"Este
fenómeno do Alojamento Local extravasou completamente aquele que era o seu
conceito inicial, de partilha de habitação, vindo da economia de partilha, e
passou a ser uma indústria que está a ser promovida pela própria industria
hoteleira e entidades imobiliárias que estão a aproveitar esta flexibilidade e
facilidade que há no AL para levarem a cabo empreendimentos turísticos, fugindo
completamente ao conceito de AL"
OVOODOCORVO
PORTO
BE quer
intervenção do Governo em bairro onde 35 famílias serão despejadas para dar
lugar a alojamento local
O bairro
situado na escarpa dos Guindais, no Porto, foi comprado no mês passado por uma
empresa imobiliária que notificou os moradores na última semana. Está a ser
criada uma comissão de moradores no sentido de reverter a situação. BE enviou
documento ao Ministério do Ambiente para que a questão tome outro rumo.
ANDRÉ VIEIRA 1 de Dezembro de 2017, 20:09
São cerca
de 35 famílias, aproximadamente 50 pessoas, do aglomerado residencial composto
por 88 casas do Bairro da Tapada que estão em vias de ser despejadas pela
empresa de investimento imobiliário Porto Baixa, que no início do mês passado
comprou aquela área habitacional das Fontainhas, no Porto, para a converter em
alojamento local. Um terreno contíguo terá sido comprado em Junho. Há uma
semana, sem que os moradores esperassem, chegou pelo correio o aviso endereçado
pela empresa: o terreno foi comprado e o futuro de quem lá vive é incerto.
Os
primeiros a sair serão os que têm contratos com prazo. Assim que terminem, à
medida que as casas forem ficando livres, disse a empresa na semana passada,
transformam-se em alojamento local para turistas. Aos moradores mais antigos
foi prometido que nada acontecerá de imediato.
Nesta
sexta-feira de manhã, José Soeiro e Maria Manuel Rola, deputados do Bloco de
Esquerda à Assembleia da República, visitaram o bairro da escarpa dos Guindais,
na Sé, para dar a conhecer aos moradores um documento que seguiu para o
Ministério do Ambiente a 27 de Novembro, cujo conteúdo alerta e questiona o
Governo relativamente ao futuro indefinido de quem lá mora.
Na
redacção, assinada pelos dois deputados, é levantado um conjunto de questões
relativo aos mecanismos e regulamentação previstos pelo governo para o
alojamento local. Pergunta-se quais as medidas que serão tomadas para
salvaguardar o bairro residencial da Tapada, questiona-se para a urgência da
criação de “grupos técnicos locais” para o apoio da população residente em
processos de “expulsão especulativa” e reclama-se medidas que evitem “situações
de compra massiva de bairros” para alojamento local. Diz José Soeiro querer ver
as mesmas questões respondidas pela câmara do Porto.
No bairro
com vista desafogada para o rio Douro há quem lá viva há mais de 70 anos. Parte
dos moradores, que dizem não ter sido avisados pela senhoria para as
negociações que estavam a ser feitas com a empresa, investiram do próprio bolso
para obras levadas a cabo nas casas. Uma moradora que, apesar de lá viver desde
os três anos de idade, tem novo contrato prestes a terminar por ter mudado para
outra casa do mesmo bairro diz ter investido aproximadamente 8 mil euros nos
últimos dois anos. Será a sua família uma das primeiras a ter que abandonar o
bairro.
Com rendas
a rondar os 100 e os 200 euros, temem que ao serem despejados não tenham poder
económico para arrendar outra casa. Grande parte dos residentes já está
reformada ou aufere rendimentos baixos. Por enquanto, não querem pensar ainda
nessa possibilidade, sendo que sair dali é uma hipótese que não põem em cima da
mesa.
No sentido
de que se reverta a situação está a ser criada uma comissão de moradores. Até
que seja criada preferem não veicular nenhuma posição concreta. Só após reunião
agendada para as 16h da próxima quarta-feira, no Círculo Católico Operário do
Porto, onde será escolhido um porta-voz, será emitida uma posição conjunta.
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