Escolher o momento da passagem do Ano, para espalhar mais
uma mensagem negacionista, ilustra um momento gravíssimo de alienação e
ilimitada irresponsabilidade.
Trump ultrapassa tudo o que é imaginável em imagem
estigmatizada e caricaturada sobre uma América que no entanto existe, com todos
os perigos associados na realidade.
OVOODOCORVO
" A mais recente declaração do Presidente norte-americano não surpreende. Em Junho deste ano, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo do Clima de Paris, um pacto global desenhado para combater o aquecimento planetário, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, subscrito por 195 países do mundo."
Trump quer usar aquecimento global
para aquecer a passagem de ano
Presidente norte-americano ironiza
com a vaga de frio que vai passar pela Costa Leste dos EUA para lançar mais uma
farpa contra o combate às alterações climáticas.
LILIANA BORGES 29 de Dezembro de 2017, 12:30 actualizado a
29 de Dezembro de 2017, 19:34
“Onde está o aquecimento global se faz frio no Inverno?” –
talvez esta seja uma das perguntas mais repetidas por quem não acredita nas
provas e explicações científicas sobre o aquecimento global. E foi esta a
insinuação lançada pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, ao final da
noite desta quinta-feira, quando reflectia sobre as baixas temperaturas que
estão previstas para a noite de passagem de ano. No Twitter, o líder da Casa
Branca escreveu que o país poderia usar "um pouco" do aquecimento
global para combater as baixas temperaturas esperadas para a última noite do
ano.
“No Leste [dos EUA], pode ser a noite de fim de ano mais
fria de que há registo. Talvez pudéssemos usar um pouco do velho aquecimento
global que o nosso país, não os outros
países, iria combater pagando biliões de dólares. Agasalhem-se!”, escreveu Trump
no Twitter.
Falando da meteorologia, o líder norte-americano esqueceu o
clima. Enquanto o primeiro diz respeito às condições atmosféricas durante um
curto período de tempo, o segundo diz respeito a padrões de longo prazo.
A mensagem de Trump não será uma surpresa, tendo em conta o
que assumido cepticismo sobre a influência humana nas alterações climáticas
desde sempre manifestadas pelo Presidente dos EUA. Aliás, desta vez, até houve
quem se antecipasse a Trump e à sua mensagem, antevendo que talvez viesse a
público aproveitar a onda de frio prevista para a Costa Leste dos EUA para
lançar mais uma farpa. Foi o caso do serviço de meteorologia do jornal
Washington Post, denominado Capital Weather Gang (CWG) – qualquer coisa como
"O Gangue da Meteorologia na Capital" –, que reúne meteorologistas e
autores num blogue de grande popularidade.
Quando os meteorologistas prevêem o que diz Trump
Horas antes da mensagem de Trump, o CWG deixara uma mensagem
no Twitter em que anunciava as previsões meteorológicas e, numa previsão muito
acertada, alertou para o perigo das conclusões falaciosas daí retiradas.
Também através do Twitter, o Capital Weather Gang escreveu
que os EUA seriam, durante a próxima semana, a região mundial mais fria e com o
maior desvio de temperatura face ao normal para a época.
Depois disso, acrescentava que "o resto do mundo estará
mais quente do que o normal", concluindo – de forma premonitória – que era
preciso não esquecer esse facto "para que ninguém tente reinvindicar que
esta bolsa de frio nos EUA contraria o aquecimento global". Algo que,
apesar das evidências científicas "eles vão fazer sistemática e irresponsavelmente".
Empresa de Trump invocou aquecimento global para construir
muro
Há outra curiosidade a envolver o contexto desta mensagem em
que Trump ironiza com a ideia de que a Terra está a ficar mais quente por acção
da humanidade. Uma semana antes, uma empresa do actual líder dos EUA obteve
autorização para construir um muro de protecção num campo de golfe que explora
na Irlanda. O muro serviria para suster as investidas do mar, que ameaça aquele
empreendimento turístico explorado pela família do Presidente. E, contrariando
a posição céptica que Trump faz passar na mensagem de quinta-feira, o pedido de
licenciamento para a construção do muro invocava a subida do mar devido ao
aquecimento global como razão para licenciar a obra.
Em Fevereiro de 2014, Trump investiu neste campo de golfe
aproximadamente 15 milhões de euros, conta a CNBC. O resort de golfe em
Doonbeg, no Oeste da Irlanda.
As catástrofes dos incêndios
As mais recentes declarações de Trump parecem também ignorar
as catástrofes ambientais que marcaram os Estados Unidos em 2017, nomeadamente
os incêndios da Califórnia, descritos como uma das “maiores tragédias” que já
atingiram aquele estado norte-americano. Em Outubro, vários condados deste
estado foram consumidos pelas chamas, que afectaram grande parte das famosas
regiões vinícolas de Napa e Sonoma.
Um dos incêndios, apelidado "Fogo Thomas",
consumiu mais de 570 mil hectares, uma área superior à de toda a cidade de Nova
Iorque. As chamas, que se prolongaram até Dezembro, destruíram pelo menos 8900
casas e deixaram desalojadas milhares de pessoas.
A mais recente declaração do Presidente norte-americano não
surpreende. Em Junho deste ano, Trump anunciou a saída dos EUA do Acordo do
Clima de Paris, um pacto global desenhado para combater o aquecimento
planetário, através da redução das emissões de gases com efeito de estufa, subscrito
por 195 países do mundo.
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