segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Está instalada a guerra nos bastidores do Vaticano / Frei Bento Domingues responde a D. Manuel Clemente: “É um ato da teologia das palavras cruzadas. Um delírio” / The Guardian view on the Catholic church and child abuse: Pope Francis gets it wrong


Está instalada a guerra nos bastidores do Vaticano
MUNDO 11.02.2018 às 8h10

É um dos papas mais populares e acarinhados de sempre pelo povo, mas, na cúpula eclesiástica, Francisco motiva ódios cada vez mais difíceis de esconder. Um grupo de cardeais acusa-o mesmo de “ensinamentos heréticos” – colocando a ameaça de um cisma a pairar sobre a Igreja, mil anos depois da cisão de Roma e Constantinopla

PATRÍCIA FONSECA

Quem sou eu para julgar?” As palavras do Papa Francisco, aparentemente tão simples e imbuídas de compaixão, foram o mote para cimentar a união do grupo de cardeais mais conservadores do Vaticano contra o papado do jesuíta argentino, ainda mal o fumo branco se dissipara na chaminé da Capela Sistina, em março de 2013.

“Quem sou eu para julgar?”, disse-o, repetidas vezes, nos meses e anos seguintes, reforçando o incómodo na Cúria romana. Primeiro referindo-se aos homossexuais. Depois, a propósito de quase todos os temas polémicos para a Igreja: divórcio, aborto, contraceção, eutanásia.
A pergunta abala as milenares estruturas do trono de Pedro, como sucessor escolhido por Jesus Cristo. Do Papa espera-se uma sabedoria quase divina, uma certeza inabalável sobre o que é certo e errado. Esse poder está, aliás, representado na insígnia papal, com as suas chaves cruzadas (uma de ouro e outra de prata), que Jesus terá dado a Pedro, simbolizando os poderes de unir e separar, de decidir o que é permitido e o que é pecado. Na heráldica eclesiástica, as chaves simbolizam a autoridade espiritual do Papa como vigário de Cristo na Terra.

A pergunta, só por si, é considerada ofensiva por muitos dos influentes membros com poderes no Conclave. Francisco prefere citar o Evangelho (Mateus, VII: 1-2): “Não julgueis para não serdes julgados”. Para o Papa, um cristão não deve apontar o dedo aos outros, mas estender-lhes a mão para levantá-los. Logo após a sua eleição, e dirigindo-se aos padres que ouvem os católicos em confissão, pediu “mais paciência” e tempo para “ouvirem os seus dramas e as suas dificuldades, com ternura”. E, caso o confessor não os possa absolver, apelava, “que dê uma bênção, mesmo sem absolvição sacramental”. O Papa alertava para a falta de confiança no perdão de Deus, que só leva a uma “amargura existencial” que “impede as pessoas de se levantarem de novo, quando caem”. A Igreja, defende, “deve ajudar as pessoas a perceber que é sempre possível recomeçar, desde que Jesus perdoe”.

A 'BOMBA ATÓMICA'
O primeiro Papa jesuíta da História, e o primeiro não europeu em mais de 1200 anos, foi uma escolha invulgar para suceder ao conservador Bento XVI e era expectável que a sua visão de um papado mais próximo dos pobres e dos excluídos gerasse mal-estar junto dos setores mais tradicionalistas do Vaticano. A sua própria postura (renunciando a vários luxos e à pompa excessiva em torno do cargo), bem como a interpretação do que deve ser um Papa (“sou apenas mais um bispo”) geraram, desde logo, inúmeros anticorpos. Como assim, um Papa que conduz o seu pequeno carro, que carrega as malas, que paga a conta do hotel? Que agarra num telefone e fala diretamente com as pessoas? Mas nada faria antever o nível de brutalidade a que chegou a guerra nos bastidores da Cúria romana. Como definiu um teólogo esta semana ao jornal britânico The Guardian, acusar o Papa de heresia é o equivalente a, num conflito armado, recorrer à bomba atómica.

A heresia, um termo utilizado tanto pela Igreja Católica como pelas igrejas protestantes, é “uma posição contrária à verdade revelada por Jesus Cristo”, ou “a mera dúvida de um dogma da fé divina”, por uma pessoa batizada. A punição para um herege é a excomunhão – ou seja, o Papa seria afastado não apenas do cargo mas também da própria Igreja.

As primeiras acusações públicas contra Francisco foram crescendo de tom ao longo do último ano, mas ganharam nova força quando surgiram numa carta aberta, divulgada em setembro passado. Mais de cinco dezenas de católicos descontentes – entre eles um cardeal, um bispo e o antigo diretor do banco do Vaticano – acusam o Papa Francisco de sete posições heréticas. Ao Guardian, um “proeminente clérigo”, que também assinou essa carta, confessou mesmo: “Mal podemos esperar que ele morra. É impublicável o que dizemos dele em privado.”

A ALEGRIA DO AMOR
A “gota de água” terá sido uma simples nota de rodapé num texto intitulado Amoris Laetitia (a Alegria do Amor). A exortação de Francisco, publicada em abril do ano passado, é um texto longo e muito cauteloso, composto por nove capítulos que se baseiam nos resultados de dois Sínodos dos Bispos sobre a Família, realizados em 2014 e 2015. É no capítulo 8 que surge a polémica referência de Francisco, explicitando que pessoas que vivem segundos casamentos ou em união de facto “podem viver na graça de Deus, podem amar e crescer na vida da graça e da caridade, e para tal podem receber a ajuda da Igreja”. Acrescenta ainda, para maior descontentamento da ala conservadora do Vaticano, que “em certos casos, isto poderá incluir a ajuda dos sacramentos”.

A questão do divórcio tem sido central nesta polémica – na verdade, nunca deixou de ser motivo de discórdia no seio da Igreja, com maior ênfase desde os anos 60 e o Concílio Vaticano II. Francisco tem condenado de forma subtil a hipocrisia dos ricos e poderosos, que conseguem pagar advogados e provar que um casamento não foi consumado à luz dos preceitos que a Igreja exige (podendo ser anulado), enquanto outros se separam e refazem as suas vidas, sem que exista algo de imperdoável nisso (mas ficam impedidos de voltar a ter relações sexuais e são afastados da comunhão).

A realidade – sabem-no o Papa, os cardeais, os bispos, os padres e todos os católicos – é que há milhões de crentes classificados como “pecadores” e que sofrem por verem as portas da Igreja fechadas. Há quem as abra, aceitando batizar crianças de mães solteiras, ou permitindo que uma mulher divorciada comungue na missa de domingo, ou fechando os olhos à orientação sexual daqueles que juntam a sua voz aos cânticos litúrgicos. Mas tudo é feito em segredo, quase em vergonha, uma ínfima exceção no mundo católico. O que o Papa Francisco pretende é escancarar as portas, com compaixão – mas ainda há demasiadas trancas e cadeados de complexos segredos a impedirem uma abertura assim no Vaticano.

O ARQUI-INIMIGO AMERICANO
Na lindíssima sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano, os votos de Natal do Papa para os seus cardeais tiveram, por tudo isto, este ano um travo mais amargo. Com o seu típico bom humor, começou por citar um conselheiro do Papa Pio IX, para dizer que sabia bem a difícil tarefa que iniciara: “Fazer reformas em Roma é como querer limpar a esfinge do Egito com uma escova de dentes.”

Ainda não se tinham desfeito os sorrisos amarelos e já ele prosseguia, falando do “verdadeiro perigo” que ameaça o Vaticano: “os pequenos grupos”, os “conluios” de “traidores da confiança”, os que “se aproveitam da maternidade da Igreja” e se deixam “corromper pela ambição ou pela glória vã” e que, “quando delicadamente são afastados, autodeclaram-se falsamente mártires do sistema e do 'Papa desinformado', em vez de recitar o mea culpa”.

A crítica atingiu, como uma lança certeira, o cardeal norte-americano Raymund Burke, que lidera a ala conservadora do Vaticano e a onda de contestação pública ao papado de Francisco. Burke é a personificação de tudo o que o Papa jesuíta repudia em Roma: o fausto, a pompa, o luxo desmesurado de quem se julga superior aos outros mortais.

O grande embate entre os dois terá ocorrido poucas semanas após a eleição de Francisco, quando o Papa expurgou a ordem dos Frades Franciscanos da Imaculada, que aliavam a devoção à missa tridentina (em latim, de costas para a congregação) às ideologias de direita, conquistando adeptos nos EUA. Essa Igreja distante, impenetrável, acessível apenas a alguns “eleitos”, não poderia estar mais longe da visão de Francisco para a Igreja, bem expressa no mote que escolheu para o seu brasão papal: “miserando atque eligendo” (“com misericórdia o elegeu”). A frase é uma referência a uma passagem no Evangelho de São Mateus, em que Jesus escolhe um publicano (cobrador de impostos) para o seguir. Com os publicanos não se podia falar, comer ou rezar. Eram vistos como traidores que tiravam à sua gente para dar aos poderosos. Mas, como lembrou Francisco, ao explicar a sua admiração por esta passagem, “Jesus parou, olhou-o sem pressa, com olhos de misericórdia; olhou-o como ninguém o fizera antes. E aquele olhar abriu o seu coração, fê-lo livre, curou-o, deu-lhe uma esperança, uma nova vida, como a Zaqueu, a Bartimeu, a Maria Madalena, a Pedro e também a cada um de nós. Mesmo quando não ousamos levantar os olhos para o Senhor, o primeiro a olhar-nos é sempre Ele. Tal como muitos outros, cada um de nós pode dizer: eu também sou um pecador, sobre quem Jesus pousou o seu olhar (...) Jesus sabe ver para além das aparências, para além do pecado, do fracasso ou da nossa indignidade. Ele vê a dignidade de filho que todos temos, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no fundo da nossa alma”. Francisco quis inscrever no seu brasão esta ideia de aceitação: “Deixemo-nos olhar por Jesus, deixemos que o seu olhar nos devolva a esperança e a alegria da vida.”

O CANTO DE CISNE?
Poucos meses depois do início do pontificado de Francisco, o cardeal norte-americano que se notabilizava por entrar nos recintos com um manto tão comprido que necessitava de ser seguido por pajens, foi afastado do cargo que exercia no tribunal superior de Roma e acabou também desautorizado na demissão do responsável pela Ordem de Malta (terá dito que foi o Papa a decidir o afastamento, Francisco negou tal facto e voltou a readmitir o clérigo, afastando Burke de mais decisões).

Se Burke o pretende atacar, invocando a imutabilidade da doutrina, Francisco responde com citações do Evangelho e com a lei da Cúria, recorrendo por exemplo ao Donum Veritatis (o Dom da Verdade), documento em que se reafirma que todos os católicos devem praticar a submissão da vontade e do intelecto aos ensinamentos do Papa e que aqueles que estiverem em desacordo nunca o devem fazer em público. Sobre a relação entre verdade e doutrina, prefere sublinhar que “a misericórdia é verdadeira”, e é o “primeiro atributo” de Deus. “Deus é um pai zeloso, atento, pronto para acolher qualquer pessoa que dê um passo ou que tenha o desejo de dar um passo na direção de casa. Ele está ali a observar o horizonte, espera-nos, está já à nossa espera. Nenhum pecado humano por muito grave que seja pode prevalecer sobre a misericórdia ou limitá-la.”

Por isso, o Papa defende o encontro com todas as pessoas e não apenas as “justas”, para chegar aos que estão longe, aos “marginalizados” e oferecer-lhes a salvação. Esta é a atitude que melhor segue os ensinamentos de Jesus, considera, admitindo que alguns reagem mal a “esta Igreja, que quer ir ao encontro de quem sofre”, para superar preconceitos, “sem sentir-se perfeita”.

Tudo esta guerrilha de palavras acontece, lembra o professor Paulo Mendes Pinto, devido à mediatização da figura de Francisco. “Durante séculos, ninguém sabia o que o Papa fazia ou pensava”, mas hoje ele entra-nos pela casa dentro todos os dias e faz doutrina, se assim pudermos dizer, “não pelos documentos eclesiásticos que promulga mas com o que diz a meio de uma viagem de avião, entre o lugar x e y...”, nota o professor de Ciência das Religiões.
“A Igreja Católica tem congregações e grupos com visões sociais e políticas muito diferentes, e isso pode ser uma riqueza, mas o Vaticano terá de aprender a trabalhar num regime mais próximo do que é uma democracia, e com mais transparência”, defende.

“Foi João XXIII, nos tempos modernos, o primeiro a defender que seria um bem geral sacudir a poeira imperial que foi caindo, desde Constantino, sobre o trono de Pedro. O Papa Francisco continua às voltas com essa herança pesada e paralisante”, lembrava Frei Bento Domingues, num texto de opinião no Público, no mês passado.

Os ataques contra Francisco, considera, são comparáveis às dificuldades vividas por Jesus Cristo “ao propor uma mudança de mentalidade aos seus contemporâneos e aos membros do povo a que pertencia” e que “encontrou uma grande adesão no mundo dos excluídos e uma resistência implacável entre os privilegiados”. Mas, “assim como aconteceu com Cristo”, diz Frei Bento, “nenhuma ameaça o tem paralisado”.

Para Paulo Mendes Pinto, estas acusações de “heresia” soam a “desespero da oposição dentro do Vaticano” e poderão mesmo ser “o seu canto de cisne”. Se assim não for, considera, “estamos a dois passos de ter um cisma”. Porque, faz notar, “o que está em causa não é um Papa que, durante uma homilia, diz alguma coisa 'fora da caixa'. Toda a sua postura, todo o seu pensamento está a ser contestado”.

O Papa não se pronunciou sobre estas acusações de forma explícita, “nem é esperado que o faça”, considera Mendes Pinto. “Creio que estas cartas abertas e este tipo de posições públicas, a continuarem, irão levar à convocação de um novo Concílio”, para discutir questões doutrinais no âmbito da sexualidade e da vida familiar.

E talvez seja mesmo essa a vontade última de Francisco: o Papa que se atreveu a reconhecer não ter todas as respostas para os problemas do mundo e, em busca de uma Igreja mais justa e misericordiosa, ousa questionar o seu próprio papel.


Frei Bento Domingues responde a D. Manuel Clemente: “É um ato da teologia das palavras cruzadas. Um delírio”
11.02.2018 às 14h00


 PAULO PAIXÃO
ROSA PEDROSO LIMA
texto

Frei Bento Domingues, de 83 anos, é uma das vozes da Igreja Católica mais presentes no espaço mediático (tem uma coluna semanal no “Público” há mais de duas décadas), falando sem tabus da realidade da Igreja e da relação dela com o mundo. Um observador privilegiado para comentar a nota pastoral de D. Manuel Clemente, em que o cardeal-patriarca de Lisboa aconselhou abstinência sexual aos católicos recasados que se queiram reaproximar da Igreja. “Um delírio” para o frade dominicano.

A nota do patriarca é um passo acertado com os tempos atuais ou é um passo atrás?
É um passo que não devia existir. É o casal quem deve decidir a sua vida íntima. Nenhum padre, nenhum bispo, ninguém se pode intrometer. É ridículo!

O texto representa o cardeal-patriarca de Lisboa ou o episcopado português?
Está à vista que é a opinião dele. Já outros se pronunciaram noutra direção.

Não deviam os bispos portugueses pronunciar-se?
Deviam fazer uma declaração explicando que, se um casamento não correu bem, há serviços pastorais nas dioceses para ajudar os casais, mas não propriamente sobre as questões sexuais.

Não é preciso um esclarecimento da Conferência Episcopal, que ainda não se pronunciou?
Isto é um ato do bispo de Lisboa, que não é patriarca das outras dioceses. Mas havendo pessoas que reagiram de forma muito violenta contra o Papa Francisco, os bispos que estão em comunhão com ele e que gostam da sua orientação pastoral podiam pronunciar-se. A Conferência Episcopal devia ter um pronunciamento de apoio às posições, que são bastante interessantes e abertas, da pastoral do bispo de Roma.

Esta nota de D. Manuel contraria o apelo à inclusão feito pelo Papa Francisco?
Eu acho que é um ato da teologia das palavras cruzadas. Porque ele diz que andou a cruzar documentos de João Paulo II, do cardeal Ratzinger e do Papa Francisco. Mas isto não é um problema de palavras cruzadas! Ou se aceita o caminho de abertura que o Papa Francisco abriu ou se recusa.

E estão a recusá-lo?
A maneira como este patriarca se pronunciou e o conselho dele parecem-me um bocado absurdos. O que significa para um casal a abstinência sexual? A ideia peregrina que existe há muitos anos do “viverem como irmãos”!... Então não casavam! Há coisas que não passam pela cabeça se a pessoa começar a pensar minimamente no que está a dizer! A meu ver, não houve orientação nenhuma, mas uma espécie de delírio mental.

O sentido da nota do patriarca aproxima-se mais do pensamento de João Paulo II, do de Bento XVI ou do do Papa Francisco?
Do Papa Francisco não. Com todo o respeito pela função de D. Manuel Clemente na Igreja de Lisboa, o problema é que foi um ato falhado sobre algo que, em primeiro lugar, devia remeter para consciência do casal. E com um efeito perverso: muita gente vai pensar que isto é que é a Igreja, porque ele é que é o patriarca de Lisboa e o presidente da Conferência Episcopal.

Será feita uma leitura errada da nota...
Vão começar a tirar ilações sem sentido. A Igreja é feita pelo conjunto dos cristãos. Santo Agostinho foi fantástico ao dizer: “Convosco sou cristão, para vós sou bispo.” O bispo de Lisboa tinha de contar primeiro que era cristão aos cristãos casados. E, como bispo, ajudar. O que vai ficar na opinião pública é que para os cristãos recasados o melhor é viverem em abstinência sexual. O problema é criar-se a ideia de que a Igreja são os bispos e os padres. Isso acho triste. E teve outro efeito: a pastoral de um bispo fixou a atenção de crentes e de não crentes numa realidade absurda.

Esta nota representa os católicos portugueses?
É evidente que não. Já há bispos com outros pronunciamentos. Há pessoas encarregadas das pastorais em dioceses [Viseu e Évora] que não se identificam com a nota do cardeal-patriarca. O que significa que os bispos dessas dioceses já tomaram uma orientação diferente.

REVIVER O PASSADO DO PRÉ-VATICANO II

Frei Bento Domingues fala com o desassombro de sempre. Em algumas das respostas, sem mencionar D. Manuel Clemente, a crítica vai direitinha para o cardeal-patriarca de Lisboa. Desde logo quando lembra que só no “pré- Vaticano II” vingava a “ideia de que a Igreja são os padres e os bispos”, o que o leva a declarar que “há pessoas que ainda estão no pré-Vaticano II”. Quanto ao resto, nomeadamente o facto de haver opiniões diferentes entre o episcopado português, a explicação é simples: “Os bispos são um ministério, um serviço à comunidade. Às vezes o serviço é bom, outras vezes o serviço não é tão bom.”

The Guardian view on the Catholic church and child abuse: Pope Francis gets it wrong
Editorial

His defence of an accused bishop appears to put him on the side of the hierarchy against the people in the pews

Sun 11 Feb 2018 18.18 GMT Last modified on Sun 11 Feb 2018 22.00 GMT

It is five years since Pope Benedict XVI stunned the Roman Catholic world by announcing he would resign. His time in office had been blighted by the emergence of terrible stories of sex abuse and institutional cover-up. Even though most of these dated from the time of his predecessors, Benedict’s efforts to make things right were clumsy and inadequate to the scale of the problem. His successor, Pope Francis, seemed as if he were going to change all that as part of the openness, energy and realism that has characterised his approach. But developments in recent weeks have cast Francis’s sincerity and seriousness into question and threaten to overshadow many of the other accomplishments of his papacy.

Earlier in his pontificate, Francis had to deal with the enforced departure of one of his closer collaborators, Cardinal George Pell, who left the Vatican to face charges of historic child abuse, which he vigorously denies, in his native Australia. Several members of the church’s commission for the protection of minors, which the pope had set up, resigned in protest at the obstructionism of some parts of the Vatican bureaucracy; but these are the parts that are thought hostile to Francis, too, so he was not widely blamed for what happened.

All that changed with the pope’s visit to Chile. The church there had been convulsed by the discovery that children had been abused by an influential priest for years. It is claimed that many other priests knew or even witnessed what was going on. Among them was Juan Barros, whom Francis made a bishop in 2015 and installed in a southern diocese in the teeth of furious protests from both clergy and congregation. Bishop Barros, who denies the claims, was prominent among the bishops who received Francis on his visit: the two men were photographed embracing; and when Francis was asked on the flight back what he thought of the allegations against the bishop, he replied that they were merely slander, and that he had not seen any proof to back them up.

This was outrageous enough. He later apologised for his language, saying it must have come as “a slap in the face” for survivors. He has sent the Vatican’s chief prosecutor to Chile to reinvestigate the case. But he reiterated his belief in Bishop Barros’s innocence. Now it emerges that an eight-page letter detailing the accusations against the bishop was handed to the pope by Cardinal Sean O’Malley, the man in charge of relations with survivors, who is trusted by both sides.

Either the pope failed to read the letter or he read and then discounted it. Either explanation must damage his reputation, and he has legions of enemies inside the church who want to destroy him. Most of these enemies denounce him for appealing to lay people over the heads of the priesthood, especially when it comes to sexual morality. In the case of Bishop Barros he seems to be committing a dreadful mistake by siding with the clergy and the establishment over the instincts of his flock.

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