Habitação a
salvo !?!
Portugal
exposto com muitos outros locais a um processo de globalização galopante com os
conhecidos efeitos para as populações da Turistificação desenfreada, da
Globalização desmedida e da Gentrificaçào galopante ...
De recordar
que a 3 de Março Fernando Medina afirmava: "Fernando Medina opõe-se à
aplicação de restrições legais ao alojamento local"
POR O CORVO •
3 MARÇO, 2017 •
OVOODOCORVO (
Ver comentário / link / artigo em baixo )
Lisboa é das
cidades do mundo mais pressionadas pelo turismo. Habitação a salvo, para já
Rafaela
Burd Relvas
No que toca
à pressão do turismo sobre os serviços públicos, Lisboa está no grupo de
Barcelona e Veneza. Segundo o WTTC, o risco de os habitantes serem expulsos
existe, mas ainda não é um problema.
Habitantes
empurrados para fora das cidades, experiência turística desvirtuada,
infraestruturas sobrecarregadas, impactos negativos sobre a natureza e ameaças
à herança cultural. Estes são, segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo
(WTTC, na sigla em inglês), os cinco grandes riscos que as cidades enfrentam
quando a popularidade se transforma em sobrelotação. Lisboa está entre as
cidades onde os serviços públicos estão mais pressionados, mas, de acordo com o
WTTC, na habitação, a capital ainda está longe do impacto que se faz sentir nos
principais destinos turísticos do mundo.
O estudo, intitulado “Lidar com o sucesso: gerir a
sobrelotação nos destinos turísticos”, foi apresentado esta quarta-feira e teve
por base a análise de quatro cidades: Barcelona (Espanha), Nova Iorque (Estados
Unidos), Buenos Aires (Argentina) e Chongqing (China). Para além destas quatro,
analisadas ao detalhe, o WTTC faz um diagnóstico de 68 cidades, desenhando uma
escala para avaliar o risco de cada uma delas entrar em sobrecarga turística. E Lisboa está entre as mais
pressionadas do mundo em vários aspetos.
O fator
mais preocupante é o das infraestruturas. Entre as 68 cidades analisadas,
Lisboa é uma das 14 onde o risco de sobrecarga das infraestruturas é mais
elevado. Aqui, inclui-se todo o tipo de serviços públicos: transportes,
saneamento público, comércio, fornecimento de energia ou estradas, por exemplo.
No que toca à sobrecarga dos serviços públicos, Lisboa está no mesmo grupo de
cidades como Barcelona, Cancún, Veneza, Roma ou Praga. E está a ser mais
pressionada do que cidades como Paris, Rio de Janeiro, Nova Iorque ou Londres.
Já a
habitação, que tem sido uma das principais preocupações dos lisboetas nos
últimos anos, devido ao aumento acentuado de preços de compra e arrendamento de
imóveis, não surge como uma das áreas onde o turismo tem maior impacto. Aqui,
Lisboa está a meio da tabela. Ou seja: o risco de os habitantes serem
empurrados da cidade pelo excesso de turismo existe, mas essa ainda não é uma
realidade. Como termo
comparação, Lisboa está no mesmo grupo de cidades como Pequim, Budapeste,
Buenos Aires ou São Francisco. Na Europa, é até uma das cidades onde a
habitação está ser menos pressionada pelo turismo.
A ameaça
que o excesso de turismo representa para a herança cultural de Lisboa também
começa a aumentar. Neste aspeto, Lisboa está na primeira metade da tabela onde
este impacto mais se faz sentir. Apesar disso, a experiência dos turistas na
cidade ainda não está desvirtuada; pelo menos, a julgar pelas críticas deixadas
pelos turistas no portal TripAdvisor, o indicador que o WTTC teve em conta para
avaliar este aspeto.
Portugal é
um dos 10 países que recebem 20% de todo o turismo mundial
Parte
destes impactos negativos deve-se à popularidade do destino Portugal. Segundo
os dados do WTTC, Portugal está no grupo dos 20 países do mundo que recebem
quase dois terços de todas as chegadas de turistas internacionais.
Este grupo
divide-se em dois: os 10 destinos turísticos mais populares, encabeçados por
França, que receberam 46% de todas as viagens internacionais; e o grupo dos 10
países seguintes, que receberam 21% dos turistas mundiais. É nesse segundo que
se inclui Portugal.
Nos
próximos anos, esta tendência vai não só manter-se, como acentuar-se. Em 2020,
estima o WTTC, França continuará a ser o destino turístico mais popular do
mundo e Portugal vai manter-se no segundo grupo de países que mais turistas
recebem. Juntos, os 20 países mais populares do mundo vão receber mais turistas
do que todo o resto do mundo.
Distribuir,
regular, cobrar e limitar
Para os
problemas identificados neste estudo, a WTTC encontra também soluções. Há cinco
principais:
Distribuir
turistas no tempo. Isto resolve dois problemas: o excesso de visitantes nas
épocas altas e a sazonalidade, que deixa algumas cidades praticamente vazias no
resto do ano. Uma solução, propõe o estudo, poderá ser definir um período
máximo de visita, como acontece, por exemplo, nas ilhas Galápagos, onde cada
cruzeiro só pode ficar um máximo de 14 noites.
Distribuir
turistas geograficamente. O turismo tem tendência a concentrar-se em pontos
geográficos específicos, o que coloca pressão sobre pequenas partes das
cidades, deixando outras com grande capacidade para receber turistas.
Desenvolver atrações turísticas em locais menos visitados ou promover rotas que
incluam esses locais são soluções possíveis.
Ajustar o
preço à oferta e procura. É bastante auto-explicativo: se um local tem poucos
visitantes, não há razão para cobrar mais; se está sobrelotado de turistas,
cobrar taxas e aumentar o preço das principais atrações são hipóteses.
Regular a
oferta de alojamento. Esta ainda é uma solução pouco popular entre as
autoridades locais, mas começa a ser implementada em vários locais. É o caso de
Nova Iorque, onde o arrendamento de curto prazo foi banido. Também em Lisboa
deverá ser implementada uma quota máxima para as unidades de alojamento local
permitidas em cada freguesia.
Limitar o
acesso ou as atividades. É uma medida de último recurso, que já começa a ser
implementada em locais onde os residentes estão a ser excessivamente
prejudicados pelos turistas. É o caso de Amesterdão proibiu a abertura de novas
lojas direcionadas para o turismo, como lojas de souvenirs. Ou o de
Roma, que proibiu o consumo de álcool na rua entre a meia-noite e as 7h00.
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO |
Os efeitos da Turistificação de Lisboa
Cada vez mais gente e menos lisboetas. Câmara entrega a
gestão da habitação ao aluguer online de alojamento para férias
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
23 de Novembro de 2016, 9:45
Fernando
Medina não acompanha a Imprensa
internacional. Se o fizesse, ter-se-ia apercebido de uma avalanche de notícias
na Imprensa local de Nova Iorque e de
várias cidades Europeias sobre os efeitos perversos conjugados e
interactivos da Turistificação desenfreada, da Globalização desmedida e da
Gentrificaçào galopante na vida quotidiana dos habitantes locais nestas
cidades.
Um clamor
profundo, uma agitação permanente de insatisfação e um desejo urgente e
imperativo de mudança, de regulamentos, de fiscalização e de liderança
por parte dos habitantes, ameaça traduzir-se em consequências políticas,
e faz acordar os autarcas.
Temos
ouvido sobre as situações em Barcelona e Berlim e das condições impostas à
AIRBNB que vão desde a proibição total na capital alemã até à imposição de um
rigoroso regulamento na cidade da Catalunha.
Numa longa
luta do Municipal com a Airbnb [aluguer de alojamento para férias], Nova Iorque
quer agora proibir o aluguer de alojamentos através da AIRBNB por um período
inferior a 30 dias. Medida destinada a proteger a cidade dos efeitos perversos
das estadias curtas / low cost do turismo barato, massificado, predador e
desinteressante. Densidade intensa de ocupação do espaço físico sem interesse
económico e mais valias financeiras, a não ser, para os estabelecimentos também
eles “predadores” do comércio tradicional, ou seja, “comes e bebes” e
“quinquilharia” pseudoturística em dezenas de lojas asiáticas e afins.
A 6 de
Outubro, o “Guardian” publicou um conjunto de três artigos sobre a interligação
destes temas, tendo um deles sido dedicado à relação de Amsterdão com a AIRBNB.
Embora
Amsterdão tenha imposto um regulamento claro à Airbnb, ocupação máxima de 60 dias por ano e o máximo de quatro pessoas
por edifício, os efeitos sociais de descaracterização dos bairros têm sido
devastadores. O investimento especulativo junto à forte subida do preço da
habitação (também no aluguer a “expats” do mundo empresarial ) está a expulsar
progressivamente os habitantes locais,
transformando os bairros em plataformas rotativas e contínuas de “idas e
vindas” de forasteiros híper individualizados e indiferentes aos locais, e a
transformar os antigos bairros em locais alienados onde ninguém se conhece e
onde reina o anonimato.
Amsterdão
tem fiscalizado intensamente a ocupação
através da Airbnb mas é confrontada com
a recusa pela própria Airbnb de fornecimento de dados. Num espaço limitado
fisicamente como a pitoresca Amsterdão, a invasão turística low-cost / aluguer
Airbnb, está a levar a efeitos explosivos no trânsito, no comércio local onde
polulam as lojas de vocação turística e de souvenirs e está a provocar uma
avalanche de insatisfação traduzida em irritação ou animosidade explícita para
com o turismo.
De tal forma que, muito recentemente, a
autarquia fez um discurso explícito inteiramente dedicado a estes temas, onde
anunciou uma atitude de exigência e fiscalização ainda mais rigorosa para com a
Airbnb, medidas legislativas em conjunto com Haia que tornem possível a escolha
do tipo de lojas a instalar em cada rua e uma atitude nítida de selecção do
tipo de turismo, numa definição e
escolha dirigida à clara diferenciação entre o turismo desejável e indesejável.
Numa
entrevista publicada a 18 de Janeiro no PÚBLICO, o Director Ibérico da Airbnb
anunciava orgulhoso: “A evolução em 2015 face ao ano anterior foi de 65%.
Portugal está no 11.º lugar mundial em termos de anúncios na Airbnb, num
ranking liderado pelos EUA. A Airbnb captou um milhão de pessoas em 2015.”
Orgulhoso,
e claro, satisfeito. A Airbnb não está sujeita a qualquer tipo de regulamento,
exigência ou fiscalização em Portugal. Mais. A AIRBNB colabora com a Autarquia
e o Governo, de forma a que os impostos sejam cobrados ao Alojamento Local. Estes
aumentaram.
Mas os
efeitos devastadores são ignorados ou mesmo negados por Fernando Medina que se
tem mostrado irónico ou furtivo sobre estes problemas fundamentais para o
presente e o futuro estratégico da cidade de Lisboa.
Que este se
torne o tema fundamental de discussão de todas as forças políticas em direcção
às eleições autárquicas, é um imperativo. Não se trata de cor política, mas de
um tema Universal de Ecologia Urbana e de equilíbrio salutar no organismo vivo
que constitui uma verdadeira cidade.
A
Turistificação desenfreada, a Globalização desmedida e a Gentrificaçào
galopante estão a matar as cidades.
Historiador
de Arquitectura
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