Água a monte”
e o ministro que aparentemente nada viu
Nas três
últimas semanas, a barragem de Cedillo largou para Portugal grandes descargas
de água — o que surpreendeu quem vive nas proximidades.
(…) “Porém, a
proTejo, no comunicado em que anuncia a queixa à UE e a denúncia à PGR faz uma
revelação curiosa: “O Ministério do Ambiente português está dependente da
veracidade dos dados fornecidos pela Confederación Hidrográfica del Tajo, visto
que o local de medição dos caudais para verificar o cumprimento da Convenção de
Albufeira está localizado na Barragem de Cedillo, que pertence a Espanha.
Curiosamente, o SAIH Tajo apresenta o caudal online e em tempo real de todas as
barragens do Tejo espanhol, menos na Barragem de Cedillo, onde se afere do
cumprimento ou incumprimento da Convenção de Albufeira.”
Luciano Alvarez
LUCIANO ALVAREZ 6 de Dezembro de 2017, 6:42
Desde o
início do mês de Novembro, apesar da seca que atinge os dois países, a
albufeira da Barragem de Cedillo esteve quase sempre perto do máximo da sua
capacidade (95%).
Nas três
últimas semanas, esta barragem largou para Portugal grandes descargas de água.
Quantidades que surpreenderam as muitas pessoas ouvidas pelo PÚBLICO, que dizem
que há muitos meses não viam tanta água a correr no rio.
Descargas
que aconteceram depois de terem sido encontrados milhares de peixes mortos na
zona de Vila Velha de Ródão (2 de Novembro), o que também já tinha acontecido
em Outubro, em alturas que o caudal do Tejo na região corria baixo e mostrava
“grandes manchas castanhas e pretas causadas pela poluição”.
Aconteceram
também antes da visita do ministro do Ambiente a Vila Velha de Ródão (12 de
Novembro), onde José Matos Fernandes fez a seguinte declaração. “Aquilo que eu
vi foi um rio que, não tendo nenhum problema aparente de poluição (não havia
peixes mortos), tinha menos água do que a expectativa que nós temos que ele
possa vir a ter e aquilo que é a própria memória que temos do Tejo com mais
água.”
Largadas de
água que se verificaram também durante o encontro dos ministros do Ambiente de
Portugal e Espanha, no Porto (25 e 26 de Novembro), para discutirem, entre
outras matérias, a gestão do rio.
Também na
semana passada, enquanto a água corria “a monte”, como dizem os habitantes
locais, a associação ambientalista Zero acusou Espanha de não disponibilizar os
caudais acordados, e a proTejo anunciou uma queixa contra os poluidores do rio
na União Europeia e uma denúncia por crime público na Procuradoria-Geral da
República.
Os
ministros de Ambiente de Portugal e Espanha garantem que foi descarregada para
Portugal nos três rios que correm de Espanha para Portugal (Tejo, Douro e
Guadiana) a água acordada na Convenção de Albufeira.
Porém, a proTejo, no comunicado em que anuncia a queixa à UE
e a denúncia à PGR faz uma revelação curiosa: “O Ministério do Ambiente
português está dependente da veracidade dos dados fornecidos pela Confederación
Hidrográfica del Tajo, visto que o local de medição dos caudais para verificar
o cumprimento da Convenção de Albufeira está localizado na Barragem de Cedillo,
que pertence a Espanha. Curiosamente,
o SAIH Tajo apresenta o caudal online e em tempo real de todas as barragens do
Tejo espanhol, menos na Barragem de Cedillo, onde se afere do cumprimento ou
incumprimento da Convenção de Albufeira.”
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