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Aprovação
do novo plano fiscal americano
“Não há dúvidas
sobre as consequências desta lei: ela irá forçar um extraordinário aumento de
1,4 biliões de dólares ao défice americano, que será pago de três formas — com
redução de apoios sociais, menores investimentos em serviços públicos como
transportes ou educação e com aumentos de impostos para a classe média.”
A oligarquia
americana
A suprema
ironia é que esta votação tenha ocorrido menos de 24 horas depois de um evento
que pode colocar em causa toda a presidência Trump.
DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE
3 de Dezembro de 2017, 6:28
É a grande
vitória de Trump: o partido republicano rendeu-se a toda a linha aos interesses
corporativos. A aprovação do novo plano fiscal americano é uma absoluta capitulação
às grandes empresas e aos milionários à custa dos mais pobres. Não há dúvidas
sobre as consequências desta lei: ela irá forçar um extraordinário aumento de
1,4 biliões de dólares ao défice americano, que será pago de três formas — com
redução de apoios sociais, menores investimentos em serviços públicos como
transportes ou educação e com aumentos de impostos para a classe média.
Com esta
nova lei tributária confirma-se que os republicanos são um partido unanimemente
entregue às forças conservadoras, sem traços de liberalismo nem de modernidade.
Que seja um outsider arrivista como Trump a exibir a verdadeira faceta dos
republicanos é apenas uma nota que fica para o rodapé da História. Mas todos os
que votaram esta lei, entre os quais estão os nomes do passado do partido (como
John McCain) e muitos do seu futuro (como Ted Cruz), têm uma dose imensa de
co-responsabilidade no que se vive.
Esta lei é
também a confirmação da transformação da democracia americana numa oligarquia.
As eleições dependem de campanhas que estão montadas no sentido de beneficiar
quem mais dinheiro gasta; o dinheiro vem das grandes empresas que sustentam
candidatos, na grande maioria republicanos, que dizem representar os interesses
dos eleitores; na hora da verdade, os eleitos servem quem mais paga. O que é
extraordinário é que tantos americanos ainda acreditem na fábula da democracia
representativa que supostamente ocupa os corredores de Washington.
A suprema
ironia é que esta votação tenha ocorrido menos de 24 horas depois de um evento
que pode colocar em causa toda a presidência Trump. Neste momento, só a justiça
americana parece ser capaz de reverter o esquema de poder montado nos Estados
Unidos. E é precisamente isso que pode estar em preparação. A investigação que
o procurador especial está a conduzir sobre o suposto conluio com a Rússia
antes e depois das eleições presidenciais pode ser um escândalo que leve à
queda do Presidente — cenário que se tornou um pouco mais real depois do
anúncio de que Michael Flynn, ex-conselheiro de segurança nacional, se declarou
culpado de mentir ao FBI e estará a colaborar com a investigação para que esta
implique as figuras do topo do Estado. Leia-se Mike Pence e Donald Trump. A
democracia americana está numa condição tão comatosa que só resta rezar por um
Watergate.
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