domingo, 3 de dezembro de 2017

Estrangeiros gastam mais 40% do que portugueses a comprar casa em Lisboa

"Este fenómeno do Alojamento Local extravasou completamente aquele que era o seu conceito inicial, de partilha de habitação, vindo da economia de partilha, e passou a ser uma indústria que está a ser promovida pela própria industria hoteleira e entidades imobiliárias que estão a aproveitar esta flexibilidade e facilidade que há no AL para levarem a cabo empreendimentos turísticos, fugindo completamente ao conceito de AL"
Amsterdam PVDA quer proíbir o aluguer de edifícios completos e apartamentos geridos por gestores Imobiliários no Alojamento Local. Apenas serão permitidos os alugueres de partes de casa, em alojamentos onde o proprietário também reside e pernoita.

"A perceção errónea de que os estrangeiros são clientes maioritários nestas zonas mais centrais — ao contrário do que efetivamente acontece — advém do facto de os investidores nacionais frequentemente não utilizarem as casas que adquirem para uso próprio e acabarem por arrendá-las, também a estrangeiros, justifica Ricardo Guimarães: “A compra de imóveis por parte dos nacionais no centro histórico não se destina a primeira habitação, como ocupação, e continua antes a inserir-se numa lógica de investimento, com a colocação das casas no chamado mercado do alojamento local.”

Estrangeiros gastam mais 40% do que portugueses a comprar casa em Lisboa
02.12.2017 às 16h00

Análise. O valor médio das casas é de €338 mil versus €244 mil pagos pelos nacionais
MARISA ANTUNES

Lisboa está no roteiro do investimento imobiliário e com boa parte da reabilitação e da construção nova a orientar-se para bolsos mais abonados. Mas serão só estrangeiros ou há cada vez mais nacionais dispostos a pagar valores elevados para comprar casa no centro da capital? Um estudo da Confidencial Imobiliário (Ci) a que o Expresso teve acesso analisou as 11 freguesias mais centrais da capital (Avenidas Novas, Belém, Alcântara, Ajuda, São Vicente, Santo António, Arroios, Santa Maria Maior, Campo de Ourique, Estrela e Misericórdia), cruzando os elementos dos direitos de preferência comunicados pelos proprietários à autarquia quando fazem a transmissão do imóvel

A partir daqui, foi possível apurar que 51% das casas com preços acima de €6000/m2 em Lisboa foram adquiridas por estrangeiros. E que 80% dos fogos do segmento até €3000/m2 foram comprados por portugueses. No total, nestas 11 freguesias e no período entre janeiro de 2016 e junho de 2017, foram vendidas 7300 habitações, das quais 1314 a estrangeiros.

No cômputo geral, foi ainda possível perceber que os estrangeiros gastam em média €338 mil quando compram casa na capital portuguesa. Um valor que está cerca de 40% acima dos €244 mil investidos, em média, na aquisição pelos portugueses nas 11 freguesias no mesmo período.

“Este diferencial no perfil de aquisições entre compradores nacionais e internacionais é visível, desde logo, nas quotas que este último público tem no volume total de investimento e no número de transações. Se os estrangeiros pesam cerca de 18% no total das 7300 transações de casas concretizadas nesta zona nesses 18 meses, esse peso aumenta para 24% quando a análise é feita em valor. Assim, os compradores internacionais geraram cerca de €446 milhões do total dos €1900 milhões transacionados em habitação nesse mercado”, explica o economista Ricardo Guimarães, diretor da Ci.

E que zonas estão a atrair mais os estrangeiros? No eixo Alcântara-Ajuda-Belém, a quota de investimento internacional nas transações residenciais “é incipiente”, diz o responsável, ficando por cerca de 10% (€44,6 milhões) dos montantes movimentados. Já nas freguesias da Estrela, Campo de Ourique, Avenidas Novas e Arroios, o valor do investimento estrangeiro sobe para uma média de 19% (€85 milhões) do total do que ali é faturado. No centro histórico, mais concretamente nas freguesias de Santa Maria Maior, São Vicente e Misericórdia, o peso do investimento estrangeiro sobe para 30% (€134 milhões).

A perceção errónea de que os estrangeiros são clientes maioritários nestas zonas mais centrais — ao contrário do que efetivamente acontece — advém do facto de os investidores nacionais frequentemente não utilizarem as casas que adquirem para uso próprio e acabarem por arrendá-las, também a estrangeiros, justifica Ricardo Guimarães: “A compra de imóveis por parte dos nacionais no centro histórico não se destina a primeira habitação, como ocupação, e continua antes a inserir-se numa lógica de investimento, com a colocação das casas no chamado mercado do alojamento local.”

LISBOA, A BENETTON DO IMOBILIÁRIO
A análise feita pela Ci apurou ainda que no último ano e meio Lisboa atraiu uma panóplia cada vez mais vasta de estrangeiros, vindos literalmente dos quatro cantos do globo — são no total 84 nacionalidades.

Os franceses continuam a dominar, com 25% do número de transações de habitações realizadas por internacionais. Os chineses surgem imediatamente a seguir, com 16%. Porém, quando a avaliação é feita não em número mas em valor despendido, os chineses sobrepõem-se, com 21% dos €446 milhões investidos pelos estrangeiros nas 11 freguesias de Lisboa. Por montante investido, seguem-se os franceses, com 20%, e os brasileiros, com 10%.

Apesar de em número inferior, os brasileiros e cada vez mais os turcos são clientes de peso junto do disputado mercado imobiliário lisboeta. “Nota disso são os últimos dados apurados já para este segundo semestre de 2017: os brasileiros passaram dos anteriores 10% para 17% e passaram a ser os investidores com maior quota, superando mesmo os chineses.”


A capacidade de atração de Lisboa junto do país irmão continua em crescendo, atraindo brasileiros endinheirados, que são os que mais gastam na aquisição de casa — uma média de €548 mil. Na segunda posição estão os turcos, com compras médias na ordem de €453 mil. Seguem-se os chineses, com €362 mil, e os franceses, com €277 mil. “Esta nova realidade, com 84 nacionalidades ativas em Lisboa, mostra que a cidade pode ser resiliente a eventuais quebras de procura de uma ou outra proveniência”, remata Ricardo Guimarães, diretor da CI.

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