OPINIÃO
Salvar
o clima, parar o Trump
JOÃO CAMARGO
13/11/2016 – 03:32
Nenhuma
América “Great Again” se fará sob os escombros da devastação
climática.
Começamos pelo que
se sabe: Donald Trump prometeu durante a campanha tirar os Estados
Unidos do Acordo de Paris e deixar de contribuir para os fundos das
Nações Unidas no Combate às Alterações Climáticas, fechar a
Agência de Protecção Ambiental americana, retomar projectos como o
oleoduto KeyStone XL (que cortaria os EUA para trazer petróleo das
areias betuminosas do Canadá até ao Golfo do México) e cancelar o
Plano de Energia Limpa de Obama. Segundo Trump, as alterações
climáticas são uma invenção da China para prejudicar as
exportações dos EUA.
No meio desta
informação decorre a Cimeira do Clima, em Marraquexe, a COP-22 que
tem como objectivo tornar o Acordo de Paris em algo concreto. Partes,
representantes e observadores em Marrocos não escondem a sua
apreensão: os EUA são o maior produtor mundial de combustíveis
fósseis, desde o início da revolução do fracking. São também o
segundo maior emissor de gases. Um abandono do acordo, difícil de
conseguir porque foi ratificado por Obama, faria com que a base de
acção ficasse ainda mais reduzida. Sem saber exactamente o que
fazer, os participantes da cimeira continuam o processo, a negociação
para efectivar o acordo, para torná-lo mais vinculativo e reduzir
mais as propostas dos países, para garantir a transferência de
milhares de milhões de euros dos países ricos para os mais
afectados pela radical mudança climática, para contabilizar
efectivamente as emissões de dióxido de carbono.
Falta o que não se
sabe: por estes dias Trump rodeia-se de um enxame de lobistas da
finança, das farmacêuticas, das armas, das petrolíferas, para
distribuir lugares no executivo e para construir uma mundivisão mais
clara para o seu mandato, mas quando reunir com a NASA não haverá
debate sobre as alterações climáticas, quando reunir com o
Pentágono ser-lhe-á dito que, acredite ou não, já são
consideradas uma das principais ameaças à segurança nacional nos
EUA. De que serve isso? Obama sabia-o e admitia-o mas, como W. Bush,
considerou ou pelo menos agiu como se o estilo de vida americano não
fosse negociável. Os EUA afastam-se da China (o maior emissor de
gases com efeito de estufa) com quem assinaram há poucos meses o
Acordo de Paris e aproximam-se da Rússia (2º produtor mundial de
fósseis e 5º maior emissor de gases com efeito de estufa), que nem
sequer ratificou o acordo.
Nenhuma América
“Great Again” se fará sob os escombros da devastação
climática. Não se sabe se Trump sabe disso, não se sabe se é real
ou propaganda a sua posição sobre as alterações climáticas,
depois da campanha vista e da ausência do tema dos debates, mas os
fenómenos climáticos extremos em território americano agravaram
nos últimos anos, com os furacões Katrina, Sandy e Ike, as cheias
no Louisiana, e no Midwest, a seca na Califórnia e os incêndios
florestais no Alasca, e continuarão.
Fica a lição, para
a governança mundial que pretende um acordo climático para salvar
os seres humanos que vivem na Terra, mas também para todos os
activistas e pessoas preocupadas: a negação de factos já não é
razão para se perder debates ou sequer para perder a eleição para
o cargo mais poderoso do planeta. Além de ter razão, é preciso ter
muita força. Ontem nas ruas em Portugal defendeu-se a espécie
humana na Terra: Salvar o Clima, Travar o Petróleo. Parar as
concessões de gás e petróleo no país. Hoje sai-se à rua em
Marraquexe para pedir que, frente à gigante contrariedade que é a
eleição de Trump, se tenha muito mais força. Precisamos dela, não
para salvar o planeta, que continuará a existir. Precisamos dessa
força para salvar a Humanidade.
Engenheiro de
Ambiente
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