosa, nomeadamente ao ter proposto “fazer um processo de
reestruturação preparado por quem nem era ainda administrador do
banco”, referindo-se a António Domingues, que ainda tinha um pé
no BPI, onde integrava a administração.
“Repare”, dizia
o líder do PSD, “a mesma pessoa que não era administrador da
Caixa e tinha condicionado até a decisão de aceitar ser presidente
à solução que se encontrasse em Bruxelas para a recapitalização,
acedeu a toda a informação privilegiada da CGD quando não tinha
ainda qualquer responsabilidade formal nessa administração.”
Na mesma entrevista
ao PÚBLICO, Pedro Passos Coelho ia mais longe, admitindo que “essa
mesma pessoa, hoje, ao abrigo do sigilo, recusa-se a dar a conhecer
ao Parlamento aquilo que ele próprio conheceu” quando ainda não
tinha sido empossado. “A afirmação é, em si mesma, uma
contradição em termos”, reage Domingues. “Começa por não ser
verdade, como já referi, que tenha tido acesso a informação
privilegiada — quem se der ao trabalho de ler e entender os
Relatórios e Contas da CGD fica a saber tudo aquilo que há a saber.
Dito isto, naturalmente que as respostas a perguntas da Comissão
Parlamentar de Inquérito relativas ao período já sob a minha
responsabilidade foram também circunscritas, como
inquestionavelmente é meu dever, pelo escrupuloso cumprimento das
obrigações legais da instituição, que desejavelmente deveriam ser
conhecidas e respeitadas por todos.”
O desmentido de
António Domingues não se fica por aqui. Uma última passagem da
entrevista mereceu também a atenção do administrador da CGD. “O
novo presidente da Caixa também já disse que não fazia a
auditoria” pedida pelo Governo, dizia Passos. “Vamos ver como vai
fazer.”
Domingos corrige:
“Não é verdade que alguma vez tenha dito que não faria ou que em
algum momento tenha recusado fazer uma auditoria à Caixa Geral de
Depósitos. Não se descortina sequer que sentido teria esse
comportamento no quadro dos meus deveres e responsabilidades.”
O que Domingues
explica é que na audição parlamentar de 27 de Setembro esclareceu
“aquilo que é factual”, ou seja, “que não estava em curso uma
auditoria à CGD porque, embora sendo pública a decisão do Governo
de a solicitar, até ao presente não tinha sido pedida”, tal como
acontece, aliás, com a auditoria forense encomendada pelo
Parlamento.
Na carta enviada ao
PÚBLICO, o líder da CGD deixa ainda claro que “todos os
esclarecimentos” que agora presta já haviam sido “prestados na
audição a que fui sujeito na Comissão Parlamentar de Inquérito no
dia 27 de Setembro, com a maior abertura e sem qualquer limitação
de tempo ou de âmbito da minha parte”.
Por outro lado,
prossegue o mesmo responsável, diz estar “sempre disponível para
continuar a esclarecer o que precise de ser esclarecido” e deixa um
aviso: “não me dispensarei de repor a verdade dos factos, sempre
que necessário e em defesa dos interesses superiores da Caixa Geral
de Depósitos”.
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