Depois de meses
paradas, câmara diz que obras no Hotel Netto já recomeçaram
Os trabalhos
pararam devido a um “desentendimento” entre o promotor e o empreiteiro. Com um
novo responsável pela recuperação do hotel, a autarquia garante que as obras já
recomeçaram.
CRISTIANA FARIA
MOREIRA 27 de Fevereiro de 2018, 8:12
Depois de mais de
quatro décadas votado ao abandono, há muito que a recuperação do histórico
Hotel Netto é aguardada pelos sintrenses. Há dois anos, com a venda do hotel em
hasta pública à empresa Restelo Azul, ficou a promessa de que o edifício do
século XIX seria recuperado para albergar um hotel de quatro estrelas com 34
quartos. As obras ainda arrancaram mas, meses depois, pararam, deixando a
população a questionar por quanto tempo mais as ruínas do hotel, que foi casa
do escritor Ferreira de Castro, serão uma "mancha" na paisagem que
envolve o Palácio Nacional, no centro histórico da vila de Sintra. A autarquia
diz agora que os trabalhos já recomeçaram.
Apesar da grua e
dos andaimes, ao que o PÚBLICO apurou, a recuperação do edifício está suspensa
desde Junho. “De facto os trabalhos estiveram parados durante algum tempo
devido a um desentendimento entre o promotor da obra e o empreiteiro”, disse ao
PÚBLICO fonte do gabinete de comunicação da autarquia liderada por Basílio
Horta.
O
"desentendimento" terá levado ao afastamento do anterior construtor,
estando agora os trabalhos a cargo da construtora San Jose. No local, que o
PÚBLICO visitou no final da semana passada, estão já afixadas as placas que
indicam o novo dono da obra. No entanto, não foram vistos trabalhadores. O
PÚBLICO tentou, sem sucesso, entrar em contacto com o proprietário do imóvel.
Nos últimos anos,
o edíficio com fachada horizontal, de linhas sóbrias, rasgada por longas
fileiras de janelas rectangulares e por varandas balaustradas em ferro, tem
passado de mão em mão.
No final de 2013,
a Parques de Sintra-Monte da Lua, empresa de capitais públicos da qual a
autarquia é accionista e é responsável pela gestão dos parques e monumentos de
Sintra, quis comprar, por 600 mil euros, o hotel em ruínas à empresa Tivoli
Hotels & Resorts, que o detinha. A ideia era a adaptação do antigo hotel a
uma “residência jovem/hostel, de modo a viabilizar a sua recuperação e
vitalizar o centro histórico de Sintra”. No entanto, a autarquia decidiu
exercer o direito de preferência, impedindo a aquisição da Parques de Sintra -
Monte da Lua, dirigida, na época, por António Lamas.
Na altura,
Basílio Horta, dizia à agência Lusa que a aquisição do Hotel Netto revelava que
a câmara ia "assumir as suas responsabilidades na requalificação do centro
histórico da vila de Sintra e em todo o concelho”. Porém, a autarquia nunca
avançou com as obras e acabou por decidir-se pela venda, perante o elevado
custo de manutenção da fachada.
O imóvel acabou
por ser vendido, em Março de 2016, em hasta pública, à empresa Restelo Azul –
Exploração Turística, detida pela ex-mulher do empresário Carlos Saraiva, um
dos sócios maioritários de um grupo imobiliário e turístico, onde estava
integrada a cadeia hoteleira CS que já na altura se sabia estar em situação de
insolvência e foi, mais tarde, integrada na Nau Hotels & Resorts.
O antigo hotel
foi arrematado à única proposta apresentada à hasta pública, pelo valor de um
milhão de euros. A intervenção no edifício consistiria na criação de um hotel
de quatro estrelas com 34 quartos, incluindo três suítes, num total de 68
camas.
O negócio
assentou na modalidade de pagamento diferido. Assim, a Restelo Azul pagou
apenas 20% do montante da transacção, ou seja 200 mil euros. Seriam pagos mais
30% quando a unidade abrisse portas e duas prestações de 25% aos seis meses e
após um ano da entrada em funcionamento do novo hotel, que beneficiaria de
isenção de taxas municipais por envolver a recuperação do edifício.
Numa reunião do
executivo em Novembro passado, o vereador da CDU, Pedro Ventura, questionou o
presidente da câmara sobre a paragem na empreitada. Na resposta, Basílio Horta
disse estar a acompanhar a obra “com muita preocupação”. “A obra não está
inteiramente parada, mas está a andar muito, muito devagar. Parece estar
parada, mas não está. Eu fui lá e estão a trabalhar por dentro duas pessoas.
Por aquele caminho, nunca mais o hotel Netto é arranjado. Vamos realmente ter
que intervir porque o contrato diz que se as obras não forem feitas naquele
prazo há uma resolução do contrato, eles perdem o dinheiro que já deram e nós
ficamos outra vez com o hotel”, explicou.
Questionada pelo
PÚBLICO, a autarquia garantiu estarem a ser cumpridos os prazos legais da
empreitada. No termos da adjudicação, em Julho de 2016, o promotor dispõe de 30
meses para concluir o hotel, "após emissão do alvará de construção ou
licenciamento da operação urbanística".
De acordo com a
câmara de Sintra, “encontram-se concluídas todas as demolições, executada a
contenção de fachada (uma das fases mais difíceis), contenção periférica com
execução de pregagens e parte das escavações”. O valor de obra executada até ao
momento é de aproximadamente 600 mil euros. Os trabalhos estão agora a cargo da
construtora San Jose, que estará “a trabalhar no local para concluir os
restantes trabalhos de estrutura, cobertura, alvenarias, cantarias e
revestimentos exteriores”.
O projecto prevê
a instalação da unidade hoteleira com a preservação da fachada, com 34 quartos.
O hotel, que seria de quatro estrelas, será agora uma unidade de cinco
estrelas, uma “decisão da responsabilidade da Direcção Geral de Turismo”,
sustenta a autarquia. A cumprirem-se os prazos, a recuperação do antigo Hotel
Netto terá de estar concluída no final deste ano.
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