"A perceção
errónea de que os estrangeiros são clientes maioritários nestas zonas mais
centrais — ao contrário do que efetivamente acontece — advém do facto de os
investidores nacionais frequentemente não utilizarem as casas que adquirem para
uso próprio e acabarem por arrendá-las, também a estrangeiros, justifica
Ricardo Guimarães: “A compra de imóveis por parte dos nacionais no centro
histórico não se destina a primeira habitação, como ocupação, e continua antes
a inserir-se numa lógica de investimento, com a colocação das casas no chamado
mercado do alojamento local.”
Estrangeiros
gastam mais 40% do que portugueses a comprar casa em Lisboa
02.12.2017
às 16h00
Análise. O valor médio das casas é de €338 mil versus €244
mil pagos pelos nacionais
MARISA
ANTUNES
Lisboa está
no roteiro do investimento imobiliário e com boa parte da reabilitação e da
construção nova a orientar-se para bolsos mais abonados. Mas serão só
estrangeiros ou há cada vez mais nacionais dispostos a pagar valores elevados
para comprar casa no centro da capital? Um estudo da Confidencial Imobiliário
(Ci) a que o Expresso teve acesso analisou as 11 freguesias mais centrais da
capital (Avenidas Novas, Belém, Alcântara, Ajuda, São Vicente, Santo António,
Arroios, Santa Maria Maior, Campo de Ourique, Estrela e Misericórdia), cruzando
os elementos dos direitos de preferência comunicados pelos proprietários à
autarquia quando fazem a transmissão do imóvel
A partir
daqui, foi possível apurar que 51% das casas com preços acima de €6000/m2 em
Lisboa foram adquiridas por estrangeiros. E que 80% dos fogos do segmento até
€3000/m2 foram comprados por portugueses. No total, nestas 11 freguesias e no
período entre janeiro de 2016 e junho de 2017, foram vendidas 7300 habitações,
das quais 1314 a estrangeiros.
No cômputo
geral, foi ainda possível perceber que os estrangeiros gastam em média €338 mil
quando compram casa na capital portuguesa. Um valor que está cerca de 40% acima
dos €244 mil investidos, em média, na aquisição pelos portugueses nas 11
freguesias no mesmo período.
“Este
diferencial no perfil de aquisições entre compradores nacionais e
internacionais é visível, desde logo, nas quotas que este último público tem no
volume total de investimento e no número de transações. Se os estrangeiros
pesam cerca de 18% no total das 7300 transações de casas concretizadas nesta
zona nesses 18 meses, esse peso aumenta para 24% quando a análise é feita em
valor. Assim, os compradores internacionais geraram cerca de €446 milhões do
total dos €1900 milhões transacionados em habitação nesse mercado”, explica o
economista Ricardo Guimarães, diretor da Ci.
E que zonas
estão a atrair mais os estrangeiros? No eixo Alcântara-Ajuda-Belém, a quota de
investimento internacional nas transações residenciais “é incipiente”, diz o
responsável, ficando por cerca de 10% (€44,6 milhões) dos montantes
movimentados. Já nas freguesias da Estrela, Campo de Ourique, Avenidas Novas e
Arroios, o valor do investimento estrangeiro sobe para uma média de 19% (€85
milhões) do total do que ali é faturado. No centro histórico, mais
concretamente nas freguesias de Santa Maria Maior, São Vicente e Misericórdia,
o peso do investimento estrangeiro sobe para 30% (€134 milhões).
A perceção
errónea de que os estrangeiros são clientes maioritários nestas zonas mais
centrais — ao contrário do que efetivamente acontece — advém do facto de os
investidores nacionais frequentemente não utilizarem as casas que adquirem para
uso próprio e acabarem por arrendá-las, também a estrangeiros, justifica
Ricardo Guimarães: “A compra de imóveis por parte dos nacionais no centro
histórico não se destina a primeira habitação, como ocupação, e continua antes
a inserir-se numa lógica de investimento, com a colocação das casas no chamado
mercado do alojamento local.”
LISBOA, A
BENETTON DO IMOBILIÁRIO
A análise
feita pela Ci apurou ainda que no último ano e meio Lisboa atraiu uma panóplia
cada vez mais vasta de estrangeiros, vindos literalmente dos quatro cantos do
globo — são no total 84 nacionalidades.
Os
franceses continuam a dominar, com 25% do número de transações de habitações
realizadas por internacionais. Os chineses surgem imediatamente a seguir, com
16%. Porém, quando a avaliação é feita não em número mas em valor despendido,
os chineses sobrepõem-se, com 21% dos €446 milhões investidos pelos
estrangeiros nas 11 freguesias de Lisboa. Por montante investido, seguem-se os
franceses, com 20%, e os brasileiros, com 10%.
Apesar de
em número inferior, os brasileiros e cada vez mais os turcos são clientes de
peso junto do disputado mercado imobiliário lisboeta. “Nota disso são os
últimos dados apurados já para este segundo semestre de 2017: os brasileiros
passaram dos anteriores 10% para 17% e passaram a ser os investidores com maior
quota, superando mesmo os chineses.”
A capacidade
de atração de Lisboa junto do país irmão continua em crescendo, atraindo
brasileiros endinheirados, que são os que mais gastam na aquisição de casa —
uma média de €548 mil. Na segunda posição estão os turcos, com compras médias
na ordem de €453 mil. Seguem-se os chineses, com €362 mil, e os franceses, com
€277 mil. “Esta nova realidade, com 84 nacionalidades ativas em Lisboa, mostra
que a cidade pode ser resiliente a eventuais quebras de procura de uma ou outra
proveniência”, remata Ricardo Guimarães, diretor da CI.
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