sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Exposição fotográfica resgata a “alma” de Alfama, contra “expulsão dos moradores”




Exposição fotográfica resgata a “alma” de Alfama, contra “expulsão dos moradores”
POR SAMUEL ALEMÃO • 8 DEZEMBRO, 2017 •

Os retratos impressos em pedra da fotógrafa inglesa Camilla Watson são já bem conhecidos de quem frequenta as ruas e becos de Alfama e da Mouraria. São dela as caras dos velhos moradores deste dois arquetípicos bairros de uma certa imagem de Lisboa. Há uma década a viver na capital portuguesa, a britânica conseguiu cunhar um estilo pessoal reconhecível e ao mesmo tempo alcançar uma aceitação quase geral por parte da comunidade onde se integra.

 Tanto que o seu trabalho “Alma de Alfama”, cuja primeira versão foi revelada em setembro de 2016, através de uma parceria com a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, regressa agora numa segunda série de retratos dos seus moradores mais antigos, patentes numa nova exposição a céu aberto nas paredes daquele bairro, inaugurada na tarde desta quinta-feira (7 de dezembro). O percurso urbano pelas imagens tem início no Largo Chafariz de Dentro, junto ao Museu do Fado.

 A mostra, patrocinada por uma junta de freguesia cujo executivo é do mesmo partido que o que tutela a Câmara Municipal de Lisboa (CML), assume-se como um protesto contra a gentrificação. É a própria autarquia liderada por Miguel Coelho (PS) quem o assume em comunicado, recordando a notoriedade da exposição realizada no ano passado, já sob a sua tutela, e na qual era possível observar “retratos de algumas das pessoas mais carismáticas que ali viveram e que tanto contribuíram para o bairro que hoje conhecemos”.

O texto distribuído pela autarquia expressa essa vontade em “homenagear mais duas dezenas de residentes históricos do bairro, que ali se mantêm, contrariando a tendência de ‘expulsão’ de residentes a que se tem assistido e contribuindo para que Alfama se mantenha autêntica, genuína, aquilo que sempre foi”.

 Em declaração a O Corvo, Miguel Coelho salienta que a insistência na exposição se justifica porque a mostra do ano passado “não foi suficiente para prestar a devida homenagem às gentes que habitam Alfama”. “Ainda por cima, neste momento em que os nossos bairros estão a ser assaltados em nome do investimento no alojamento local, assaltados das pessoas que os habitam, faz cada vez mais sentido homenagear essas pessoas, que aqui persistem e mantêm as suas características”, diz o autarca.

 Miguel Coelho salienta ainda que outro dos objectivos da iniciativa é “alertar para o grande problema da má exploração desta actividade, que tem vantagens e efeitos positivos, mas que pode ser nefasta”. O presidente da Junta de Maria Maior, onde se incluem bairros como Alfama, Mouraria, Castelo e Baixa, tem feito com insistência alertas relacionados com os excessos do turismo e da pressão imobiliária.

 Também Camilla Watson explica a O Corvo que repetir este projecto é, além de um prazer pessoal muito grande, uma forma de poder “guardar na memória de todos que estas pessoas viveram em Alfama”. “Nesta altura que Alfama, e também a Mouraria, sofrem tantas mudanças, é muito importante fazer iniciativas que lembrem quem mora aqui e contribui diariamente para a alma do centro da cidade”, afirma.


 Texto: Samuel Alemão

Sem comentários: