“Lisboa
está o caos. Chegamos a casa sem vontade de fazer nada”
Aprendemos
os truques para entrar no elétrico 28 e andámos de metro e
autocarro em hora de ponta. Lisboetas pedem mais transportes e menos
obras ao mesmo tempo.
MARTA F. REIS
07/10/2016 09:09
Passa pouco do meio
dia e a fila para apanhar o 28 junto ao Martim Moniz ocupa as duas
paragens e um bom bocado do passeio. São quase todos turistas e a
espera para entrar no elétrico mais emblemático de Lisboa vai em
hora e meia, à torreira do sol. Não estão com um ar muito animado,
mas há um vendedor de paus de selfie a tentar fazer negócio, o que
pelo menos é uma distração. Encostada à paragem, do lado de fora,
Dina é das poucas portuguesas à vista. É para apanhar o elétrico?
Acena que sim, sem mostrar qualquer problema por não estar na fila.
“Não é passar à frente”, sorri. “Os motoristas dizem-nos
para fazermos assim. Deixamo-los entrar e depois quando já não há
lugares sentados e não querem ir vamos nós.”
Dina faz limpezas
num condomínio no Martim Moniz e duas vezes por semana tem trabalho
na Graça. A alternativa à viagem de pé no elétrico pejado de
turistas é a carreira 734 da Carris, mas é terça-feira, dia de
Feira da Ladra, e o autocarro só vai até aos Sapadores. “Pago
quase 80 euros de passe, era o que faltava ainda ter de ir a pé”.
De há uns meses
para cá a confusão com o 28 é cada vez maior, testemunha a
portuguesa de 42 anos, que já tem aproveitado pausas nas limpezas
para tirar fotografias à cena. Saca do telemóvel para mostrar do
que fala: de manhã ao final da tarde, os turistas amontoam-se e
chegam a estar parados no meio da rua. “Só visto mesmo.”
Américo, guarda republicano, passava despercebido no início da
fila, mas logo se acusa. Também ele domina o esquema para entrar no
28. “Outra hipótese é apanhar um pouco mais à frente. Alguns
turistas já fazem o mesmo.”
Não é a
chico-espertice portuguesa, ou se calhar é um pouco, mas acaba por
ser a forma de os transportes serem minimamente funcionais para quem
precisa deles e não tem todo tempo para estar à espera. Dina vem
todos os dias da zona da Parede, na linha do Estoril. Américo mora
em Santa Iria da Azoia e a saga diária nos transportes públicos
começa às 7h30. Perde mais de 3 horas por dia em trânsito. Por
isso é obrigatório afinar rotinas. “Devíamos ter mais
alternativas. Então ao fim de semana em Santa Iria da Azoia não há
quase nada. O lado bom é que vamos conhecendo as pessoas. Fazem-se
alguns amigos.”
Chega o elétrico e,
depois dos turistas, entramos os três, sem protestos de ninguém. A
viagem começa aos solavancos, mas os estrangeiros parecem encantados
com a experiência que junta o suspense dos bocados parados no
trânsito à adrenalina das travagens ruidosas. Com tanto
para-arranca, os três elétricos que garantem a carreira durante os
dias da semana a certa altura já andam praticamente colados, o que
desregula os horários. “É um bocado aleatório”, confirma
Valério, florentino a viver há dois anos em Lisboa. Apanha o
elétrico diariamente para ir da Graça a S. Bento, onde tem um
ateliê artístico com uma amiga. “Acho os transportes melhores do
que em Florença, até mais baratos. Houve foi um grande boom de
turistas e talvez não estejam a dar resposta”, analisa.
O 28 é das
carreiras mais congestionadas, mas para quem o usa diariamente não
perde a aura familiar. Os “locais” a bordo são quase sempre os
mesmos e há ainda os penduras que se aventuram até nas ruas mais
estreitas do percurso do lado de fora da carruagem. “Às vezes
quando salta o trolley o condutor nem tem de sair que eles tratam
disso”, conta Valério. A estragar a magia só os carteiristas.
Antes de sair, Américo faz questão de alertar para o perigo de ter
a mala aberta. “Chegam a estar cinco carteiristas no mesmo carro e
não são pessoas necessariamente com mau aspeto. Às vezes trazem um
casaquinho na mão para disfarçar e basta a pessoa estar distraída”.
Chiadeira ok. 45
minutos no aeroporto nem por isso Sarah e Harry vieram de Londres e
depois de uma hora à espera estão rendidos ao passeio, mesmo com
alguns pontos do percurso com uma condução mais brusca. “A espera
foi um pouco demorada, mas temos tempo e em Londres já não há
elétricos destes”, dizem. O interior do elétrico revestido a
madeira, já considerado uma das mil experiências mais importantes
do mundo, não desilude. Mas se o assunto da reportagem é
transportes também eles, recém-chegados, têm a sua reclamação a
fazer. “Estivemos 45 minutos para tirar o bilhete no metro do
aeroporto porque a máquina não tinha cartões. Teve de vir um
funcionário entregá-los à mão.” Explicamos que tem havido
problemas com o fornecedor. “Foi a pior parte até agora”, dizem.
Querem ir para a Sé
e ajudamo-los a sair na paragem certa. Apesar de o 28 ser sobretudo
procurado por estrangeiros, não há qualquer informação sobre os
locais por onde passa e os nativos acabam por servir de cicerones. No
Bairro Alto sobe mais um português para o elétrico, habituado a
estas lides. António, 86 anos, costuma usar o 28 para subir até à
Estrela. Mas ultimamente tem dias em que fica ver passar os
elétricos. A análise é curta e direta. “Muitos turistas, poucos
carros. Ao sábado e domingo pior um pouco.”
Passado 1h20
chegamos finalmente ao final da carreira no cemitério dos Prazeres
em Campo de Ourique, são mais 20 minutos do que prevê o horário da
Carris, uma viagem interminável se precisássemos realmente de a
fazer. Para baixo, já depois da hora de almoço, vai-se mais folgado
e com lugar sentado - calha apanharmos os elétricos a sair de
seguida. No Martim Moniz ainda há fila, mais pequena do que a da
manhã. Aos dias de semana a primeira partida é às 6h20 e a última
às 21h55.
Do elétrico para o
metro Deixando para trás o 28, à medida que se aproxima a hora do
regresso a casa surgem novos focos problemáticos: autocarros parados
no trânsito e a linha verde do metro, que desde 2012 funciona só
com três carruagens, a rebentar pelas costuras.
Experimentamos o
metro para ir do Martim Moniz (linha verde) até ao Rato (linha
amarela), o que implica mudar de linha duas vezes primeiro na Baixa
Chiado e depois no Marquês de Pombal. Pelas 16h as carruagens da
linha verde já vêm cheias e só quem tem pressa arrisca furar a
multidão. “Ainda morremos ali dentro”, desabafa um homem ao
nosso lado, que assume estar em passeio. Um casal mais velho opta por
ir embora.
Mais destemida é
Ana, advogada de 24 anos. Chega a fazer cinco viagens por dia. “Devia
haver muito mais transportes nas zonas administrativas de Lisboa”,
defende. Andar parte do dia aos empurrões para quem tem de manter o
ar apresentável é um desafio que implica muitos retoques no cabelo
e maquilhagem, mas Ana não vê outra hipótese. Os colegas que vêm
de carro não têm menos queixas e alguns acabam mesmo por se render
aos transportes. “Se queremos rapidez. o metro é o melhor
transporte e para mim a melhor estratégia acaba por ser optar pelas
horas mais congestionadas, quando a frequência é maior. É
desconfortável, mas temos de nos sujeitar.”
Mais uma vez,
aleatório parece ser o adjetivo certo para descrever os horários.
Só depois de dez minutos à espera numa das ligações entre linhas
é que aparece a indicação no painel de avisos de que faltam dois
minutos. Deixamos passar o metro porque vai demasiado cheio e o
seguinte vem em menos de um minuto. Na linha amarela que leva ao
Rato, o metro já tem seis carruagens e vai menos cheio, mas um pouco
baralhado. A chegar a Picoas o aviso é que estamos no Saldanha e o
desfasamento mantém-se até ao final da linha.
De regresso à
superfície já se nota o rebuliço do regresso a casa. A paragem do
758 no Rato, carreira que liga as Portas de Benfica ao Cais do Sodré,
passando pelo centro da cidade, é das mais concorridas. Filomena e
Sofia partilham o banco com um ar de quem gostava de ter um
teletransporte. A espera vai quase em 20 minutos e não há autocarro
à vista. A opção é o 706, que também desce para o Cais de Sodré,
mas por S. Bento. Mas o trânsito é maior, testemunham.
Filomena tem 28 anos
e vai buscar a filha à creche no Cais do Sodré. Sofia tem de ir
apanhar o comboio para Oeiras. Nos últimos dias voltou a falar-se da
hipótese de a linha amarela do metro ligar o Rato ao Cais do Sodré.
Se a ideia é bem vinda - até porque atualmente as duas mudanças de
linha e as composições cheias durante a hora de ponta não são
muito convidativas -, para estas duas utilizadoras diárias da rede
de transportes de Lisboa há pequenas mudanças que já ajudariam a
tornar os dias menos stressantes. “Os autocarros vêm sempre
atrasados e cheios, nunca dá para ir sentado”, diz Filomena, que
diz que as obras deviam ser melhor geridas e devia haver mais
transportes.
Há ainda os painéis
junto às paragens onde se contam os minutos até o próximo
autocarro, que parecem estar ali apenas para moer o juízo de quem
espera, ironizam. “Nunca estão certos, pensamos que faltam dez
minutos e depois demoram 20. Passamos a vida a correr para isto”.
Como se gere a ansiedade? “Respiro fundo”, diz Filomena. Sofia,
jurista de 42 anos, também admite que é preciso fazer algum esforço
mental para manter a calma. “Por fora pareço bem, mas por dentro
claro que estou irritada. Cheguei faltavam cinco minutos para as 17h
e dizia que o autocarro vinha em nove minutos. São 17h20.”
Os transportes já
não eram famosos mas, desde o final das férias, Sofia está a
demorar mais meia hora no trajeto de casa-trabalho, de São Domingos
de Rana ao Rato. São quase duas horas de manhã e ao final do dia, o
que dá perto de quatro horas em transportes por dia. Isto nos dias
“normais”, insiste, em que não há perturbações na linha do
Estoril ou outros percalços pelo caminho. Nos dias piores leva mais
de duas horas e meia no regresso. O trânsito causado pelas obras em
Lisboa e carreiras que parecem, aos olhos de quem as usa, cada vez
menos, são algumas explicações. “Lisboa está um caos. Uma
pessoa chega a casa sem vontade de fazer nada, não há qualquer
qualidade de vida.”
Como se não
bastasse, há mais um mistério a mexer com os nervos de quem usa aos
autocarros: há carros que, quando finalmente chegam, passam sem
qualquer explicação ao estado de “reservado” e seguem viagem
sem parar. “Tem sido cada vez mais frequente”, relatam.
Nem de propósito,
quando o mostrador da paragem diz faltar um minuto para chegar o 758,
aparece um autocarro que em vez de dizer Cais do Sodré, o final da
carreira, diz Rato. O grupo que, entretanto, se juntou na paragem
começa a protestar. “É impressionante, é sempre a mesma coisa”,
ouve-se. Depois a indicação Rato passa ao tal “reservado” e o
autocarro prossegue viagem sem qualquer palavra para com as pessoas à
espera, algumas há meia hora. O burburinho acaba por durar pouco:
logo atrás vem outro 758. “Afinal tivemos sorte, mas isto é como
calha”.
Vamos para o fim de
uma fila de 15 pessoas para não roubar a vez a ninguém com pressa e
porque confiamos que toda a gente terá lugar. A duas pessoas de
entrar e ainda com gente nos degraus, acaba-se a ilusão: o motorista
fecha as portas, sem aviso prévio, e o casal à nossa frente apanha
com elas, o que gera mais protesto.
Condenados a esperar
pelo autocarro seguinte e já solidários com a indignação
coletiva, juntamo-nos a Olívia, que aproveita o lugar vago no banco
da paragem. “Quando está assim deixo-o ir”. Tem 74 anos e faz
companhia a uma senhora de 86 para se manter ocupada e compor a
reforma. Mora em Almada e a viagem demora hora e meia. “Antigamente
passavam aqui três carreiras de elétrico e não havia esta
confusão, precisamos de mais transportes”, defende. O pedido é
unânime. Mais atenção aos mais velhos também ajudava. A ela nunca
lhe dão lugar (“também não preciso”, diz despachada) mas
noutro dia a patroa quis ir lanchar à Alameda e assustou-se com o
autocarro à pinha. “Insistiu para chamarmos um táxi. Ainda pensam
que sou eu que quero gastar.”
Passado dez minutos
chega o autocarro, já não damos vez a ninguém e mesmo assim
seguimos viagem de pé. Mesmo quem estava no início da fila tem
dificuldade em apanhar lugar sentado: é privilégio para quem apanha
os transportes no início das carreiras e não a meio como é o caso.
Ao lado calha-nos Jorge, empregado num restaurante na rua da Rosa.
Não partilha do descontentamento com a Carris, que sente ter
melhores condições do que no passado. O problema são as obras,
justifica. “Percebe-se a necessidade de fazer obras em Lisboa, mas
não pode ser tudo ao mesmo tempo, o trânsito fica impossível.”
Ao balcão de uma casa de fados, Jorge diz que é notória a
insatisfação crescente com a circulação em Lisboa, mas sente até
mais queixas de turistas do que dos locais. “Os que andam com tempo
tudo bem, vão descobrindo coisas. Agora os que andam nos transferes
com horários planeados vão-se embora chateados porque há locais
onde as carrinhas já nem vão por causa do trânsito.” Para quem
trabalha na hotelaria, não há dúvidas: diga-se o que se disser, os
turistas vieram dar outro ânimo à cidade. E se as complicações
nos transportes moem a cabeça aos locais, se afugentarem também os
estrangeiros o resultado pode ser ainda pior.
Leva-se 30 minutos a
fazer os 2 quilómetros que separam o Rato do Cais Sodré, um dos
epicentros da confusão na capital com trânsito atravancado e o
barulho das picaretas a sinalizar as obras que se multiplicam por
toda a cidade e prometem tornar Lisboa “mais amiga das pessoas”,
como diz o último anúncio na rádio sobre as alterações na
circulação na zona do Saldanha. Se quem anda de carro conhece bem
as dificuldades na zona ribeirinha, não é difícil encontrar peões
a fazer contas ao prejuízo.
Carla, 38 anos, está
à espera do 781 para ir para os Olivais. Não demora muito a
explicar o estado de alma: de manhã apanha este autocarro mesmo à
porta de casa e sai em Santa Apolónia para fugir a 30 minutos de
trânsito por causa das obras - faz o resto de percurso de metro até
à Baixa Chiado. À tarde, para fugir ao engarrafamento, costuma ir
de metro para casa, mas andava tão farta dos empurrões que decidiu
dar uma segunda hipótese ao 781. Foi má ideia, daí o ar pensativo
com que a apanhamos. “Já estou arrependida: estou à espera há 20
minutos. A esta hora já estava a mudar para linha vermelha em São
Sebastião.” Vinte minutos roubados ao final do dia quando há
banhos para dar aos filhos pequenos e o jantar para tratar não é
coisa pouca. “Saí às 17h30 e já só vou chegar lá para as 19h.
E depois ainda aparecem os autocarros a dizer reservado. Não sei se
é porque os motoristas não podem conduzir mais do que determinado
tempo ou porque com o trânsito já vem outro a seguir, mas depois
vai mais lotado.” Este mistério já testemunhámos. Em dois dedos
de conversa, o 781 lá chega e Carla segue finalmente viagem. “Vê,
deu-me sorte”, atira. Com o passar das horas parece ser certo que
estar ou não bafejado com ela faz a diferença.
Efeito em cadeia No
cais fluvial do Cais do Sodré é só somar reclamações, até
porque o efeito é em cadeia: os atrasos nas ruas das cidade fazem
perder os barcos para a outra margem. Cremilde trabalha no Beato,
vive no Seixal e não esconde o desalento. Depois de estar quase uma
hora no trânsito dentro do autocarro perdeu a ligação e tem de
esperar 30 minutos pelo próximo barco. “Isto está cada vez pior,
nem uma sala de espera como deve ser há para nos sentarmos”, diz,
ainda indecisa em esperar no átrio mais arejado ou enfiar-se no meio
da multidão que aguarda de pé no acesso ao cais. “É pagar para
ser mal servido.”
Humberto está à
espera do barco para o Seixal, de auriculares nos ouvidos e um ar um
pouco mais tranquilo. A música é a escapatória para o stress dos
transportes, admite o produtor de audiovisual. Trabalha nos Anjos e
depois de vir que nem “sardinha em lata” na linha verde do metro
já só falta esta última parte do trajeto para casa. “Nos últimos
anos piorou muito, houve muitos cortes nos barcos”. A partir das
20h são de hora a hora e se sair depois das 23h, ou se quiser ficar
em Lisboa, já não tem barco direto. “Para alguém que não
conduza a alternativa é ir para Cacilhas e apanhar um autocarro. São
quase duas horas de viagem, é mais rápido chegar a Coimbra do que
ao Seixal.” Investir a sério nos transportes mais do que prometer
que as obras vão tornar a cidade mais verde e amigável é a
solução, defende. “Podem querer chegar lá, mas só isso não
chega.”
A caminho de casa na
linha de Sintra Voltamos à linha verde na direção do Areeiro, para
apanhar o comboio para Sintra, onde a hora de ponta se prolonga até
ao final da noite. Quem entra depois do Areeiro já tem dificuldade
em apanhar lugar e chega-se a apanhar comboios a abarrotar depois das
22h. Domingas, 55 anos, faz limpezas e todos os dias apanha cinco
transportes. Começa as 6h e acaba as 21h. Apesar de tudo, o comboio
e o metro ainda são as melhores opções, diz. Da Carris já
desistiu e prefere ir dar uma volta maior para ir, por exemplo, de
Benfica ao Alto de São João, do que ficar à espera do autocarro
sem saber com o que contar. “Deviam ter concorrência. Chego a
estar 40 minutos à espera. Não têm motoristas, mas depois chego e
há cinco fiscais no mesmo autocarro.” A correria não pode fazer
bem à saúde. “O almoço anda na mala, pode ver”, aponta pacotes
de bolachas.
Susana, vendedora de
35 anos, trabalha em São Sebastião e mora em Belas. Todos os dias
apanha autocarro da Vimeca até a estacão de Queluz, depois o
comboio até Sete Rios e por fim o metro na linha azul. Apanhamo-la
agora no regresso, num dia bom. Quando sai cedo, como é o caso,
demora 40 minutos a chegar a casa, quando está no turno que acaba as
22h30 ou 23h30 já demora hora e meia. “Por dois minutos perco o
comboio e tenho de esperar meia hora e depois perco o autocarro para
ir para casa e espero mais meia hora. Devia haver mais consideração
por quem trabalha à noite.”
No metro, no
autocarro ou no comboio, todos têm alguma história para contar das
vezes em que, com tanta confusão, a paciência esgota e há trocas
de palavras mais acesas por causa de lugares sentados ou birras que
os pais têm dificuldade em controlar. Soraia, administrativa de 55
anos, usa comboio e metro para ir todos os dias do Monte Abraão ao
Saldanha. Já sabe que lugares sentados “só nos meses de verão”.
Por isso deixa-se ir sossegada a observar o que a rodeia. Diz que há
problemas, mas há também um sentido de humor entre os portugueses
que parece ajudar a serenar o dia a dia. “Uma vez houve um problema
num comboio em Alverca e estivemos uma hora à espera. Quando
finalmente apareceu o comboio ia cheio. Ia uma senhora com um peito
mais avantajado e um senhor baixinho acabou por ficar colado a ela. A
certa altura disse: devia ser assim todos os dias. Rimo-nos todos,
até ela.”
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