Celtejo reclama 250 mil euros a ambientalista que denuncia
casos de poluição
O ambientalista disse estar "triste e indignado com
este processo", tendo afirmado que o mesmo "pretende silenciar vozes
incómodas num caso de autêntico terrorismo psicológico".
LUSA 21 de Dezembro de 2017, 21:42
A empresa
Celtejo instaurou um processo ao ambientalista Arlindo Marques, do movimento
proTEJO, por este associar os episódios de poluição no Tejo à empresa,
reclamando esta o pagamento de 250 mil euros por danos atentatórios do seu bom
nome
Em causa,
segundo se pode ler no processo que a Celtejo - Empresa Celulose do Tejo, SA,
instalada em Vila Velha de Rodão, Castelo Branco, instaurou a Arlindo Marques,
guarda prisional de profissão e conhecido no distrito de Santarém como o
"guardião do Tejo", estão "afirmações que têm por objectivo
gerar na opinião pública a ideia de que a autora [do processo] é responsável,
ou co-responsável, pela alegada poluição do rio Tejo".
O
documento, entregue no Tribunal Judicial de Santarém e ao qual a agência Lusa
teve acesso, tem a data de 12 de Dezembro de 2017 e reclama do réu 250 mil
euros acrescidos de juros de mora até integral pagamento para "compensar a
autora pelos danos sofridos por causa da ofensa cometida".
O processo,
com 90 páginas, é sustentado com imagens publicadas nas redes sociais e cópias
de notícias de vários órgãos de comunicação social com denúncias e entrevistas
do ambientalista que a Celtejo considera difamatórias.
"Ao
longo dos últimos meses, o réu tem vindo a proferir, de forma reiterada e
através de meios e plataformas que facilitam a sua divulgação, afirmações que
atentam contra o bom nome, a credibilidade e o prestígio da autora", pode
ler-se na acusação.
Tendo por
objecto social a produção e comercialização de pastas celulósicas e seus
derivados ou afins, a Celtejo afirma "orientar a sua actividade económica
por critérios de sustentabilidade e preservação ambiental, bem como pela
rigorosa certificação de qualidade".
A Lusa tentou
contactar a Celtejo, sem sucesso. Arlindo Marques tem 30 dias para se defender.
Contactado
pela Lusa, o ambientalista disse estar "triste e indignado com este
processo", tendo afirmado que o mesmo "pretende silenciar vozes
incómodas num caso de autêntico terrorismo psicológico".
Segundo
Arlindo Marques, "os casos de denúncia de situações de poluição têm
aumentado de visibilidade graças ao trabalho de cidadania dos populares e do
movimento proTEJO", tendo afirmado que "toda a gente vê, toda a gente
sabe, que a poluição vem de lá", referindo-se a Vila Velha de Rodão.
"Para
montante de Vila Velha de Rodão já não há aquela poluição, nada disto se passa,
pelo que acho que é lamentável virem querer atacar um simples cidadão que está
no exercício dos seus deveres e obrigações de cidadania. Não estou arrependido
e vou continuar a denunciar estes casos de poluição, enquanto eles
existirem", afirmou, tendo manifestado a "esperança de ainda ver o
rio correr limpo".
"Vou
defender-me, conto com o apoio de muita gente que está revoltada com este
processo e acho que esta indemnização que me estão a pedir deviam ser eles a
pagar. Não a mim, mas aos pescadores, que ficaram privados do seu ganha-pão, e
por todos os prejuízos que têm causado em termos ambientais", concluiu.
Os
primeiros apoios a Arlindo Marques chegaram através do porta-voz do Movimento
pelo Tejo - proTEJO, tendo Paulo Constantino afirmado que o ambientalista
"tem sido a voz e os olhos das populações ribeirinhas" e que a
acusação "não tem sentido, sendo antes uma oportunidade para saber quem é
quem na poluição do Tejo".
Também a
Assembleia Municipal de Mação, município do distrito de Santarém, já se
pronunciou sobre este processo, tendo aprovado por unanimidade uma moção na
quarta-feira denominada "Arlindo Marques actuou como porta-voz de
Mação" e que visa apoiar financeiramente a defesa judicial do
ambientalista.
"Esta Assembleia Municipal solidariza-se com o Arlindo
Consolado Marques, verdadeiro guardião do rio Tejo, que tem atuado como
legítimo porta-voz da população do concelho de Mação e de todos aqueles que se
preocupam com o rio Tejo. Os membros desta Assembleia Municipal consideram que
uma acção contra Arlindo Consolado Marques é uma acção contra todos os cidadãos
de Mação", lê-se no texto da moção daquele município ribeirinho.
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