domingo, 31 de dezembro de 2017

Irão bloqueia redes sociais para controlar manifestações / VIDEO:Iranians take to the streets for a third day of protests



Irão bloqueia redes sociais para controlar manifestações

Uma das aplicações bloqueadas era utilizada para combinar horas e locais de manifestações, e também para partilhar imagens e vídeos dos protestos.

CLAUDIA CARVALHO SILVA 31 de Dezembro de 2017, 16:09

Para controlar as manifestações, o Irão anunciou que cortou temporariamente o acesso à rede social Instagram e à aplicação de conversação Telegram, uma das mais utilizadas pelos activistas e pelos iranianos. A informação foi avançada por uma fonte na televisão estatal iraniana, escreve a Reuters. As autoridades suspeitam que as redes sociais são o motor que dá força a algumas destas manifestações contra o regime, a crise económica e o desemprego no Irão.

Já no sábado, um canal da aplicação Telegram tinha sido bloqueado; as autoridades diziam que o canal estava a incitar à violência (algo que os seus administradores negaram), horas antes de o Governo bloquear por completo o acesso à aplicação. Segundo a AP, mais de metade dos 80 milhões de habitantes do Irão utilizam a aplicação, que permite destruir automaticamente mensagens após um certo período de tempo, tornando-a popular entre os activistas. É também no Telegram que têm sido partilhadas informações com locais e horas dos protestos de todo o país, assim como vídeos e imagens dos motins. Já o Instagram também tem é bastante utilizado no país; a rede social é detida pelo Facebook, que está banido no Irão desde 2009.

No sábado, alguns analistas estranhavam que ainda não tivesse sido cortado ou desacelerado o acesso à Internet, um procedimento habitual no Irão e noutros regimes repressivos.

Segundo o jornalista do Guardian Saeed Kamali Dehghan, nem todas as províncias do Irão estão já a ser afectadas pelo corte nas redes sociais. A aplicação, diz o jornalista no Twitter, continua a funcionar em alguns computadores, mas não em dispositivos que utilizem dados móveis.

Este corte nas redes sociais aumenta a dificuldade em obter imagens dos protestos, assim como informação em primeira mão, já que também as agências de notícias e outros órgãos de comunicação ocidental foram saindo do Irão ao longo dos anos. Nos confrontos deste sábado entre os estudantes iranianos e a polícia na Universidade de Teerão, as redes sociais tinham sido um dos principais veículos de informação, sendo partilhadas fotografias e vídeos dos protestos.

As autoridades disseram que dois manifestantes, possivelmente estudantes, foram mortos a tiro após o início dos protestos, que começaram na quinta-feira. O vice-governador da província de Lorestan, Habibollah Khojastehpour, responsabilizava “agentes estrangeiros” pelas duas mortes. “Não houve disparos da polícia e das forças de segurança. Encontrámos provas da presença de inimigos da revolução, grupos Takfiri e agentes estrangeiros neste confronto”, justificou.

Os manifestantes já atacaram bancos e edifícios do Governo e queimaram uma moto da polícia. O Governo iraniano referiu que os manifestantes que infrinjam a lei sofrerão um preço elevado. "Aqueles que danificarem propriedade pública, violarem a lei e a ordem e criarem agitação são responsáveis pelas suas acções e devem pagar o preço", disse o ministro do Interior Abdolreza Rahmani Fazli, citado pelos meios de comunicação estatais.


Segundo a AP, estas manifestações são as de maior relevo (e dimensão) desde a onda de contestação após as eleições presidenciais de 2009, na altura da polémica reeleição do então Presidente Mahmoud Ahmadinejad. Após dias de silêncio por parte do Governo e na sequência da instabilidade no país, a agência ISNA avançou que o Presidente, Hassan Rouhani, deverá emitir um comunicado televisivo na noite deste domingo, ainda que esta informação não tenha sido confirmada oficialmente.

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