EDITORIAL
O silêncio do
Governo sobre a seca é um perigo
A ameaça da seca é real e
não se percebe por que razão o Governo não a traz para o primeiro plano das
suas prioridades políticas.
O excesso de confiança do
Governo é um perigo. Perante a incerteza, está mais do que na hora de fazer
soar os alarmes.
Manuel Carvalho
26 de Fevereiro
de 2018, 6:30
Adivinhar o clima
não é uma especialidade dos políticos. Mas, perante a seca que se agrava, o
Governo comporta-se com a tranquilidade do feiticeiro após a dança da chuva. Em
Janeiro, o ministro do Ambiente, José Pedro Matos Fernandes, dizia que a
precipitação acumulada e a que havia de cair permitiriam ao país "chegar
bem até Abril, sem sobressaltos". A sua falta de talento para a
meteorologia deu no que deu. O problema agravou-se e quase um décimo do
território nacional está em seca extrema numa época em que habitualmente
costuma chover com abundância.
O excesso de
confiança do Governo é um perigo. Perante a incerteza, está mais do que na hora
de fazer soar os alarmes. Os agricultores, que sentem antes de todos as agruras
da falta de água, já vieram a público dar conta do drama com que se confrontam
e o seu apelo devia bastar para que o Governo convocasse o país para a
possibilidade de algo correr muito mal até ao Verão. Não estamos a falar apenas
de incêndios. O risco de faltar água para abastecimento humano é real e a
possibilidade de haver culturas condenadas a morrer por falta de água não pode
ser descurada. O que está em causa é uma ameaça
gravíssima.
Para já, não faz
sentido instaurar um alarmismo desnecessário. A expectativa do ministro do
Ambiente, ainda pode ser concretizada. Mas face aos dados disponíveis e à
realidade concreta de regiões como Trás-os-Montes ou o Baixo Alentejo,
pergunta-se por que não se lançaram já campanhas de poupança de água. Ou porque
não se discute legislação que restrinja o uso de água para regar jardins, lavar
automóveis ou encher piscinas. E como não há tempo a perder, era bom que os
partidos que agora discutem o próximo ciclo de fundos europeus definissem um
plano de actuação para enfrentar as alterações climáticas que ameaçam
transformar uma parte significativa do território nacional num deserto.
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