O Acordo
Mortográfico na AR
A petição
“Cidadãos contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990” é amanhã debatida na AR, bem
como um louvável projecto de Resolução do PCP.
ANTÓNIO BAGÃO
FÉLIX
20 de Fevereiro
de 2018, 6:44
A petição “Cidadãos
contra o ‘Acordo Ortográfico’ de 1990” é amanhã debatida na AR, bem como um
louvável projecto de Resolução do PCP, o único que recomenda o recesso de
Portugal do AO, outras medidas de acompanhamento e uma nova negociação das
bases e termos de um eventual Acordo Ortográfico.
Com base nesta
amálgama ortográfica, no que leio e no que até já vi ensinado (!), ficcionei um
texto-caricatura para ilustrar este absurdo na nossa língua escrita. A bold
assinalei as aberrações endógenas e toda a gama de facultatividades do AO e, em
itálico, realcei erros resultantes da total confusão do “pós-acordismo” e todos
os dias vistos nos jornais e televisões. Ei-lo:
A receção do
hotel estava cheia e o recetor não tinha mãos a medir. Agora que a recessão já
não é um fato, ninguém para o turismo. A fila era de egípcios do Egito que não
têm o “p” no nome do país porque lhes disseram que a concessão do visto
dependia da conceção do mesmo. Entre eles, alguns eram cristãos coptas, perdão
cotas.
O hotel tinha
dois restaurantes tão suntuosos quanto untuosos: o cor-de-rosa e o cor de
laranja (este sem direito a hífens), porque o diretor mandou adotar o AO. Quer
dizer, foi uma adoção sem adoçar o citrino. Os coutentes não ficaram contentes.
Um dos egípcios
(um ator atormentado) perguntou se havia produtos lácteos dos nossos
laticínios. Tudo isto por causa de um “c” que tanto faz parte, como não faz
parte do leite.
Outro dos
turistas que se havia zangado quis retratar-se e, para isso, resolveu retratar
os amigos com uma “selfie”. Um outro rececionista (semi-interno e semiletrado)
e que mais parecia um espetador, distraiu-se e picou-se num cato que, esse sim,
era um doloroso espetador. Ficou com as calças semirrotas que lhe levariam
parte do salário semilíquido.
Outro, por acaso um
cocomandante – que tinha sido corréu porque correu no Cairo que era corruto –
estava com um problema ótico e queria um médico. Tinha uma infeção que, mesmo
sem o “c”, teimava em ser infecciosa. Foi-lhe sugerido ir a um hospital. O
turista lá foi e, num dos corredores em forma de semirreta onde cruzou com um
marreta, depois de passar pelas zonas infantojuvenil e materno-infantil (outra
vez os hífens…), viu uma seta para a esquerda com “doenças óticas” e outra para
a direita também com “doenças óticas”. Coisas de arquitetos ou arquitetas.
Baralhado, virou para a direita. Foi visto por um oftalmologista quando
precisava de um otorrino para o ouvido. Lá está: caiu o “p” ocular, que já
tinha sido dispensado no auricular!”. O melhor é o míope ser surdo e vice-versa.
Por causa do
facto transformado erradamente em fato, aumentou a gama dos fatos: há o fato
tributário que assenta que nem uma luva. Há a união de fato mesmo que sem ele.
Há o fato consumado que leva a que a Crimeia seja russa de fato. Os turistas
ficaram encantados com tantos fatos no Verão.
Entretanto, foi
desligado o interrutor do elevador porque precisava de uma interrupção para uma
inspeção.
O diretor do
hotel, preocupado, fez uma reunião e ficou de elaborar uma ata que nem ata nem
desata. É que o seu corretor ortográfico também não ajudou e por isso pensou
pedir ajuda a um amigo corretor da Bolsa. Acontece que, mesmo com tato, não
encontrou logo o contato dele. Quando o conseguiu, o corretor ficou zangado
dizendo-lhe “eu cá não me pelo pelo pelo de quem para para desistir”. Houve uma
grande deceção na secção e, perentoriamente, falou-se numa rutura. No fim,
porém, feita a arimética das contas, tudo acabou num pato de afetos.
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