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EDITORIAL
As armas e a democracia
O negócio das armas é uma consequência da degradação democrática dos
Estados Unidos. E não serão os jovens activistas a salvá-lo.
DIOGO QUEIROZ DE ANDRADE
23 de Fevereiro de 2018, 5:41
Mais um massacre, mais um apelo à contenção da venda de armas nos Estados
Unidos. Não valerá a pena ter grande esperança, os massacres de inocentes vão continuar
a acontecer. O debate não pretende ter um módico de seriedade porque não se
conseguem ultrapassar os argumentos falaciosos que não querem discutir
políticas, mas sim emoções.
Se o debate fosse sério, haveria muito caminho para fazer antes de chegar a
uma mirífica proibição das armas – poder-se-ia começar por exigir medidas
eficientes de avaliação do estado mental dos requerentes, implementar um
registo nacional que determine quantas armas tem cada pessoa, limitar o tipo de
arma que se pode adquirir e a forma como isso se faz. Mas tudo isto iria
limitar o mega-negócio do armamento.
O verdadeiro problema não é a defesa das armas. O verdadeiro problema é a
distorção democrática que se vive nos Estados Unidos nos últimos quarenta anos,
em que o dinheiro compra quem concorre às eleições e mantém os eleitos na
completa dependência dos lobbies que atiram dinheiro para cima do sistema
político. É neste cenário que medram os interesses de defesa das armas – que
são um negócio e não podem nunca ser confundidos com patriotismo. Esta história
já se verificou com as tabaqueiras, com as petrolíferas e com as empresas de
telecomunicações, e ainda acontecem também com as financeiras.
O outro drama que contamina os Estados Unidos, e que depende tanto do
sistema mediático como do político, tem a ver a desvalorização da ciência e do
rigor. O corolário da sociedade do espetáculo é o que trata todos os argumentos
por igual e dá legitimidade e espaço público a quem não debater ideias mas
apenas ganhar a guerra das emoções. É tão idiota defender que a terra é plana
como afirmar que não são as armas que matam – mas os autores destes discursos
passeiam-se alegremente pelas televisões, pelas rádios e pelas câmaras
legislativas enquanto representantes eleitos. Alguns serão cínicos ao ponto de
ter noção das barbaridades que dizem, outros repetem acefalamente o que lhes
mandam dizer. E esta galáxia é chefiada por Donald Trump, o analfabeto
funcional que despreza os briefings de inteligência das agências secretas mais
poderosas do mundo e prefere ser informado pelo talk-show matinal da Fox. Com
muitos americanos a preferir viver na sua bolha de realidade alternativa e o
cenário político completamente partido, o debate é impossível e os consensos
são altamente improváveis – pelo que não valerá muito a pena ter grande
esperança numa reforma legislativa a curto prazo.
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