sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Director do SEF arquivou auditoria que revelava indícios de corrupção


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Director do SEF arquivou auditoria que revelava indícios de corrupção

A investigação inclui o o ex-director nacional adjunto do SEF, Luís Gouveia, recentemente nomeado para um cargo de oficial de ligação em Bruxelas.
 A auditoria foi ordenada por Luísa Maia Gonçalves, directora do SEF que foi demitida por Constança Urbano de Sousa
Em causa estão milhares de vistos de residência passados, especialmente em 2015, ao abrigo do artigo 88 — que, na altura, permitia, a título excepcional, conceder autorizações a estrangeiros que demonstrassem ter uma ligação laboral no nosso país há mais de um ano, e provassem ter entrado legalmente em território nacional. Alegadamente por acordo entre os responsáveis do SEF e algumas associações de imigrantes, que criticavam a excessiva burocracia e a dificuldade de muitos imigrantes, já a trabalhar em Portugal, em conseguir a prova de entrada legal, o requisito foi suspenso.

PÚBLICO 15 de Dezembro de 2017, 7:50

O novo director do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), Carlos Moreira, mandou arquivar uma auditoria interna concluída há um mês, com suspeitas de corrupção e concessão de vistos ilegais sem o requisito obrigatório de prova de entrada legal no nosso país, noticia o Diário de Notícias esta sexta-feira. O Gabinete de Inspecção do SEF, que conduziu a auditoria durante um ano, propôs sanções disciplinares a um total de seis funcionários, da base ao topo.


Entre os visados da auditoria está o ex-director nacional adjunto do SEF, Luís Gouveia. Foram ainda extraídas duas certidões criminais relativas aos indícios de corrupção de um inspector e um administrativo, que terão recebido dinheiro para conceder os vistos.

O líder parlamentar Nuno Magalhães considera "muito grave" a decisão de Carlos Moreira e espera "explicações cabais" do ministro da Administração Interna. Já o gabinete do ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita sublinha que "tem plena confiança na Direcção Nacional do SEF no exercício das suas competências próprias, designadamente em matéria disciplinar". Ambos falam ao DN.

Luís Gouveia sublinhou que foi "ouvido" e fez a sua "defesa em sede da auditoria". "Trata-se de uma questão interna. Para mim o assunto está encerrado e arquivado", assinalou, em declarações ao mesmo jornal. Luís Gouveia foi recentemente nomeado para o cargo de oficial de ligação na Representação Permanente Portuguesa em Bruxelas, cujo vencimento é superior a 10 mil euros mensais.

O ministro da Admnistração Interna, que assinou a nomeação de Luís Gouveia, conta que "a direcção do SEF indicou, nos termos dos procedimentos estabelecidos, três currículos para selecção do novo Oficial de Ligação na REPER" e que, para o ministro, "o curriculum do dr. Luís Gouveia foi considerado o mais adequado às funções" e "do seu registo pessoal não consta qualquer sanção disciplinar". A nomeação foi assim já depois do arquivamento da auditoria.

A auditoria, ordenada pela anterior directora, Luísa Maia Gonçalves — demitida pela ex-ministra da Administração Interna —, contou com uma equipa especial de investigação e reuniu informação que encheu um total de 15 volumes que incluem provas documentais sobre as ilegalidades.

Em causa estão milhares de vistos de residência passados, especialmente em 2015, ao abrigo do artigo 88 — que, na altura, permitia, a título excepcional, conceder autorizações a estrangeiros que demonstrassem ter uma ligação laboral no nosso país há mais de um ano, e provassem ter entrado legalmente em território nacional. Alegadamente por acordo entre os responsáveis do SEF e algumas associações de imigrantes, que criticavam a excessiva burocracia e a dificuldade de muitos imigrantes, já a trabalhar em Portugal, em conseguir a prova de entrada legal, o requisito foi suspenso.


Nesse ano, os pedidos de visto, com base nesta excepção mais que duplicaram (em 2014 foram registados 5800 pedidos, no ano seguinte o número aumentou para 12.200). Quando tomou posse, no início de 2016, Luísa Maia Gonçalves foi confrontada com a avalanche de pedidos e em Março assinou um despacho a revogar todas as orientações à margem da lei, embora com uma análise caso a caso para situações humanitárias, que foram legalizadas. "O que se tornou mais difícil foi a regularização de cidadãos que vivem ilegalmente noutros países e que eram trazidos para Portugal por redes criminosas só para obterem a autorização de residência, sendo explorado por estas redes na angariação de mão-de-obra ilegal e tráfico de seres humanos em situação de quase escravatura", justificou o SEF.

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