O
turismo pode trazer problemas, mas Lisboa e Porto não o reconhecem
Autarcas
criticados por pouco ou nada fazerem para impedir a descaracterização
das cidades num debate sobre património organizado pelo Icomos, no
Porto
26 de Novembro de
2016, 0:24
O mote era a
classificação do Porto como património da Unesco, há 20 anos. Mas
mais do que festejar a data, a comissão portuguesa do Icomos -
Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios queria debater “O
Processo de Turistificação de uma Cidade Património Mundial” e o
que na tarde desta sexta-feira se ouviu, no Ateneu Comercial do
Porto, foi uma denúncia dos efeitos nefastos do turismo de massas no
Porto e em Lisboa, acompanhadas por um apelo aos autarcas das duas
cidades, para que tomem consciência destes impactos e promovam
medidas para os mitigar. Medidas essas que já serão, em muitos
aspectos, apenas reactivas, alertou o sociólogo João Queiroz.
O arquitecto Pedro
Bismark, outro dos convidados para esta sessão, elencou na sua
intervenção “treze tristes teses sobre o turismo”, sendo uma
delas a de que o turismo, na sua voracidade, destrói aquilo de que
se alimenta, seja ela a autencidade social, arquitectónica ou outra,
de um lugar. Num artigo de opinião no PÚBLICO, A coordenadora deste
encontro, Maria Ramalho, já tinha alertado que, depois de ter
destruído frentes de mar por esse país fora, o ímpeto turístico -
que não dissocia do imobiliário - está a atingir o coração das
cidades, principalmente das mais antigas e acessiveis por meios de
deslocação low-cost, a uma velocidade “estonteante”. Ao
contrário de Veneza ou Barcelona, onde os problemas se foram
agudizando ao longo de anos e anos, estamos numa fase em que tudo
acontece mais rapidamente, insistiu.
O sociólogo João
Queiroz aludiu às dificuldades que se colocam a quem, como ele,
pretenda investigar os impactos do turismo num dado território.
Dificuldades que se prendem com o défice de financiamento do sistema
científico mas também, vincou, com a inexistência de dados
estatísticos acualizados, que permitam uma leitura atempada de
alguns indicadores. O Censos 2011 já lá vai há cinco anos, mas,
avisou, 2021 pode ser tarde demais para reverter alguns efeitos, como
o afastamento de populações de menores recursos económicos dos
centros históricos, situação já reportada em Setembro em Alfama,
Lisboa, pelo presidente da Junta de Santa Maria Maior.
O governo já
anunciou que vai aumentar a carga fiscal do alojamento local, como
forma de eliminar uma vantagem competitiva deste tipo de negócio
face ao alojamento de longa duração. Os proprietários têm
respondido ao aumento da procura de quartos e casas em zonas
históricas, e segundo João Queiroz, o peso da oferta de
apartamentos para o conhecido site de alojamento Airbnb é maior na
zona histórica do porto do que resto da cidade, havendo queixas de
moradores de aumento de preços de bens essenciais vendidos no
comércio local. E a isto acrescentou, soma-se o já conhecido
aumento do preço das rendas e do custo dos imóveis para venda que
contribuem para um efeito de mudança do tecido social destes espaços
históricos.
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