Está instalada a
guerra nos bastidores do Vaticano
MUNDO 11.02.2018
às 8h10
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É um dos papas
mais populares e acarinhados de sempre pelo povo, mas, na cúpula eclesiástica,
Francisco motiva ódios cada vez mais difíceis de esconder. Um grupo de cardeais
acusa-o mesmo de “ensinamentos heréticos” – colocando a ameaça de um cisma a
pairar sobre a Igreja, mil anos depois da cisão de Roma e Constantinopla
PATRÍCIA FONSECA
Quem sou eu para
julgar?” As palavras do Papa Francisco, aparentemente tão simples e imbuídas de
compaixão, foram o mote para cimentar a união do grupo de cardeais mais conservadores
do Vaticano contra o papado do jesuíta argentino, ainda mal o fumo branco se
dissipara na chaminé da Capela Sistina, em março de 2013.
“Quem sou eu para
julgar?”, disse-o, repetidas vezes, nos meses e anos seguintes, reforçando o
incómodo na Cúria romana. Primeiro referindo-se aos homossexuais. Depois, a
propósito de quase todos os temas polémicos para a Igreja: divórcio, aborto,
contraceção, eutanásia.
A pergunta abala
as milenares estruturas do trono de Pedro, como sucessor escolhido por Jesus
Cristo. Do Papa espera-se uma sabedoria quase divina, uma certeza inabalável
sobre o que é certo e errado. Esse poder está, aliás, representado na insígnia
papal, com as suas chaves cruzadas (uma de ouro e outra de prata), que Jesus
terá dado a Pedro, simbolizando os poderes de unir e separar, de decidir o que
é permitido e o que é pecado. Na heráldica eclesiástica, as chaves simbolizam a
autoridade espiritual do Papa como vigário de Cristo na Terra.
A pergunta, só
por si, é considerada ofensiva por muitos dos influentes membros com poderes no
Conclave. Francisco prefere citar o Evangelho (Mateus, VII: 1-2): “Não julgueis
para não serdes julgados”. Para o Papa, um cristão não deve apontar o dedo aos
outros, mas estender-lhes a mão para levantá-los. Logo após a sua eleição, e
dirigindo-se aos padres que ouvem os católicos em confissão, pediu “mais
paciência” e tempo para “ouvirem os seus dramas e as suas dificuldades, com
ternura”. E, caso o confessor não os possa absolver, apelava, “que dê uma
bênção, mesmo sem absolvição sacramental”. O Papa alertava para a falta de
confiança no perdão de Deus, que só leva a uma “amargura existencial” que
“impede as pessoas de se levantarem de novo, quando caem”. A Igreja, defende,
“deve ajudar as pessoas a perceber que é sempre possível recomeçar, desde que
Jesus perdoe”.
A 'BOMBA ATÓMICA'
O primeiro Papa
jesuíta da História, e o primeiro não europeu em mais de 1200 anos, foi uma
escolha invulgar para suceder ao conservador Bento XVI e era expectável que a
sua visão de um papado mais próximo dos pobres e dos excluídos gerasse
mal-estar junto dos setores mais tradicionalistas do Vaticano. A sua própria
postura (renunciando a vários luxos e à pompa excessiva em torno do cargo), bem
como a interpretação do que deve ser um Papa (“sou apenas mais um bispo”)
geraram, desde logo, inúmeros anticorpos. Como assim, um Papa que conduz o seu
pequeno carro, que carrega as malas, que paga a conta do hotel? Que agarra num
telefone e fala diretamente com as pessoas? Mas nada faria antever o nível de
brutalidade a que chegou a guerra nos bastidores da Cúria romana. Como definiu
um teólogo esta semana ao jornal britânico The Guardian, acusar o Papa de
heresia é o equivalente a, num conflito armado, recorrer à bomba atómica.
A heresia, um
termo utilizado tanto pela Igreja Católica como pelas igrejas protestantes, é
“uma posição contrária à verdade revelada por Jesus Cristo”, ou “a mera dúvida
de um dogma da fé divina”, por uma pessoa batizada. A punição para um herege é
a excomunhão – ou seja, o Papa seria afastado não apenas do cargo mas também da
própria Igreja.
As primeiras
acusações públicas contra Francisco foram crescendo de tom ao longo do último
ano, mas ganharam nova força quando surgiram numa carta aberta, divulgada em
setembro passado. Mais de cinco dezenas de católicos descontentes – entre eles
um cardeal, um bispo e o antigo diretor do banco do Vaticano – acusam o Papa
Francisco de sete posições heréticas. Ao Guardian, um “proeminente clérigo”,
que também assinou essa carta, confessou mesmo: “Mal podemos esperar que ele
morra. É impublicável o que dizemos dele em privado.”
A ALEGRIA DO AMOR
A “gota de água”
terá sido uma simples nota de rodapé num texto intitulado Amoris Laetitia (a
Alegria do Amor). A exortação de Francisco, publicada em abril do ano passado,
é um texto longo e muito cauteloso, composto por nove capítulos que se baseiam
nos resultados de dois Sínodos dos Bispos sobre a Família, realizados em 2014 e
2015. É no capítulo 8 que surge a polémica referência de Francisco, explicitando
que pessoas que vivem segundos casamentos ou em união de facto “podem viver na
graça de Deus, podem amar e crescer na vida da graça e da caridade, e para tal
podem receber a ajuda da Igreja”. Acrescenta ainda, para maior descontentamento
da ala conservadora do Vaticano, que “em certos casos, isto poderá incluir a
ajuda dos sacramentos”.
A questão do
divórcio tem sido central nesta polémica – na verdade, nunca deixou de ser
motivo de discórdia no seio da Igreja, com maior ênfase desde os anos 60 e o
Concílio Vaticano II. Francisco tem condenado de forma subtil a hipocrisia dos
ricos e poderosos, que conseguem pagar advogados e provar que um casamento não
foi consumado à luz dos preceitos que a Igreja exige (podendo ser anulado),
enquanto outros se separam e refazem as suas vidas, sem que exista algo de
imperdoável nisso (mas ficam impedidos de voltar a ter relações sexuais e são
afastados da comunhão).
A realidade –
sabem-no o Papa, os cardeais, os bispos, os padres e todos os católicos – é que
há milhões de crentes classificados como “pecadores” e que sofrem por verem as
portas da Igreja fechadas. Há quem as abra, aceitando batizar crianças de mães
solteiras, ou permitindo que uma mulher divorciada comungue na missa de
domingo, ou fechando os olhos à orientação sexual daqueles que juntam a sua voz
aos cânticos litúrgicos. Mas tudo é feito em segredo, quase em vergonha, uma
ínfima exceção no mundo católico. O que o Papa Francisco pretende é escancarar
as portas, com compaixão – mas ainda há demasiadas trancas e cadeados de
complexos segredos a impedirem uma abertura assim no Vaticano.
O ARQUI-INIMIGO
AMERICANO
Na lindíssima
sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano, os votos de Natal do Papa
para os seus cardeais tiveram, por tudo isto, este ano um travo mais amargo.
Com o seu típico bom humor, começou por citar um conselheiro do Papa Pio IX,
para dizer que sabia bem a difícil tarefa que iniciara: “Fazer reformas em Roma
é como querer limpar a esfinge do Egito com uma escova de dentes.”
Ainda não se
tinham desfeito os sorrisos amarelos e já ele prosseguia, falando do
“verdadeiro perigo” que ameaça o Vaticano: “os pequenos grupos”, os “conluios”
de “traidores da confiança”, os que “se aproveitam da maternidade da Igreja” e
se deixam “corromper pela ambição ou pela glória vã” e que, “quando
delicadamente são afastados, autodeclaram-se falsamente mártires do sistema e
do 'Papa desinformado', em vez de recitar o mea culpa”.
A crítica
atingiu, como uma lança certeira, o cardeal norte-americano Raymund Burke, que
lidera a ala conservadora do Vaticano e a onda de contestação pública ao papado
de Francisco. Burke é a personificação de tudo o que o Papa jesuíta repudia em
Roma: o fausto, a pompa, o luxo desmesurado de quem se julga superior aos outros
mortais.
O grande embate
entre os dois terá ocorrido poucas semanas após a eleição de Francisco, quando
o Papa expurgou a ordem dos Frades Franciscanos da Imaculada, que aliavam a
devoção à missa tridentina (em latim, de costas para a congregação) às ideologias
de direita, conquistando adeptos nos EUA. Essa Igreja distante, impenetrável,
acessível apenas a alguns “eleitos”, não poderia estar mais longe da visão de
Francisco para a Igreja, bem expressa no mote que escolheu para o seu brasão
papal: “miserando atque eligendo” (“com misericórdia o elegeu”). A frase é uma
referência a uma passagem no Evangelho de São Mateus, em que Jesus escolhe um
publicano (cobrador de impostos) para o seguir. Com os publicanos não se podia
falar, comer ou rezar. Eram vistos como traidores que tiravam à sua gente para
dar aos poderosos. Mas, como lembrou Francisco, ao explicar a sua admiração por
esta passagem, “Jesus parou, olhou-o sem pressa, com olhos de misericórdia;
olhou-o como ninguém o fizera antes. E aquele olhar abriu o seu coração, fê-lo
livre, curou-o, deu-lhe uma esperança, uma nova vida, como a Zaqueu, a
Bartimeu, a Maria Madalena, a Pedro e também a cada um de nós. Mesmo quando não
ousamos levantar os olhos para o Senhor, o primeiro a olhar-nos é sempre Ele. Tal
como muitos outros, cada um de nós pode dizer: eu também sou um pecador, sobre
quem Jesus pousou o seu olhar (...) Jesus sabe ver para além das aparências,
para além do pecado, do fracasso ou da nossa indignidade. Ele vê a dignidade de
filho que todos temos, talvez manchada pelo pecado, mas sempre presente no
fundo da nossa alma”. Francisco quis inscrever no seu brasão esta ideia de
aceitação: “Deixemo-nos olhar por Jesus, deixemos que o seu olhar nos devolva a
esperança e a alegria da vida.”
O CANTO DE CISNE?
Poucos meses
depois do início do pontificado de Francisco, o cardeal norte-americano que se
notabilizava por entrar nos recintos com um manto tão comprido que necessitava
de ser seguido por pajens, foi afastado do cargo que exercia no tribunal superior
de Roma e acabou também desautorizado na demissão do responsável pela Ordem de
Malta (terá dito que foi o Papa a decidir o afastamento, Francisco negou tal
facto e voltou a readmitir o clérigo, afastando Burke de mais decisões).
Se Burke o
pretende atacar, invocando a imutabilidade da doutrina, Francisco responde com
citações do Evangelho e com a lei da Cúria, recorrendo por exemplo ao Donum
Veritatis (o Dom da Verdade), documento em que se reafirma que todos os
católicos devem praticar a submissão da vontade e do intelecto aos ensinamentos
do Papa e que aqueles que estiverem em desacordo nunca o devem fazer em
público. Sobre a relação entre verdade e doutrina, prefere sublinhar que “a
misericórdia é verdadeira”, e é o “primeiro atributo” de Deus. “Deus é um pai
zeloso, atento, pronto para acolher qualquer pessoa que dê um passo ou que
tenha o desejo de dar um passo na direção de casa. Ele está ali a observar o
horizonte, espera-nos, está já à nossa espera. Nenhum pecado humano por muito
grave que seja pode prevalecer sobre a misericórdia ou limitá-la.”
Por isso, o Papa
defende o encontro com todas as pessoas e não apenas as “justas”, para chegar
aos que estão longe, aos “marginalizados” e oferecer-lhes a salvação. Esta é a
atitude que melhor segue os ensinamentos de Jesus, considera, admitindo que
alguns reagem mal a “esta Igreja, que quer ir ao encontro de quem sofre”, para
superar preconceitos, “sem sentir-se perfeita”.
Tudo esta
guerrilha de palavras acontece, lembra o professor Paulo Mendes Pinto, devido à
mediatização da figura de Francisco. “Durante séculos, ninguém sabia o que o
Papa fazia ou pensava”, mas hoje ele entra-nos pela casa dentro todos os dias e
faz doutrina, se assim pudermos dizer, “não pelos documentos eclesiásticos que
promulga mas com o que diz a meio de uma viagem de avião, entre o lugar x e
y...”, nota o professor de Ciência das Religiões.
“A Igreja
Católica tem congregações e grupos com visões sociais e políticas muito
diferentes, e isso pode ser uma riqueza, mas o Vaticano terá de aprender a
trabalhar num regime mais próximo do que é uma democracia, e com mais
transparência”, defende.
“Foi João XXIII,
nos tempos modernos, o primeiro a defender que seria um bem geral sacudir a
poeira imperial que foi caindo, desde Constantino, sobre o trono de Pedro. O
Papa Francisco continua às voltas com essa herança pesada e paralisante”,
lembrava Frei Bento Domingues, num texto de opinião no Público, no mês passado.
Os ataques contra
Francisco, considera, são comparáveis às dificuldades vividas por Jesus Cristo
“ao propor uma mudança de mentalidade aos seus contemporâneos e aos membros do
povo a que pertencia” e que “encontrou uma grande adesão no mundo dos excluídos
e uma resistência implacável entre os privilegiados”. Mas, “assim como aconteceu
com Cristo”, diz Frei Bento, “nenhuma ameaça o tem paralisado”.
Para Paulo Mendes
Pinto, estas acusações de “heresia” soam a “desespero da oposição dentro do
Vaticano” e poderão mesmo ser “o seu canto de cisne”. Se assim não for,
considera, “estamos a dois passos de ter um cisma”. Porque, faz notar, “o que
está em causa não é um Papa que, durante uma homilia, diz alguma coisa 'fora da
caixa'. Toda a sua postura, todo o seu pensamento está a ser contestado”.
O Papa não se
pronunciou sobre estas acusações de forma explícita, “nem é esperado que o
faça”, considera Mendes Pinto. “Creio que estas cartas abertas e este tipo de
posições públicas, a continuarem, irão levar à convocação de um novo Concílio”,
para discutir questões doutrinais no âmbito da sexualidade e da vida familiar.
E talvez seja
mesmo essa a vontade última de Francisco: o Papa que se atreveu a reconhecer
não ter todas as respostas para os problemas do mundo e, em busca de uma Igreja
mais justa e misericordiosa, ousa questionar o seu próprio papel.
Frei Bento
Domingues responde a D. Manuel Clemente: “É um ato da teologia das palavras
cruzadas. Um delírio”
11.02.2018 às
14h00
PAULO PAIXÃO
ROSA PEDROSO LIMA
texto
Frei Bento
Domingues, de 83 anos, é uma das vozes da Igreja Católica mais presentes no
espaço mediático (tem uma coluna semanal no “Público” há mais de duas décadas),
falando sem tabus da realidade da Igreja e da relação dela com o mundo. Um
observador privilegiado para comentar a nota pastoral de D. Manuel Clemente, em
que o cardeal-patriarca de Lisboa aconselhou abstinência sexual aos católicos
recasados que se queiram reaproximar da Igreja. “Um delírio” para o frade
dominicano.
A nota do
patriarca é um passo acertado com os tempos atuais ou é um passo atrás?
É um passo que
não devia existir. É o casal quem deve decidir a sua vida íntima. Nenhum padre,
nenhum bispo, ninguém se pode intrometer. É ridículo!
O texto
representa o cardeal-patriarca de Lisboa ou o episcopado português?
Está à vista que
é a opinião dele. Já outros se pronunciaram noutra direção.
Não deviam os
bispos portugueses pronunciar-se?
Deviam fazer uma
declaração explicando que, se um casamento não correu bem, há serviços
pastorais nas dioceses para ajudar os casais, mas não propriamente sobre as
questões sexuais.
Não é preciso um
esclarecimento da Conferência Episcopal, que ainda não se pronunciou?
Isto é um ato do
bispo de Lisboa, que não é patriarca das outras dioceses. Mas havendo pessoas
que reagiram de forma muito violenta contra o Papa Francisco, os bispos que
estão em comunhão com ele e que gostam da sua orientação pastoral podiam
pronunciar-se. A Conferência Episcopal devia ter um pronunciamento de apoio às
posições, que são bastante interessantes e abertas, da pastoral do bispo de Roma.
Esta nota de D.
Manuel contraria o apelo à inclusão feito pelo Papa Francisco?
Eu acho que é um
ato da teologia das palavras cruzadas. Porque ele diz que andou a cruzar
documentos de João Paulo II, do cardeal Ratzinger e do Papa Francisco. Mas isto
não é um problema de palavras cruzadas! Ou se aceita o caminho de abertura que
o Papa Francisco abriu ou se recusa.
E estão a
recusá-lo?
A maneira como
este patriarca se pronunciou e o conselho dele parecem-me um bocado absurdos. O
que significa para um casal a abstinência sexual? A ideia peregrina que existe
há muitos anos do “viverem como irmãos”!... Então não casavam! Há coisas que
não passam pela cabeça se a pessoa começar a pensar minimamente no que está a
dizer! A meu ver, não houve orientação nenhuma, mas uma espécie de delírio
mental.
O sentido da nota
do patriarca aproxima-se mais do pensamento de João Paulo II, do de Bento XVI
ou do do Papa Francisco?
Do Papa Francisco
não. Com todo o respeito pela função de D. Manuel Clemente na Igreja de Lisboa,
o problema é que foi um ato falhado sobre algo que, em primeiro lugar, devia
remeter para consciência do casal. E com um efeito perverso: muita gente vai
pensar que isto é que é a Igreja, porque ele é que é o patriarca de Lisboa e o
presidente da Conferência Episcopal.
Será feita uma
leitura errada da nota...
Vão começar a
tirar ilações sem sentido. A Igreja é feita pelo conjunto dos cristãos. Santo
Agostinho foi fantástico ao dizer: “Convosco sou cristão, para vós sou bispo.”
O bispo de Lisboa tinha de contar primeiro que era cristão aos cristãos
casados. E, como bispo, ajudar. O que vai ficar na opinião pública é que para
os cristãos recasados o melhor é viverem em abstinência sexual. O problema é
criar-se a ideia de que a Igreja são os bispos e os padres. Isso acho triste. E
teve outro efeito: a pastoral de um bispo fixou a atenção de crentes e de não
crentes numa realidade absurda.
Esta nota
representa os católicos portugueses?
É evidente que
não. Já há bispos com outros pronunciamentos. Há pessoas encarregadas das
pastorais em dioceses [Viseu e Évora] que não se identificam com a nota do
cardeal-patriarca. O que significa que os bispos dessas dioceses já tomaram uma
orientação diferente.
REVIVER O PASSADO
DO PRÉ-VATICANO II
Frei Bento
Domingues fala com o desassombro de sempre. Em algumas das respostas, sem
mencionar D. Manuel Clemente, a crítica vai direitinha para o cardeal-patriarca
de Lisboa. Desde logo quando lembra que só no “pré- Vaticano II” vingava a
“ideia de que a Igreja são os padres e os bispos”, o que o leva a declarar que
“há pessoas que ainda estão no pré-Vaticano II”. Quanto ao resto, nomeadamente
o facto de haver opiniões diferentes entre o episcopado português, a explicação
é simples: “Os bispos são um ministério, um serviço à comunidade. Às vezes o
serviço é bom, outras vezes o serviço
não é tão bom.”
The
Guardian view on the Catholic church and child abuse: Pope Francis gets it
wrong
Editorial
His defence
of an accused bishop appears to put him on the side of the hierarchy against
the people in the pews
Sun 11 Feb
2018 18.18 GMT Last modified on Sun 11 Feb 2018 22.00 GMT
It is five
years since Pope Benedict XVI stunned the Roman Catholic world by announcing he
would resign. His time in office had been blighted by the emergence of terrible
stories of sex abuse and institutional cover-up. Even though most of these
dated from the time of his predecessors, Benedict’s efforts to make things
right were clumsy and inadequate to the scale of the problem. His successor,
Pope Francis, seemed as if he were going to change all that as part of the
openness, energy and realism that has characterised his approach. But
developments in recent weeks have cast Francis’s sincerity and seriousness into
question and threaten to overshadow many of the other accomplishments of his
papacy.
Earlier in
his pontificate, Francis had to deal with the enforced departure of one of his
closer collaborators, Cardinal George Pell, who left the Vatican to face
charges of historic child abuse, which he vigorously denies, in his native
Australia. Several members of the church’s commission for the protection of
minors, which the pope had set up, resigned in protest at the obstructionism of
some parts of the Vatican bureaucracy; but these are the parts that are thought
hostile to Francis, too, so he was not widely blamed for what happened.
All that
changed with the pope’s visit to Chile. The church there had been convulsed by
the discovery that children had been abused by an influential priest for years.
It is claimed that many other priests knew or even witnessed what was going on.
Among them was Juan Barros, whom Francis made a bishop in 2015 and installed in
a southern diocese in the teeth of furious protests from both clergy and
congregation. Bishop Barros, who denies the claims, was prominent among the
bishops who received Francis on his visit: the two men were photographed
embracing; and when Francis was asked on the flight back what he thought of the
allegations against the bishop, he replied that they were merely slander, and
that he had not seen any proof to back them up.
This was
outrageous enough. He later apologised for his language, saying it must have
come as “a slap in the face” for survivors. He has sent the Vatican’s chief
prosecutor to Chile to reinvestigate the case. But he reiterated his belief in
Bishop Barros’s innocence. Now it emerges that an eight-page letter detailing
the accusations against the bishop was handed to the pope by Cardinal Sean
O’Malley, the man in charge of relations with survivors, who is trusted by both
sides.
Either the
pope failed to read the letter or he read and then discounted it. Either
explanation must damage his reputation, and he has legions of enemies inside
the church who want to destroy him. Most of these enemies denounce him for
appealing to lay people over the heads of the priesthood, especially when it
comes to sexual morality. In the case of Bishop Barros he seems to be
committing a dreadful mistake by siding with the clergy and the establishment
over the instincts of his flock.
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