“Não
podemos ir atrás das pessoas ou ensinar-lhes regras de civismo. Isso é um
problema da sociedade”
Grande
Mentalidade e sentido cívico (!) Comparável ao “pusher” que vende droga e que
diz que o problema é da Sociedade. Encerramento imediato deste estabelecimento
seria um sinal altamente pedagógico e um exemplo para este tipo de pessoas. A
CML também fechou as Discotecas , não fechou!?
OVOODOCORVO
Consumo de
álcool na rua e ajuntamentos estão a irritar vizinhança no Arco do Cego
POR SAMUEL
ALEMÃO • 28 DEZEMBRO, 2017 •
http://ocorvo.pt/consumo-de-alcool-na-rua-e-ajuntamentos-estao-a-irritar-vizinhanca-no-arco-do-cego/
Atraídos
pelo preço baixo da cerveja da casa de pasto “Oh Pereira”, os aglomerados de
jovens são cada vez maiores, na Rua do Arco do Cego e no jardim contíguo à sede
da Caixa Geral de Depósitos. Há gente a beber na rua de copo na mão, mas também
de garrafas de litro em punho, compradas na loja do posto de combustível mesmo
ao lado. Chegam a ser centenas a conviver naquela zona. Lixo, barulho, corridas
e acrobacias de motos tornaram-se uma realidade corriqueira, a perturbar o até
há pouco tempo recatado Bairro do Arco do Cego. Um abaixo assinado dos
moradores pede medidas às autoridades, entre as quais a imposição de uma
restrição horária. Os gerentes dos dois estabelecimentos alijam-se de
responsabilidades e sugerem que se vigie melhor a actividade do vizinho do
lado. A casa de pasto, entretanto, terá já acordado com a Câmara de Lisboa
passar a fechar às 23h.
Texto:
Samuel Alemão
Barulho até horas tardias, mau ambiente,
corridas de motos, copos de plástico espalhados pelo chão e urina em todo os
recantos. O cenário, que se vai repetindo – se bem que com variantes – um pouco
por todos os sítios da cidade de Lisboa onde ocorra diversão nocturna ou
convívio de jovens, está longe de ser apelativo e quem tem de o suportar quase
diariamente pede medidas urgentes às autoridades. No caso, os residentes do
Bairro do Arco do Cego sentem-se acossados pelas consequências dos frequentes
ajuntamentos de convivas no Jardim dos Cavaleiros, no anfiteatro exterior do
edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos (CGD).
Os preços apelativos da cerveja vendidas por
dois estabelecimentos situados do outro lado da rua, uma casa de pasto e uma
gasolineira, serão o chamariz. Associação de Moradores das Avenidas Novas e o
presidente da Junta de Freguesia do Areeiro dizem que o problema só se resolve
com a proibição da venda de álcool na rua. Mas os responsáveis por ambos os
espaços comerciais, ouvidos por O Corvo, recusam a assunção de culpas pelo
cenário criado, garantindo cumprir todas as regras. “Não podemos ir atrás das
pessoas ou ensinar-lhes regras de civismo. Isso é um problema da sociedade”,
afirma um deles.
“Aquilo
funciona como um pólo que atrai malta que, de copo na mão, anda por ali e vai
para dentro do bairro do Arco do Cego. Há corridas de motas, alguns a fazerem
cavalinhos. É natural que as pessoas fiquem chateadas”, diz a O Corvo o
presidente da associação de moradores, José Toga Soares, lembrando que os
protestos dos residentes já haviam levado ao encerramento do estabelecimento
comercial em questão – a casa de pasto “Oh Pereira” –, há cerca de dois anos.
As queixas eram as mesmas de agora. A loja reabriu, entretanto, com nova
gerência.
E embora José Soares até admita que os seus
donos da casa de pasto “até têm um pouco de consciência dos níveis de ruído permitidos”,
o incómodo voltou a ser de tal dimensão que levou os moradores – liderados por
elementos dos grupos cívicos Vizinhos do Areeiro e Vizinhos das Avenidas Novas
– a entregarem uma petição à Assembleia Municipal de Lisboa (AML), solicitando
a tomada de providências. Mas também o pedem medidas à Polícia Municipal, à
Caixa Geral de Depósitos, aos dois estabelecimentos em causa e ainda aos
conselhos directivos do Instituto Superior Técnico e da Escola Filipa de
Lencastre. Afinal, serão alunos seus os que mais contribuirão para as
aglomerações.
“Já recebemos diversas queixas e até já
expusemos o caso na Assembleia Municipal de Lisboa. É uma situação que resulta
do facto de as pessoas poderem beber na rua. Todos, enquanto jovens, gostávamos
de nos divertir e beber uns copos, mas estas situações, cada vez mais
recorrentes, são inadmissíveis”, diz a O Corvo o presidente da Junta de
Freguesia do Areeiro, Fernando Braancamp Freire (PSD), descrevendo um cenário
de frequente perturbação do sossego de quem ali vive.
“É extremamente desagradável. As pessoas que
para ali vão, além do ruído que causam, sujam o espaço público. Vão urinar para
os cantos, devido ao consumo da cerveja. E não imaginam a quantidade de copos
de plástico que temos que apanhar do chão naquela zona, são às centenas”,
queixa-se o autarca, que tem de lidar com um problema gerado na freguesia
vizinha, a das Avenidas Novas, uma vez que é lá, do outro lado da Rua do Arco
do Cego, que se vende a cerveja.
O autarca reconhece que o problema se põe de
forma inversa junto ao Jardim do Arco do Cego, uma vez que, nesse caso, existe
na Rua Dona Filipa de Vilhena um outro estabelecimento com preços de cerveja
muito baixos – resultando na venda de bebidas em copos de plástico na freguesia
do Areeiro que vão sujar o espaço público da freguesia das Avenidas Novas.
Por causa desta situações, Fernando Braancamp
Freire propôs à Câmara Municipal de Lisboa uma redução de ambos os comércios,
“para que não aconteça aquilo que tem vindo suceder, que é fazer-se do espaço
público o prolongamento dos estabelecimentos”. Mas a situação apenas mudará a
sério, defende o presidente da junta, quando se proceder a uma alteração
legislativa. “Isto nasce do facto de a lei permitir que as pessoas bebam na
rua. Enquanto cidadão, acho que a única forma de resolver o problema será a
mudança da lei para o proibir. Não faz sentido continuarmos como estamos”, diz.
Uma opinião partilhada por José Toga Soares,
presidente da Associação de Moradores das Avenidas Novas. “Não podemos permitir
que as pessoas andem com um copo ou uma garrafa na mão, a consumir álcool, a
importunar os outros, como se fosse uma coisa natural. De facto, podemos
reconhecer que nem toda a gente se comporta assim, e ninguém quer pôr em causa
o direito à diversão. Mas, no limite, está em causa ao bem-estar, devido a um
punhado de pessoas que põe em causa o bem estar dos outros”, afirma o dirigente
associativo.
José Soares apela ainda a que se olhe para a
forma como em Espanha se lidou com o consumo de bebidas alcoólicas na rua por
grandes grupos, conhecido por “botellón”. Fenómeno que as autoridades
conseguiram erradicar quase por completo. “Não é preciso inventar muito. Basta
ver como outros países lidam com isto”, preconiza, embora reconheça o “esforço
que a Câmara de Lisboa tem feito para suster o problema”. “Mas não chega, é
preciso fazer mais”, diz.
No abaixo-assinado entregue à AML, os
residentes do Bairro do Arco do Cego pedem aos estabelecimentos Oh Pereira e ao
posto de combustíveis da Galp, situados quase paredes-meias, que adoptem um
conjunto de práticas tendentes a melhorar a vivência na zona: colocação de
contentores; preocupação com limpeza do espaço exterior; colaboração na recolha
de copos e garrafas depositados no jardim; colocação de avisos apelando ao
comportamento cívicos dos clientes; ou ainda a oferta de uma bebida por cada
dez copos de plástico entregues ao balcão.
Mas também solicitam à CML que “avalie a venda
de álcool para o exterior a partir de determinada hora nesses dois
estabelecimentos” e que avalie a instalação de videovigilância no local. Às
autoridades policiais é solicitado o reforço das rondas “por forma a dissuadir
e impedir as concentrações/corridas e exibições de acrobacias de moto” que ali
se realizarão com regularidade.
O reforço da vigilância por parte das
autoridades é, aliás, a principal exigência de Tiago Pereira, o gerente do “Oh
Pereira”. “Uma coisa que acabava com isto de vez era o reforço do policiamento.
Se eles passassem aqui mais vezes, estes problemas não se colocavam. Também não
gosto de ver essas corridas e acrobacias de motas nesta zona”, diz o empresário
a O Corvo, lamentando estar a ser responsabilizado por uma situação em relação
à qual, garante, não tem controlo. “Temos sido visitados pela Polícia Municipal
e temos sempre tudo em ordem, cumprimos com todos os requisitos. Fazemos
questão de apanhar os copos de plástico que ficam no chão e de limpar o espaço
público em redor da nossa casa”, garante.
O
responsável por estabelecimento, que reabriu, há cerca de ano e meio, com um
conceito algo diferente – mas que mantém no baixo preço da cerveja (a imperial
custa 60 cêntimos até às 21h, depois disso sobre para um euro) um atractivo
maior -, queixa-se da existência de dualidade de critérios em relação à vizinha
loja de conveniência da Galp. “Estamos proibidos de vender garrafas de vidro,
mas aqui ao lado isso não acontece. A Câmara de Lisboa tem sido forte com os
fracos, como nós, e fraca com os fortes”, diz, referindo-se ao posto da Galp.
Mas tal duplicidade de avaliação estender-se-á também à forma como o grupo de
cidadãos que apresentou a petição olha para a realidade: “Acho que exageram
manifestamente. Se virem uma saco do McDonald’s no chão, acham que a culpa é do
cliente, mas se virem copos de plástico aqui na zona a culpa já é nossa”.
Tiago Pereira reconhece que muita da sua
clientela é constituída por jovens, mas desmente que os mesmos sejam, na sua
maioria, alunos do Instituto Superior Técnico ou da Escola Dona Filipa de
Lencastre. “São jovens, sim, mas a maior parte, se calhar, até são consultores
das empresas que fazem outsourcing aqui na Caixa Geral de Depósitos. E muitos
outros vêm aqui porque estão apenas à espera que o Jardim do Arco do Cego, que
esteve em obras, reabra”, justifica, depois de assegurar que, além de comprarem
no seu estabelecimento e na gasolineira ao lado, muitos clientes
abastecer-se-ão de bebidas alcoólicas “nas lojas dos indianos”. Em todo o caso,
muitas das razões de queixa dos moradores a propósito do desassossego nocturno
serão, em breve, mitigadas, pois o Oh Pereira passará a encerrar uma hora mais
cedo, às 23h.
Será apenas 45 minutos antes do horário de
fecho do posto da Galp. Loja cujo o gerente se diz de consciência tranquila em
relação às queixas dos moradores das redondezas – das quais disse a O Corvo ser
desconhecedor. “Atendemos todo o tipo de gente. Vendemos, sobretudo, garrafas
de cerveja de um litro, às quais se costuma chamar ‘litrosa’, como também
tabaco e servimos de sanitários para muita gente. Não temos é aqui 500 pessoas
à porta, como acontece aqui ao lado”, afirma Adão Graça, responsável pela
administração do posto de vende e combustíveis e loja de conveniência
associada.“Não podemos ir atrás das pessoas ou ensinar-lhes regras de civismo.
Isso é um problema da sociedade”, diz, ainda. Assegurando que zela pela limpeza
do espaço exterior junto ao estabelecimento, não deixa, porém, de fazer um
reparo: “Garrafas no chão vêem-se muito poucas, agora copos de plástico é que
há sempre muitos”.
* Nota de redacção: texto actualizado
às 16h51, de 28 de dezembro, clarificando papel desempenhado pelos grupos
Vizinhos do Areeiro e Vizinhos das Avenidas Novas.
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