Nova Praça de
Espanha verde, amiga do peão e com muita água começa em 2019
POR SAMUEL
ALEMÃO • 15 DEZEMBRO, 2017 •
Conhecida
como uma zona de passagem de peões e de veículos, a praça vai passar a ser
lugar de paragem obrigatória para os moradores de Lisboa, com a sua
transformação num parque urbano. Mais áreas verdes, quiosques, esplanadas,
ciclovias e zonas pedonais surgirão na área. Mas também diversos lagos, que
tirarão partido daquele ser um ponto de circulação de água. Este é, aliás, o
principal traço em comum entre as nove propostas finalistas do concurso
internacional de ideias para a reabilitação daquela zona, promovido pela Câmara
Municipal de Lisboa (CML), agora apresentadas ao público. A autarquia diz que
pretende fazer ali “outro tipo de cidade”, mais amiga do peão e do ambiente. Os
projectos estão visíveis ao público, na galeria de exposições temporárias da Gulbenkian,
a partir desta sexta-feira (15 de dezembro) e até 29 de janeiro. A mostra pode
ser visitada de quarta a segunda-feira, das 10h às 18h. A construção do novo
parque urbano começará em 2019, depois de escolhida a melhor proposta.
Texto: Sofia Cristino
Uma das zonas de maior circulação viária da
cidade de Lisboa vai transformar-se num espaço de lazer, com mais áreas verdes,
quiosques, esplanadas, ciclovias e zonas pedonais. Atrair mais arte para a rua,
através de eventos culturais e concertos, é outra das sugestões apresentadas
pelos arquitectos paisagísticos, que vêem agora as suas propostas na fase final
do concurso promovido pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). Os nove projectos
vão estar em exposição até 29 de janeiro de 2018, na Fundação Calouste
Gulbenkian, onde foram apresentados ao final da tarde desta quinta-feira (14 de
dezembro). Os cidadãos podem fazer críticas e sugestões às propostas. Será
aberta, depois, uma nova fase de concurso, no final de fevereiro de 2018, para
discussão do melhor projecto. A construção do novo parque urbano começará em
2019.
Pelo facto da Praça de Espanha estar
localizada num sítio com reconhecido risco de inundações, a preocupação com a
água assume-se como transversal a todas as propostas. Algo que foi assinalado
por Manuel Salgado, vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa (CML).
“A presença da água é fundamental e o júri teve essa sensibilidade. Todas as
propostas, de uma forma ou de outra, referem-se à água”, notou o autarca,
fazendo ainda menção à importância do formato escolhido pela autarquia para a
apresentação dos projectos de reabilitação urbana daquela zona da cidade.
“Parece-nos que se justifica esta metodologia muito aberta, pondo os
concorrentes em confronto uns com os outros, num espaço de discussão pública”,
disse.
A proposta da Braga Machado Arquitectos,
primeiro dos nove ateliês concorrentes a apresentar o seu projecto, salienta a
importância da cultura na cidade de Lisboa, propondo que a Praça de Espanha
passe a ser palco de exposições efémeras, performances individuais ou
colectivas, projecções de imagens e instalações sonoras. O arquitecto
paisagista desta firma, finalista do concurso promovido pela autarquia, disse
ainda, durante a exposição da sua proposta, que pretende criar duas depressões
circulares que, a ser concretizadas, funcionariam como bacias de retenção das
águas pluviais.
A preocupação com o reaproveitamento da água
também foi abordada por Catarina Raposo, arquitecta paisagista do consórcio
entre os ateliês Ventura Trindade Arquitectos e Baldios Arquitectos
Paisagistas. “Há muitas dificuldades de escoamento nesta zona da cidade. Quando
começamos a imaginar o que poderíamos fazer aqui, pensamos que o parque urbano
poderia funcionar como um projecto de água. Consideramos que os processos
ecológicos devem moldar as novas lógicas urbanas”, sugeriu. “Apostamos num
desenho de um pequeno vale e num sistema de clareiras e pequenos lagos que,
complementados com açudes, servem para ajudar a reter a água da chuva. Sempre
que há cheias em Lisboa, a Praça de Espanha é um dos sítios mais martirizados”,
explicou.
O ateliê
NPK defende que é preciso mudar o paradigma da água na cidade. “É preciso
trazer de novo a água para a superfície. A Gulbenkian tem sido um refúgio de
contacto com a natureza e deve aspirar a pertencer a uma realidade maior e
ligar-se à Praça de Espanha e a Monsanto”, disse o representante daquele
gabinete de arquitectos. Ligar o Teatro Comuna à cidade, “que tem sido
esquecido”, e preservar árvores e espécies autóctones, como o carvalho, é outro
dos objectivos do ateliê.
Os arquitectos Pedro Machado e Costa e Luís
Ferreira elogiaram a autarquia de Lisboa por promover um concurso público
aberto, possibilitando a discussão pública das propostas e a importância da
participação de todos os cidadãos na avaliação dos projectos. O Atelier do Beco
da Bela Vista sugeriu a passadeira na diagonal que, a ser concretizada, seria a
primeira em Portugal deste género. A última equipa a apresentar o projecto
propôs uma praça supra-elevada com um miradouro e uma praça central que seria
uma área mais aberta.
No espaço
de debate, aberto ao público, uma moradora manifestou a sua admiração pela
falta de carros nas várias imagens dos projectos apresentados. “Fiquei muito
preocupada com o que se vai passar com os automóveis, parece tudo um paraíso
verde. Vão mandar os automóveis para onde?”, questionou. O vereador Manuel
Salgado fez questão de responder, dizendo que há, neste momento, zonas da Praça
de Espanha onde existe alcatrão a mais. “Fez-se uma série de estudos e
contagem de tráfego, para percebermos como o sistema iria funcionar. E até acho que terá um funcionamento
mais eficaz do que actualmente. Estamos confortáveis com a situação, porque foi
estudada por especialistas”, garante.
Pretende-se, agora, que seja promovido um
debate em torno das ideias apresentadas. Os cidadãos podem fazer críticas e
sugestões às propostas. Será aberta, depois, uma nova fase de concurso no final
de fevereiro para discussão da melhor proposta. A construção do novo parque
urbano começará em 2019. Manuel Salgado anunciou, ainda, que a autarquia
pretende lançar um concurso de ideias para o Vale de Santo António, depois de
já ter também lançado um para o Parque Ribeirinho. “Não queríamos ficar por
estes três. Acredito que haverá mais oportunidades na cidade”, avançou ainda.
Nova Praça de Espanha vai meter muita
água
Estão em
exposição as nove propostas para a criação de um grande parque na Praça de
Espanha. Câmara promete começar as obras em 2019, mas entretanto os cidadãos
são chamados a pronunciar-se.
JOÃO PEDRO PINCHA 14 de Dezembro de 2017, 19:53
Só durante
o próximo ano se vai saber como será o futuro parque urbano da Praça de Espanha,
mas uma coisa parece já certa: a água terá um papel central. Quase todas as
propostas de desenho para aquele parque, que vão agora ser sujeitas a discussão
pública, prevêem a criação de bacias de retenção e lagos ou trazer à superfície
as ribeiras que atravessam aquele local e hoje se escondem por debaixo do
betão.
“A presença
da água é fundamental”, disse o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de
Lisboa, Manuel Salgado, esta quinta-feira, depois de apresentadas as nove
propostas que sobreviveram à primeira fase do concurso de concepção. Elas vão
estar visíveis ao público, a partir desta sexta-feira e até ao fim de Janeiro,
na galeria de exposições temporárias da Gulbenkian. Durante esse período, os
cidadãos podem fazer críticas e sugestões às propostas, que depois se submetem
a novo concurso. “Este local é de tal modo importante que nos parece que se
justifica plenamente esta metodologia”, afirmou Salgado.
A
transformação da Praça de Espanha, prometeu o vereador, deve começar no início
de 2019. Já se sabe que as alterações vão ser de monta. A praça deixará de ter
a forma de uma grande rotunda, as duas faixas de rodagem centrais (que ligam a
Avenida Calouste Gulbenkian à Avenida dos Combatentes) desaparecem, o terminal
de autocarros também. O futuro parque vai estender-se desde uma transversal da
Avenida José Malhoa até à esquina da Avenida de Berna, tornando-o assim em
“mais do dobro do Jardim da Estrela”, como disse Salgado em Janeiro.
A forma que
o parque terá é o que se começa agora a discutir. Cada equipa defendeu o seu
projecto esta quinta-feira num auditório secundário da Gulbenkian, cheio que
nem um ovo.
Para
Catarina Raposo, do consórcio entre os ateliês de arquitectura Ventura Trindade
e Baldios, “desde cedo pareceu que trabalhar as questões da água era
absolutamente fundamental”. Por isso, a equipa apostou no desenho de um pequeno
vale e num sistema de clareiras e pequenos lagos que, complementados com
açudes, servem para ajudar a reter a água da chuva. Sempre que há cheias em
Lisboa, a Praça de Espanha é um dos sítios mais martirizados. Além do trabalho
à superfície, o projecto dos dois ateliês propõe ainda a construção de um
grande reservatório subterrâneo.
Jogar com a
topografia do terreno, criando declives e clareiras, e plantar muitas árvores
nos limites exteriores do parque, de modo a criar um efeito barreira em relação
à azáfama da cidade, são propostas praticamente transversais a todos os
projectos. O ateliê NPK diz querer “expandir” o “oásis urbano” que é a
Gulbenkian. Propõe-se “renaturalizar a linha de água”, trazendo a velha ribeira
à superfície. “É preciso alterar o paradigma da água na cidade. É bom senti-la
e vê-la”, disse o responsável por este projecto.
Já a
proposta do ateliê Beco da Bela Vista prevê a criação de novos acessos à
estação de metro, que ficará implantada mesmo no meio do parque, e uma
passadeira diagonal directa aos jardins da Gulbenkian.
O projecto
de Machado Costa, Murer e Ferreira Neto distingue-se por não estar completo,
propositadamente. “Nós não sabemos muito bem que tipos de usos vamos ter neste
parque. Propomos que cerca de 30% do parque seja dedicado a nada, ou seja, a
tudo”, disse um dos arquitectos. Isto consegue-se através de amplas clareiras
“multifuncionais”, que podem constantemente ser modificadas. “A ideia é que, no
fim, o projecto não seja feito só para nós, mas com os contributos de quem quer
que seja.”
Há ainda
propostas que se inclinam mais para um programa cultural e artístico, bebendo
da vizinhança dos teatros Aberto e da Comuna, bem como da própria Fundação
Gulbenkian.
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